De forma fria, as regras foram cumpridas. De forma mais racional, as regras, neste caso esta regra, deveria ser alvo de uma revisão. Portugal ainda festejou uma vitória frente ao Brasil que deixaria a equipa nacional muito bem encaminhada para um histórico apuramento para os quartos de um Campeonato do Mundo de andebol. As contas eram fáceis de fazer: como a Seleção tinha vantagem no confronto direto com Islândia e Hungria após terminar a primeira fase na liderança, “bastava” ganhar dois jogos e esperar que a Suécia não falhasse o teórico favoritismo para segurar a segunda posição do grupo II da main round. No entanto, a revisão no VAR das gémeas francesas Charlotte e Julie Bonaventura encontrou uma infração de Alexis Borges que valeu vermelho direto ao pivô e um livre de sete metros que Dupoux não falhou para o empate.

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“A questão dos três metros nos últimos segundos é uma regra que, ainda há bocado comentei com as pessoas da Federação Internacional de Andebol que deve ser revista porque a proporcionalidade da punição não está de acordo com a possibilidade de se marcar golo numa circunstância daquelas. Ou seja, temos um livre de nove metros, faltam seis segundos, qual é a possibilidade de se marcar golo nessa circunstancia, ainda por cima com barreira à frente, mesmo que a barreira esteja à distância de três metros. É muito difícil e depois a punição é um livre de sete metros”, destacou Paulo Jorge Pereira, antes de assumir que a igualdade foi um resultado “comprometedor”. “Para já, vamos pensar no jogo com Cabo Verde, que vai ser também difícil, e prepararmo-nos da melhor forma para poder vencer”, atirou ainda o selecionador nacional.

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Era neste contexto que chegava o encontro teoricamente mais acessível (ou menos complicado) da segunda fase do Mundial frente ao conjunto africano, que levava até ao momento apenas uma vitória com o Uruguai entre derrotas com Suécia, Brasil e Islândia. No entanto, o conjunto de Paulo Moreno, Edmilson Araújo, Leandro Semedo ou Nelson Pina, tudo nomes que jogam ou jogaram em Portugal como a maioria dos atletas convocados por Ljubomir Obradovic, tinha deixado boas indicações sobretudo na partida com os brasileiros, perdendo por apenas dois golos (30-28). E era esse o maior aviso que ficava para Portugal, que vinha da exibição mais aquém do que a equipa consegue fazer com o empate que alterava a teoria das contas.

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Os dez minutos iniciais provaram essas mesmas dificuldades, neste caso não só pelo mérito de Cabo Verde mas também pelo muito demérito de Portugal sobretudo nas ações ofensivas. Edmilson Gonçalves, com três defesas nesse período, foi-se tornando uma das figuras mas a Seleção continuava “presa” a atacar, muitas vezes a criar sem concretizar e a não aproveitar três momentos de superioridade numérica pelas exclusões dos cabo-verdianos (Paulo Moreno podia ter sido advertido com dois minutos até duas vezes, Leandro Semedo foi alvo de exclusão mais “forçada”) até ao 5-4 que se mantinha até ao primeiro desconto de tempo pedido por Obradovic para pedir outra agressividade ao seu ataque num encontro equilibrado.

António Costa, primeiro-ministro português que assistia à partida em Gotemburgo com o secretário de Estado para a Juventude e o Desporto, João Paulo Correia, e o presidente da Federação de Andebol, Miguel Laranjeiro, mostrava-se satisfeito na bancada mas a confiança que se via na transmissão fora das bancadas não era extensível ao que se passava em campo: Cabo Verde foi conseguindo manter sempre o equilíbrio no resultado (7-7 aos 18′, no segundo momento de pausa técnica) e arriscou mesmo o jogo 7×6 quando Portugal começou a acertar mais no ataque com golos em jogadas sucessivas. O intervalo chegaria com a Seleção na frente por dois golos (14-12) depois de ter tudo três de avanço (12-9 e 13-10) mas nem por isso a exibição melhorara muito, com algumas falhas técnicas a impedirem um conforto maior na vantagem.

O arranque do segundo tempo ainda teve algumas hesitações no plano ofensivo mas o rendimento na defesa melhorou – Manuel Gaspar também conseguiu uma boa entrada na baliza – e Portugal conseguiu ter pela primeira vez uma vantagem de cinco golos nos minutos iniciais (18-13) mesmo estando longe de chegar ao desequilíbrio que a Islândia conseguira frente aos africanos com um triunfo largo por 40-30. Seria uma mera questão de tempo, perante um acelerar de circulação no ataque e contra golos que fizeram logo a diferença e fizeram disparar o avanço nacional para nove golos a 15 minutos do final (25-16). A partir daqui, era quase impossível não pensar novamente que se não fosse aquele sete metros depois do final frente ao Brasil e Portugal poderia estar praticamente nos quartos. Assim, terá de pontuar ou ganhar frente à Suécia (vai depender dos outros resultados). E o 35-23 da goleada a Cabo Verde dá pelo menos razões para sonhar.