Três anos, três marcos, uma quase inevitabilidade para as três competições seguintes. A fantástica campanha da Seleção de andebol no Campeonato da Europa de 2020, onde bateu equipas como a França ou a Suécia até a um inédito sexto lugar na competição com quatro vitórias em oito partidas realizadas, funcionou como alavanca para mais caminhadas históricas em grandes competições como o décimo posto no Mundial de 2021 ou a primeira presença de sempre numa edição dos Jogos Olímpicos em Tóquio. O último Europeu na Hungria e na Eslováquia não correu da melhor forma, com três derrotas noutras tantos encontros, mas nem por isso a fasquia desta geração desceu. Não devia descer. Não podia descer. E não desceu mesmo.

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“A meta é melhorar a classificação máxima num Mundial, que também foi nossa, o décimo lugar em 2021. Já é uma meta ambiciosa. Concretizado, assumiremos outra. Ainda que não esteja claro até que posição, este Mundial também apura para os pré-olímpicos, mas essas contas não vale a pena fazer porque se não chegarmos ao main round é perder tempo. Porquê ambiciosa? A Islândia, em termos ofensivos, posiciona-se entre as melhores equipas do mundo, basta ver os jogos do Magdeburgo e até do [Aron] Pálmarsson no Aalborg. Com a Hungria batemo-nos mas qualquer um pode ganhar. A Coreia do Sul baseia o jogo no 1×1 e isso é sempre complicado para nós”, resumira há três semanas, na parte inicial de preparação para a prova que teve também a participação na Gjensidige Cup, com uma derrota pesada com a Noruega antes de dois triunfos com EUA e Brasil. Agora, para Portugal, começava a sério. E com um aviso de véspera.

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Apesar de partir com claro favoritismo teórico, e mesmo jogando fora, a França sentiu grandes problemas frente à Polónia no encontro inaugural do Campeonato do Mundo, vencendo por 26-24 após ter saído para o intervalo com um golo de vantagem (14-13). Era esse equilíbrio que Portugal procurava na estreia frente à Islândia, velha conhecida com quem a Seleção perdeu no Europeu de 2020 (28-25), na qualificação do Euro-2022 (32-23) e no Europeu de 2022 (28-24) mas também ganhou na qualificação do Euro-2022 (26-24) e no Mundial de 2021 (25-23). Mais do que isso, era na capacidade de travar o jogo ofensivo dos islandeses que entroncava o grande desafio dos Heróis do Mar no início de mais uma fase final seguida.

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“Em termos ofensivos são muito fortes. Têm dois jogadores do Magdeburgo, o central Gisli Kristiánsson e o lateral direito Ómar Ingi, mais o Aron Pálmarsson, que jogou no Barcelona, e um projeto muito ambicioso. Estamos a fazer uma boa preparação para entrarmos bem neste primeiro jogo, que não irá decidir o que vai acontecer no final. Mesmo se perdemos com a Islândia teremos duas opções para lutar pela qualificação para a fase seguinte e continuar em prova. Têm jogadores nos principais campeonatos do mundo e conhecem-nos bem porque temos jogado muitas vezes mas nós também conhecemos. Nos últimos anos tem havido equilíbrio, eles ganharam três vezes e nós duas”, resumira na véspera o selecionador Paulo Jorge Pereira, que iria cumprir o primeiro de dois jogos de castigo deixando o papel principal para Paulo Fidalgo, quase que tirando a pressão da equipa mas sem deixar cair a esperança numa vitória. Aquele que era o ligeiro favoritismo islandês acabou mesmo por confirmar-se, ficando a ideia de que Portugal poderia ter feito mais.

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O encontro não começou propriamente da melhor forma para Portugal, não só pelas dificuldades sentidas para travar as ações ofensivas sobretudo de Aron Pálmarsson entre lateral e central mas também por tudo o que a Islândia conseguia fazer no plano defensivo a contrariar o ataque organizado da Seleção. Assim, e após um início equilibrado (2-2), os escandinavos dispararam num parcial de 4-0 alcançado com uma exclusão a Alexandre Cavalcanti. Era o período mais complicado de uma equipa sem o principal timoneiro no banco, foi aí também que Portugal conseguiu dar a primeira resposta tendo Pedro Portela como principal protagonista (sete golos só no primeiro tempo), voltando a empatar o jogo a sete antes de um desconto de tempo.

Paulo Fidalgo ia procurando outras soluções na defesa e no ataque, percebendo também que a Islândia ia sentindo problemas quando Portugal conseguia evitar os ataques rápidos que foram dando alguns golos fáceis ao adversário. De forma quase “natural” perante aquilo que se via, a Seleção foi andando atrás no resultado mas nunca perdendo a ligação ao resultado, nem mesmo quando um erro técnico no banco deu a bola aos escandinavos com dois golos de vantagem e mais um elemento em campo – e com Miguel Espinha na baliza em vez de Manuel Gaspar (quatro defesas em meia parte daquele que foi hoje número 2 na baliza) Portugal voltou mesmo a empatar a cinco segundos do intervalo num livre de sete metros (15-15).

Ficava tudo em aberto para a segunda meia hora de um jogo onde a Seleção nunca tinha estado na frente do marcador apesar de ter algumas oportunidades falhadas para isso (e logo após o intervalo também, com um remate de Iturriza a acertar no poste). E houve mais um daqueles momentos em que a Islândia parecia estar a disparar de vez, com três golos de vantagem a jogar com mais dois elementos após um cartão vermelho “forçado” a Fábio Magalhães (21-18). Mais uma vez, a redenção surgiu pouco depois, com mais um parcial de 3-0 que levou tudo empatado para a decisão nos dez minutos finais. No entanto, à quarta foi mesmo de vez e nem a jogar 7×6 nos últimos quatro minutos Portugal conseguiu anular a desvantagem (30-26).