A exibição épica de Miguel Espinha na baliza nacional reforçada pelas entradas com efeito de Manuel Gaspar nos livres de sete metros, um jogo assombroso em termos defensivos que deixou a toda poderosa Hungria resumida a dois golos nos minutos iniciais, um ataque que foi tendo algumas falhas quando tudo já parecia demasiado fácil mas que recuperou sempre a vantagem para coroar um dos melhores jogos da Seleção em fases finais de grandes competições. Portugal entrava na última jornada da primeira fase do Mundial a poder somar os primeiros pontos que passariam para a main round (a vitória contra a Coreia do Sul ia sair dessas  contas) mas com uma janela de oportunidade para seguir no primeiro lugar caso ganhasse por sete golos de diferença, um encontro quase perfeito abriu a porta para esse sucesso diante dos magiares (27-20).

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Vantagens? Sobretudo uma questão de calendário, que poderia ser determinante para ficar mais perto do objetivo da Seleção para este Campeonato do Mundo – chegar aos quartos da competição, acima da melhor participação de sempre conseguida na última edição de 2021 (décimo lugar). E o primeiro grande desafio à vontade de prolongar essa grande exibição com a Hungria chegava esta quarta-feira com o Brasil, segundo classificado do grupo C atrás da Suécia mas à frente de Cabo Verde e Uruguai. Em caso de vitória, e havendo a confirmação do favoritismo na partida seguinte com os cabo-verdianos, Portugal chegaria sempre ao último jogo frente à anfitriã Suécia a depender de si para a passagem sem olhar a outros resultados.

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“O Brasil é uma equipa que vale muito, tem jogadores interessantes e vai exigir cuidado máximo a Portugal. Vamos encarar este jogo como se fosse o mais importante e não quero pensar nos que vêm a seguir e nas contas. Preparação? Vamos ajustando às necessidades e fazendo adaptações em função daquelas que são as características dos adversários. Devemos olhar apenas para este jogo, que é o mais importante para continuarmos a manter as ambições e expetativas que criámos no início da prova”, comentara Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional que iria fazer a estreia no banco após três encontros de fora por castigo.

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Com apenas um jogador a alinhar ainda na Liga brasileira e uma maioria de convocados que atuam entre Espanha, França e Alemanha, o recente teste na Gjensidige Cup frente ao Brasil, com triunfo apertado por 31-28, mostrava bem a competitividade que o conjunto nacional teria pela frente, naquele que seria o jogo inicial do grupo II da main round que antecedia o Cabo Verde-Islândia e o Suécia-Hungria. E o encontro, na estreia de Portugal em Gotemburgo depois da primeira fase em Kristianstad, foi um espelho disso mesmo, sendo apenas decidido depois do apito final pelo VAR numa ação que ofereceu o empate ao Brasil, complicando mas não hipotecando o sonho português de fazer história e chegar aos quartos do Mundial.

O encontro começou com uma vantagem de 2-0 para Portugal, prosseguiu depois com um 3-2 para o Brasil, voltou depois ao equilíbrio sendo tudo menos um espectáculo interessante em comparação com os três jogos iniciais da Seleção na prova. Por um lado, os brasileiros tinham um ataque organizado lento quando a saída rápida não entrava; por outro, a formação nacional estava muito aquém dos momentos de fantasia ofensiva apresentados já na Suécia. Nem mesmo as exclusões para os dois lados conseguiam desequilibrar um jogo que teve apenas dez golos nos 15 minutos iniciais (5-5) e eficácia equivalente também entre os guarda-redes, com Miguel Espinha a somar mais quatro intervenções para a contabilidade individual.

Paulo Jorge Pereira ia assistindo ao que se passava em campo na estreia neste Mundial no banco e acabou mesmo por parar o encontro pouco depois num desconto de tempo com 7-6 no marcador onde pediu uma maior paciência à equipa na defesa para que os jogadores ganhassem outra confiança e se pudessem soltar para aquilo que conseguem fazer. Não mudou muito, mesmo apelando a esse espírito mais paciente quando o adversário parou o encontro: Portugal chegou de novo aos dois golos de vantagem (9-7), viu os brasileiros terem um ataque para passarem para a frente (9-9) e saiu para intervalo com um golo de avanço (12-11) tendo António Areia como melhor marcador com cinco golos, tantos como Jean-Pierre Dupoux.

Portugal estava apostado em ganhar mesmo o encontro, tendo iniciado logo de início o segundo tempo a arriscar situações de ataque 7×6 que davam a vantagem numérica em posse mas deixavam a equipa muito exposta em termos defensivos. E não começou por correr bem, com o Brasil a chegar pela primeira vez à vantagem e logo de dois golos após uma sequência de defesas de Leonardo Terçariol. No entanto, quando foi saindo, a Seleção tirava proveito, voltando para a frente do marcador pouco depois (16-15). Não mais essa toada de equilíbrio sempre com o encontro separado por um golo voltaria a mudar até ao minuto final de toda a polémica: Francisco Costa, mais apagado e com menos minutos do que nos jogos anteriores, fez o 28-27, os brasileiros tiveram o último ataque, não marcaram, Portugal fez a festa mas as duas árbitras francesas foram rever o derradeiro lance ao VAR e consideraram que Alexis Borges não estava à distância de três metros. Por ser nos últimos 30 segundos, viu vermelho. E Dupoux empatou mesmo de sete metros.

“O Brasil tem atletas que jogam em clubes de referência europeus, nós também, e obviamente sabíamos que ia ser uma luta dura como foi, até ao fim. Já estávamos alertados disso e acho que toda a gente se integrou ao jogo e no final tivemos este percalço. A questão dos três metros nos últimos segundos é uma regra que, ainda há bocado comentei com as pessoas da Federação Internacional de Andebol, tem de ser revista porque a proporcionalidade da punição não está de acordo com a possibilidade de se marcar golo numa circunstância daquelas. Ou seja, temos um livre de nove metros, faltam seis segundos, qual é a possibilidade de se marcar golo nessa circunstância ainda por cima com barreira à frente, mesmo que a barreira esteja à distância de três metros. É muito difícil e depois a punição é um livre de sete metros”, comentou Paulo Jorge Pereira.