“É um dos maiores jogadores de todos os tempos, tanto na Europa como no mundo.” O elogio (feito em 2021) é do selecionador francês, Didier Deschamps. O “alvo” aquele que para muitos está a ser o melhor jogador dos “bleus” no Qatar: Antoine Griezmann. Isto apesar de todos as atenções estarem centrados na mega estrela da seleção e do PSG, Kylian Mbappé.

O jogador do Atlético de Madrid tem funcionado como um joker na seleção de França e é um elemento absolutamente fundamental na caminhada da equipa de Deschamps até à final deste domingo, frente à Argentina. Mesmo que as estatísticas possam dar a entender o contrário.

Trinco-médio-avançado: “Griezmannkante” faz tudo

No Qatar, o papel de Griezmann está longe de ser idêntico ao que desempenhou, por exemplo, no Mundial de 2018 que os franceses conquistaram. Na Rússia, o avançado marcou quatro golos – três deles já na fase do “mata-mata”, altura em que também fez duas assistências. Este ano, o jogador do Atlético de Madrid tem três assistências e nenhum golo. Mas tem outros dados que demonstram que se tornou um jogador omnipresente, cujo trabalho começa a trinco, envolve ser médio e termina na frente de ataque.

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Segundo o Globo, na partida contra Marrocos, na qual foi eleito o melhor em campo – mesmo não sendo autor de nenhum golo, nem tendo feito nenhuma assistência na vitória francesa por 2-0-, Griezmann tocou 48 vezes na bola em todas as zonas do relvado. Além disso, 88% dos passes no último terço do campo chegaram ao destinatário. Já contra Inglaterra, partida em que fez dois países decisivos para golo, realizou 101 pressões defensivas. Ou seja, tanto faz a ligação com Mbappé, Dembélé e Giroud, como está na primeira linha da defesa.

Não é por isso estranho que Paul Pogba, ausente do Mundial por lesão, tenha elogiado o colega de seleção com uma comparação entre Griezmann e N’Golo Kanté, poderoso médio francês do Chelsea, que se distingue, entre outras coisas, pela pressão defensiva e pelas recuperações de bola. “Griezmannkante”, escreveu numa publicação nas redes sociais.

Na véspera da partida contra Marrocos, Deschamps já deixara (mais um) elogio ao seu jogador, às suas características e à sua prestação no Mundial. “Ele tem tanto prazer em fazer um desarme, como em fazer uma assistência. Com o pé esquerdo, ele tem capacidade de iluminar o jogo. Sempre pensou coletivamente, tem uma generosidade acima da média”.

É possível que tenham sido estas as características que levaram o selecionador francês a escolher Griezmann, um jogador com uma interpretação de jogo acima da média, para este papel de “faz tudo” no meio-campo e assim ajudar a combater as ausências dos lesionados Pogba e Kanté. Além disso, como refere o Globo, o avançado francês é sinal de estabilidade nos “bleus”: esteve em campo nas últimas 73 partidas consecutivas de França, mais do que o ciclo entre os Mundiais de 2018 e 2022. Jogou em todas as 18 partidas dos gauleses nos Campeonatos do Mundo de 2014, 2018 e 2022. A última vez que não entrou em campo num jogo da seleção francesa foi num particular frente a Inglaterra (vitória por 3-2) em junho de 2017.

A exibição frente a esta mesma seleção, mas no Qatar, colocou-o na história do futebol francês. As assistências na partida frente aos britânicos para os quartos de final do torneio permitiram-lhe ultrapassar duas outras lendas gaulesas, Thierry Henry e Zinedine Zidane, como jogador com mais assistências – 28 em 115 internacionalizações.

Os jogos a conta-gotas no Atletico de Madrid

A campanha no Campeonato do Mundo do Qatar chega depois de um início de temporada bastante atribulado e inusitado. Começou a época como jogador emprestado ao Atlético de Madrid pelo Barcelona, que o comprara aos colchoneros por 120 milhões em 2019.

No entanto, a sua utilização por parte de Diego Simeone tinha que ser gerida a conta-gotas. Uma cláusula do contrato de empréstimo determinava que se Griezmann jogasse durante mais de 45 minutos em 50%, ou mais, dos jogos do Atlético de Madrid realizados entre julho de 2021 e junho de 2023, a equipa de Madrid seria obrigada a contratar em definitivo o jogador, mediante o pagamento de 40 M€ ao Barcelona. Ainda que a entrar quase sempre depois dos 60 minutos, o avançado marcou três golos em 11 partidas durante o período controverso. Um deles foi contra o FC Porto, na estreia no Grupo B da Champions, aos 90+10 minutos, e deu a vitória aos espanhóis.

A novela terminou com o anúncio da contratação de Griezmann pelo Atlético de Madrid a 10 de outubro passado. Aos 31 anos, o avançado custou 20 milhões de euros aos colchoneros, acrescidos de quatro milhões em função da concretização de objetivos, e o vínculo dura até 2026. Uns dias mais tarde, após ter marcado o golo da vitória frente ao Athletic Bilbao, o francês pediu desculpas aos adeptos do Atlético… pela maneira como deixou o clube no verão de 2019.

“Tenho muito orgulho de ter renovado e de ser completamente do Atlético. Quero pedir desculpa, porque sei que muita gente quer ouvir isto da minha boca: peço desculpa por toda a dor que possa ter causado às pessoas, mas a melhor forma de pedir perdão é em campo, dando tudo pela equipa em noites como estas“, disse na ocasião. “Quero ajudar a equipa, tento dar o máximo, quer jogue a titular, quer seja suplente. E amanhã estarei feliz porque o meu filho vai perguntar-se se marquei e poderei dizer-lhe que sim.”

Raízes portuguesas e uma vida colchonera

O argentino Diego Simeone é um apreciador do francês Griezmann e não é de agora. Há quatro anos, logo após o Mundial na Rússia, exaltou as qualidades do seu avançado, considerando-o o grande responsável pelo título francês. “É um jogador importante numa equipa que precisa de ser campeã – tanto na França quanto no Atlético. Ele sabe exatamente quando escolher os momentos decisivos. Quando está inspirado e fisicamente em forma, não há ninguém no mundo que possa entender e interpretar o futebol como ele”, defendeu.

Nascido na cidade francesa de Macôn, Griezmann tem raízes alemãs do lado do pai, Alain, e portuguesas por parte da mãe, Isabelle, filha de um antigo guarda-redes do P. Ferreira, Amaro Lopes. Aliás, era recorrente o jogador de 27 anos vir no Verão de férias para o nosso País, o que colocou até em equação a possibilidade de representar a Seleção Nacional nas camadas jovens.

Depois de ter começado a carreira nos modestos Mâcon e Mâconnais, mudou-se com 14 anos para Espanha, após dar nas vistas num jogo treino de captação em Paris pelo Montpellier, acabando a formação e estreando-se como sénior no País Basco pela Real Sociedad (esteve na equipa principal cinco temporadas) e passando para o Atl. Madrid em 2014 por cerca de 30 milhões de euros. Os colchoneros são o clube da sua vida (intercalados pela estadia na Catalunha): com as duas passagens, são sete anos na equipa de Madrid. Agora, quer regressar à capital espanhola como bicampeão do Mundo.