A TAP vai pedir uma auditoria externa e independente aos pagamentos a trabalhadores e administradores que saíram da empresa. O anúncio foi feito depois de ter sido noticiado o pagamento de 1,2 milhões de euros como compensação de saída a uma diretora da TAP no final de 2017 quando a gestão da empresa era controlada pelos acionistas privados. Este pagamento foi revelado por Miguel Relvas, antigo dirigente do PSD, num comentário na quarta-feira à noite na CNN. Já esta manhã o canal noticiou que o pacote de saída tinha sido pago a Teresa Lopes, então vice-presidente da área financeira da empresa, num acordo que foi fechado no tempo em que os acionistas privados — David Neeleman e Humberto — tinham o controlo da gestão da TAP.
Teresa Lopes, que chegou a ser administradora financeira da TAP durante a presidência de Fernando Pinto e quando a empresa era pública, tinha muitos anos de casa quando saiu — mais de 30 anos —, o que foi considerado no pacote de compensação.
No entanto, Teresa Lopes manteve uma colaboração com a TAP — ainda controlada pela gestão privada — enquanto consultora, que só terá terminado no início de 2020 quando Antonoaldo Neves ainda estava à frente da comissão executiva. Aliás o seu Linkedin indica que foi vice-diretora para a área financeira da TAP até março de 2020, não obstante as várias fontes indicarem que o acordo de rescisão foi assinado em 2017.
Essa é uma das circunstâncias que a atual gestão da TAP quer esclarecer na auditoria agora anunciada. O caso não foi referido por Christine Ourmières-Widener durante a audição no Parlamento porque não seria do conhecimento da atual presidente executiva — Teresa Lopes saiu como quadro da TAP e não como administradora. A CEO referiu apenas o caso do próprio Antonoaldo Neves.
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De acordo com informação recolhida pelo Observador, Teresa Lopes era um quadro com grande credibilidade na empresa e experiência em financiamento, cuja colaboração foi considerada vantajosa na preparação e colocação das duas emissões de dívida realizadas pela TAP em 2019. Terá sido esse um dos trabalhos que realizou ao abrigo da referida consultoria.
Teresa Lopes foi nomeada administradora com o pelouro financeiro em 2014 no tempo do Governo de Passos Coelho quando a TAP estava na rota da privatização. Mas abandonou a administração da TAP em 2015, logo a seguir à entrada dos acionistas privados e voltou ao departamento financeiro da transportadora.
Diretora saiu por iniciativa de gestor brasileiro e foi substituída por outro quadro brasileiro
Só em 2017 e com a saída de Fernando Pinto da presidência executiva é que entram em cena dois homens escolhidos por David Neeleman para a TAP, Antonoaldo Neves e Raffael Quintas que assumem a gestão executiva com David Pedrosa, filho do acionista português Humberto Pedrosa. Os dois gestores brasileiros tinham vindo da Azul, a companhia aérea fundada pelo empresário americano.
A intenção de dispensar Teresa Lopes terá, segundo soube o Observador, partido do próprio David Neeleman, o acionista americano que tinha uma palavra decisiva na gestão executiva da TAP. Foi concretizada em 2017 pelo administrador financeiro Raffael Quintas que, para a substituir como número dois da área financeira, contratou outro brasileiro, Renato Salomone que saiu em 2021.
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Compensação paga a diretora não foi discutida no conselho de administração onde estava o Estado
Apesar do elevado montante do pacote de rescisão pago a Teresa Lopes — que ao contrário de Alexandra Reis já não era administradora — esta foi uma decisão de gestão corrente que terá passado pela comissão executiva, mas não foi ao conselho de administração onde estavam representados os representantes do Estado.
Nos termos do acordo parassocial assinado com os privados quando o primeiro Governo de António Costa readquiriu uma participação de 50%, a Parpública, que detém a partição do Estado, não recuperou a intervenção na gestão corrente da TAP. Essa limitação foi aliás evidente quando a gestão privada decidiu, em 2019, pagar prémios de desempenho a 180 quadros num ano em que a TAP tinha tido prejuízos. Estes prémios geraram grande polémica e uma reação negativa do Estado, não obstante terem sido de montante equivalente à compensação negociada com a antiga diretora.
O facto do pacote financeiro de Teresa Lopes ter sido atribuído num ano em que a empresa teve lucros — 2017 — também terá ajudado que a decisão tivesse ficado de fora do radar durante tanto tempo.