“Existe um problema na Transtejo/Soflusa”. Foi assim que arrancou a audição do ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, esta quarta-feira no parlamento, a pedido de PCP e Bloco de Esquerda. Ao reconhecimento, por parte do ministro, de que existem “limitações e disrupções na travessia do Tejo por parte da Transtejo/Soflusa”, seguiu-se a resposta. Vai chegar a Portugal, no primeiro trimestre e vindo das Astúrias, o primeiro navio elétrico, dos 10 contratados para a travessia do Tejo. Mas ficará em teste e servirá para formações porque são barcos com “uma complexidade grande”.

Só no final do ano, quando houver um conjunto de quatro barcos, é que os navios elétricos vão começar a navegar no Tejo, entre Lisboa e Seixal, substituindo uma parte da “frota envelhecida”. No total, os 10 navios custaram 85 milhões de euros, revelou Duarte Cordeiro. No próximo ano chegarão outros quatro e os últimos dois estarão no Tejo em 2025. Os primeiros carregadores deverão ser instalados em junho ou julho. “Sem eles não poderemos ter nada a funcionar”.

O ministro foi confrontado pelo deputado Filipe Melo, do Chega, com uma suposta posição da EDP em relação a estes carregadores. “A EDP diz que é uma medida precipitada. Recusa-se a fazer ligação e diz que precisava de uma capacidade invulgar de energia. Que teria de haver um projeto especifico que não há”. Duarte Cordeiro respondeu que “desconhece” esses problemas.

“Podemos ser uma referência numa travessia desta dimensão com barcos elétricos. Passaremos de uma situação incómoda para uma situação de referência de que nos orgulharemos a nível internacional”, rematou Duarte Cordeiro.

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Até lá, o “problema” da Transtejo/Soflusa terá de ser resolvido com os meios que existem. Que são escassos, reconheceu o ministro. Tanto em frota, como em dimensão e recursos humanos. O aumento da procura face aos últimos dois anos, já que ainda está abaixo do período pré-pandemia, as avarias, acidentes e greves foram os motivos apontados para as dificuldades. Mas até maio, adiantou Duarte Cordeiro, a situação vai “melhorar”, porque os barcos estão a ser recuperados.

Em Cacilhas são necessários três cacilheiros mais um de reserva, e neste momento existem dois barcos. “Teremos três em maio e quatro em junho”, garante. No Montijo e no Seixal são necessários dois navios mais um de reserva e neste momento há dois. “Esperamos ter três até ao fim do mês”. Na Trafaria é preciso um barco e outro de reserva, mas agora só funciona um, sem qualquer reserva. “A operação é muito apertada. O serviço tem riscos que só serão resolvidos no próximo ano com mais barcos”, afirmou. O navio Gil Vicente, que foi abalroado em janeiro por uma lancha da polícia marítima, voltará a estar operacional em abril.

No ano passado, a Transtejo/ Soflusa transportou 22 milhões de passageiros. A Soflusa registou 9% de supressões e a Transtejo 8%. “Muitas dizem respeito a avarias. Estamos a melhorar a recuperação da frota para que os níveis de serviço contratualizados estejam em funcionamento em maio”, sublinhou.

Questionado pelos deputados sobre as dificuldades que enfrentam os moradores da Margem Sul, o ministro reconheceu que há um “estigma a que temos de responder mostrando que estamos a fazer tudo o que podemos”. “Eu não moro na Margem Sul, mas tenho pessoas na minha equipa que sim e que sentem muito essas dificuldades”, declarou.

Outra questão levantada pelos deputados foi a dos recursos humanos das duas empresas. Duarte Cordeiro adiantou que há 15 vagas em aberto para cada uma, que neste momento contam com 430 funcionários, no total. O objetivo é chegar aos 460, um número que estará, ainda assim, abaixo dos cerca de 500 que as empresas tinham antes dos anos da troika. “Lamentamos os constrangimentos”, concluiu. Duarte Cordeiro adiantou ainda que a empresa está “em conversações com os trabalhadores sobre salários”.