Começou a carreira apenas com 15 anos. Ou seja, quando a maioria já refina aquilo que pode melhorar entre um talento consolidado, Amancio começava a entrar nesse mundo do futebol. Jogou no Victoria, clube mais modesto da Corunha onde nascera, passou depois para o Deportivo. Nem mesmo o facto de jogar no segundo escalão lhe retirou motivação de ir fazendo melhor e melhor. Foi esse o seu destino, sobretudo quando fez 22 anos e conseguiu a melhor época com 25 golos em 26 jogos entre a promoção do conjunto galego à Primeira Liga. Antes, poucos o conheciam; a partir daí, todos o queriam. E foi entre uma luta com Barcelona e Oviedo que o Real Madrid conseguiu ganhar a corrida, no final de longas negociações que para muitos colocavam em causa a sustentabilidade dos merengues. Valeu a pena, como se percebeu pela história.

El Brujo foi um pouco de tudo no Real Madrid. Jogador, goleador, referência em campo, destaque fora dele ao longo de quase uma década e meia, até pendurar as chuteiras em 1976. Depois, foi treinador. Da formação, da equipa B, do conjunto principal. Por fim, após a morte do amigo Gento, ascendeu à posição de presidente honorário do clube. O investimento de Santiago Bernabéu naquela época de 1962 escreveu também a história de sucesso do conjunto da capital ao longo dos anos. Amancio morreu esta terça-feira aos 83 anos.

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O avançado foi um dos eleitos por Bernabéu, o líder mais marcante da história do Real, para iniciar uma nova era que fosse capaz de suceder ao Madrid de Di Stéfano que ganhou as cinco primeiras edições da então Taça dos Clubes Campeões Europeus. Estava a nascer o Madrid yeyé, com Amancio e Paco Gento como principais referências de uma nova geração a que se juntaram nomes como Ignacio Zoco, Lucien Müller e Daucik. O Real voltou a ser campeão europeu em 1966, vencendo o Partizan de Belgrado por 2-1 com um golo de Amancio, mas sobretudo consolidou a hegemonia no plano nacional com um total de nove Campeonatos e quatro Taças de Espanha nos 14 anos em que representou os merengues em campo.

Num momento contado pela Marca, alguns dos jogadores mais jovens que se juntaram depois ao Real para fazerem história no clube como Emilio Butragueño, Martín Vázquez, Pardeza, Sanchís ou Míchel (neste caso através de vídeochamada por estar em Atenas) juntaram-se a Amancio no Hospital Universitário Puerta de Hierro de Majadahonda este domingo para agradecerem na primeira pessoa toda a confiança, carinho e respeito com que o avançado recebeu sempre todos os elementos mais novos ao longo do seu percurso.

Amancio destacou-se também na seleção espanhola, tendo feito parte da equipa que conseguiu o primeiro grande título internacional em 1964 com a conquista do Campeonato da Europa em pleno Santiago Bernabéu frente à União Soviética (2-1). Esse feito, a par da conquista da Liga espanhola pela segunda vez, fez com que terminasse a eleição para a Bola de Ouro desse ano na terceira posição com 38 pontos atrás de Denis Law (escocês do Manchester United, 61 pontos) e Luis Suárez (espanhol do Inter, 43 pontos).