Responsáveis do ensino superior defenderam esta quarta-feira que a educação e a formação são importantes para o desenvolvimento económico, mas cabe à economia desenvolver estratégias para reter o talento em Portugal.

A ideia foi deixada num debate que juntou três responsáveis do setor sob o tema “Educação, Ciência e Saúde: Lições Aprendidas e Desafios do Futuro”, durante o Encontro Anual do Conselho da Diáspora Portuguesa, que está a decorrer esta quarta-feira no Palácio da Cidadela, em Cascais.

“Não basta educar para as coisas mudarem. As economias têm de se preparar para absorver esse talento, para ter projetos ambiciosos e o país tem de ter estratégias que façam com que essas pessoas tenham vontade de mudar e de voltar para contribuir”, disse o diretor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE).

A propósito da necessidade de reter no mercado de trabalho português os alunos portugueses e estrangeiros, Daniel Traça começou por considerar que a exportação de talento também faz parte da construção de uma rede portuguesa pelo mundo e que “o desafio é assegurar que essa rede traz valor para a escola e para Portugal”.

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Mas esse retorno, acrescentou, cabe sobretudo à economia portuguesa assegurar, com um projeto que “seja capaz de atrair o talento e de fixá-lo cá”.

António Cunha, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte, concorda com esta visão e sublinhou que “ter o melhor capital humano a chegar ao ensino superior não é suficiente para fazer a reforma, mas é essencialmente essencial”.

A este propósito, e quando questionado sobre o perfil de competências dos alunos quando chegam às universidades, Daniel Traça acrescentou que as gerações mais novas têm expectativas diferentes e estão “muito pouco disponíveis para esperar por um futuro”.

Quem tem de mudar são os empregadores. Têm de perceber como é que animam esta geração que quer sentir crescimento rápido, projetos de sucesso, impacto naquilo que está a fazer. O talento está lá, eles trabalham o que for preciso, mas têm de ser inspirados e motivados para o fazerem, porque não o fazem em nome de uma carreira que surgirá daqui a 10 ou 15 anos”, explicou.

Por outro lado, o diretor da Nova SBE considerou também que se trata de uma “geração demasiado académica” e criticou, desde logo, o modelo de acesso ao ensino superior, assente apenas nos resultados académicos, ignorando outras competências essenciais “para aquilo que significa ter sucesso”.

Ao longo do debate, António Cunha, que é também ex-reitor da Universidade do Minho, apontou a necessidade de as instituições cooperarem e competirem, enquanto o próprio sistema assegura a possibilidade de se diferenciarem.

Devemos resistir à tentação, que por vezes temos tido no passado, de normalizar excessivamente e segmentar as universidades”, argumentou.

Sobre a cooperação entre as instituições de ensino superior, a reitora da Universidade Católica Portuguesa defendeu que as universidades portuguesas estão, sobretudo, a competir com as homólogas internacionais.

“Ou nós nos entendemos verdadeiramente, ou o reduzido talento que a diminuição demográfica está a evidenciar vai escapulir-se para outras geografias”, alertou.

Isabel Capeloa Gil comentou também o tema da igualdade de oportunidades no ensino superior e, apesar do balanço positivo quanto à paridade de género no acesso, disse que há ainda um caminho longo a percorrer quando se olha para o topo da carreira.

“Somos um país muito diferente, mas, se calhar, o progresso não foi ainda aquele que é absolutamente necessário”, afirmou, acrescentando que, sobretudo, em termos sociais, o acesso ao ensino superior não é paritário.