“Fiquei agradavelmente surpreendido com o número 8, não me consigo lembrar qual é o nome, desculpem. Meu Deus! De onde é que saiu aquele rapaz? Ele joga muito bem”. Quando proferiu esta declaração, na passada quarta-feira, Luis Enrique (ainda) era selecionador de Espanha e tinha acabado de ser derrotado por uma equipa de Marrocos que se faz valer de um coletivo forte mas pontuado de estrelas. Uma delas é Azzedine Ounahi, um jovem jogador de 22 anos, que há dois jogava na terceira divisão de França e que, em criança, tinha como ídolo o antigo jogador do Barcelona Andrés Iniesta.
Tal como o agora ex-treinador da La Roja, a maior parte dos adeptos de futebol só terá descoberto Ounahi este Campeonato do Mundo. O jogador aproveitou o maior palco do mundo para continuar a construir a sua história “encantada” e o jogo frente a Espanha é um exemplo, como mostram as estatísticas do El Español: 76% de precisão no passe (fez 32 corretos), ganhou 7 em 10 duelos e recuperou nove bolas. Além disso, percorreu 14,71 km durante os 119 minutos que jogou frente a Espanha. Na verdade, a capacidade física é uma das suas características mais marcantes. Em média, percorre entre 12 e 13 km por jogo e é dele o recorde da edição 2021/2022 da liga francesa, 13,94 km na partida frente ao Marselha.
O médio do SCO Angers, último classificado da Ligue 1, tem 4 jogos e 355 minutos disputados no torneio do Qatar em 390 possíveis. E é o primeiro a ficar surpreendido com a sua presença no Qatar, como confessou em declarações à FIFA: “O que me aconteceu é incrível. Há um ano, estava a jogar na terceira divisão francesa. Nunca imaginei estar a jogar um Mundial agora.”
Da academia de inspiração francesa ao estrelato
O jogador mais jovem da equipe titular de Walid Regragui é um produto da Academia Mohammed VI, que procurou copiar o modelo francês de Clairefontaine e da qual a equipa marroquina está a usufruir nesta competição – o próprio Ounahi, o central Aguerd e o avançado En-Nesyri são um produto dessa estrutura.
Aos 18 anos, já com Andrés Iniesta como ídolo, assinou pelo Estrasburgo, mas não se chegou a estrear pela equipa principal e o destino foi o Avranches da terceira divisão do futebol francês. Marcou 5 golos em 27 jogos e, com isso, “escancarou” a porta da Ligue 1, deixando a Normandia apenas um ano depois de ter chegado. Assinou então com o SCO Angers e rapidamente se tornou um dos jogadores-chave, como provam os números da primeira temporada: 32 jogos, dois golos e duas assistências.
Apesar da juventude, a verdade é que o Mundial do Qatar não é a primeira grande competição de Ounahi. A sua qualidade chamou a atenção de Vahid Halilhodzic e o então selecionador de Marrocos convocou o médio para a Taça das Nações Africanas de 2021. Na altura, jogou a fase de grupos, mas não foi titular no “mata-mata”. Marrocos caiu nos quartos de final frente ao Egitpto e o objetivo seguinte foi o apuramento para o Qatar. E quem foi a estrela da partida decisiva? Suplente na primeira-mão da eliminatória frente à República Democrática do Congo, foi titular no segundo jogo. Marcou dois golos e fez uma assistência na vitória por 4-1.