Primeiro, o conhecimento de uma equipa que a Seleção tinha defrontado cinco vezes em competições oficiais desde 2020 (Islândia). Depois, a proximidade de um adversário que tinha como treinador um português e antigo selecionador (Rolando Freitas, da Coreia do Sul). Agora, os pontos de contacto com uma formação que tem jogadores nacionais a atuar na sua liga e um treinador que dirige uma formação portuguesa (Chema Rodríguez, do Benfica). De uma forma ou outra Portugal foi encontrando opositores no Mundial que traziam recordações de duelos passados ou memórias presentes. A próxima, no fecho da primeira fase da prova, era a Hungria, a quem a Seleção ganhou no Europeu de 2020 mas com quem perdeu no Europeu de 2022. E era um encontro que, mesmo com as duas equipas qualificadas ou em vias de para a main round, ganhava um redobrado peso tendo em conta o número de pontos que transitavam para a fase seguinte.

Sem o selecionador Paulo, sem problema: Portugal goleia Coreia do Sul e fica mais perto da main round do Mundial

Depois da derrota inaugural com a Islândia e a goleada à Coreia do Sul, Portugal necessitava apenas de um ponto para garantir em termos matemáticos a passagem à próxima ronda da competição mas procurava a vitória que lhe valesse uma entrada com dois pontos na main round, sendo que um triunfo com margem mais folgada poderia ainda valer o primeiro lugar no grupo D e uma melhor condição de acesso aos jogos seguintes. E era nisso que Miguel Martins, jogador que atua na liga húngara, projetava no lançamento de uma partida que seria de estreia para Paulo Jorge Pereira no banco após dois jogos de castigo mas que acabou por ser mais uma vez para Paulo Fidalgo por mais uma sanção ao número 1 da equipa técnica, neste caso por suspeitas e alegadas provas de comunicação da bancada para o banco com a Islândia.

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Andar sempre atrás a falhar o passo em frente: Portugal perde com a Islândia no arranque do Mundial

“O jogo com a Hungria vai ser muito difícil e temos que o encarar como uma final porque perdendo podemos não conseguir chegar mais à frente na main round. Depois de ganharem à Islândia, vão fazer tudo para vencer e passar à fase seguinte com quatro pontos, para chegarem mais à frente. São também duas equipas com o ego ferido pelo que aconteceu no Euro-2022. A Hungria tem um estilo de jogo completamente diferente do da Coreia do Sul, com jogadores muito fortes, uma defesa que não vai sair dos seis metros e que irá obrigar a Seleção a atirar de fora”, explicou o antigo central do FC Porto que joga no Pick Szeged.

Miguel Martins encara jogo com a Hungria como uma final no Mundial de andebol

“Acho que o segredo estará na nossa defesa. Conseguir defender o ataque deles, anular o pivô e travar os remates de primeira linha dos laterais esquerdos, que são os que atiram melhor, e fazer contra-ataque. Sete golos de vantagem? Temos que pensar primeiro em ganhar o jogo e depois no goal average que pode ser importante se conseguirmos ganhar por sete ou mais. Apesar de ser um resultado difícil, tentaremos fazê-lo. O regresso ao banco do selecionador será sempre melhor também para a equipa. Companheiros de equipa? Há sempre conversas, provocações e apostas de jantares mas todos conhecemos a qualidade de cada um e posso transmitir informação aos meus companheiros de Seleção”, acrescentou Miguel Martins ainda antes de saber que Paulo Jorge Pereira veria do hotel um jogo em alguns momentos quase perfeito.

Depois de mais de dois minutos sem golos com duas grandes intervenções de Miguel Espinha e logo com um cartão vermelho para um defensor dos magiares (Adrian Sipos), foi Portugal a inaugurar o marcador com um remate de ponta de Leonel Fernandes a que se seguiu outro golo de André Gomes e o 2-1 por parte de Bence (6′). O início tinha sido bom mas a “normalidade” como em qualquer jogo de andebol entre duas equipas competitivas e equilibradas parecia resposta. Afinal não. Muito longe disso. E aquilo que aconteceu nos primeiros 20 minutos foi provavelmente um dos períodos em jogos de fases finais mais conseguidos de sempre da Seleção: Espinha fez oito defesas, quase todos os ataques nacionais foram convertidos, Chema Rodríguez teve de parar duas vezes o encontro e Portugal ganhava por impensáveis… 10-2.

O selecionador magiar apostou quase numa estratégia kamikaze em termos ofensivos com a utilização de três pivôs em simultâneo em alguns momentos de ataque 7×6, conseguindo reduzir para 10-4 antes de novo disparar no resultado pela Seleção que chegou mesmo a ter uma vantagem máxima de nove golos. Depois, e até ao intervalo, as coisas foram normalizando mas nem mesmo com um remate certeiro de segunda linha em cima dos 30 minutos Portugal perdeu aquilo que seria o cenário perfeito para este encontro que fechava a primeira fase do Campeonato do Mundo: alcançar sete ou mais golos de vantagem (16-9).

A Seleção tinha na mão a possibilidade de chegar à main round no primeiro lugar, algo que à partida seria uma missão muito complicada mas que estava alcançada apenas em 30 minutos. No entanto, e como era já expectável, a Hungria reagiu. Na melhor fase, aproveitando também uma exclusão a Cavalcanti e dois livres de sete metros falhados, encurtou para seis a desvantagem. Ainda assim, nem tudo tinha mudado. Porque havia um Miguel Espinha gigante na baliza (15 defesas, com 45% de eficácia), porque os magiares continuaram desastrados no ataque, porque Francisco Costa, Miguel Martins ou Luís Frade encontravam soluções para tudo. E foi assim que a Seleção entrou nos últimos dez minutos a ganhar por 24-15, com alguns erros no ataque a equilibrarem o jogo até a um final de nervos com um triunfo por 27-20.

Na próxima fase, que terá Portugal a partir com dois pontos pela vitória diante da Hungria e a derrota com a Islândia, a Seleção vai defrontar a Suécia, o Brasil e Cabo Verde, primeiro, segundo e terceiro classificados do grupo C, respetivamente. Os dois primeiros ficam qualificados para os quartos da competição.