Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

Muitas vezes a imprensa estrangeira pode ser um bom barómetro para medir realidades que o afunilar de conhecimento passado e do contexto de Seleção têm tendência para desfocar. E o que perguntava a imprensa estrangeira? Porque razão estava Ronaldo no banco. Todos (ou a maioria, vá) podiam ter noção que não está a atravessar o melhor momento e que os primeiros jogos no Mundial não foram propriamente as melhores exibições que fez mas também de fora a ideia formatada que existia era que o avançado, tal como Messi ou Neymar entre outros, tinha uma espécie de lugar cativo na equipa. “Mas está lesionado ou a ser poupado?”, ainda nos chegaram a perguntar. Não, houve aquela questão da substituição mas sobretudo era uma opção técnica. E o espanto, reproduzido apenas pela expressão facial, contava o resto da história.

Primeiro a surpresa, depois o “choque”. Durante o período de aquecimento, e continuando a ser de longe o mais saudado entre todos os jogadores mesmo sendo anunciado no Estádio Lusail como suplente, Ronaldo esteve quase como aquelas pessoas que entram numa nova realidade e como que não sabem o que fazer, onde fazer e como fazer. Assim, por exemplo, enquanto todos os restantes suplentes trocavam a bola no lado esquerdo do campo, o número 7 estava a olhar para o aquecimento dos elementos que iam ser titulares como se tratasse quase de um dos adjuntos de Paulo Bento. Ainda fez as delícias de crianças à chegada e saída do balneário, foi para o banco, teve aquele habitual batalhão de fotógrafos virado para si e não para a frente, foi alvo de mais uma ovação quando apareceu a cantar o hino. Jogando ou não, é Ronaldo.

Ao contrário de João Cancelo, que nem sequer se levantou do banco nos golos nacionais, o capitão fez como os restantes e festejou os remates certeiros sucessivos de uma goleada que se começou a construir de forma natural. Perto do último quarto de hora foi chamado por Fernando Santos, não tendo ainda sequer entrado envergando no braço a braçadeira que Pepe fez questão de lhe passar. Ainda marcou um golo anulado por fora de jogo, esteve perto numa outra situação, cumprimentou todos os companheiros e adversários no final da partida e foi o primeiro a dirigir-se para o túnel de acesso aos balneários.

Na zona mista, onde surgiram jornalistas da Arábia Saudita ou do Iraque só para saber sobre essa hipótese tão falada de rumar ao Al Nassr, Ronaldo, que foi em passo acelerado, teve apenas três intervenções ao longo do percurso. Primeiro, ainda na zona das televisões e perante a questão da CNN Portugal sobre esse acordo que estaria fechado, o capitão disse apenas “Não, não é verdade”. Depois, perante a insistência dos brasileiros presentes, referiu de forma rápida “Brasil? Então olha, as melhoras para o Pelé”. Mais tarde, que é como quem diz uns ziguezagues à frente, parou alguns segundos só para reforçar essa mensagem para o astro brasileiro: “As melhoras, melhoras ao Pelé. O nosso Rei tem que melhorar. É tudo que desejamos”.

Mais tarde, numa mensagem partilhadas nas redes sociais com duas imagens onde surgia a comemorar os golos , Ronaldo elogiou a exibição nacional perante a goleada com a Suíça : “Dia incrível para Portugal, com um resultado histórico no maior certame do futebol mundial. Exibição de luxo de uma equipa repleta de talento e juventude. A nossa Seleção está de parabéns. O sonho está vivo! Até ao fim! Força, Portugal”.

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