A Associação de Distribuidores Farmacêuticos alertou esta quarta-feira para os atrasos na colocação de produtos no mercado, que em alguns casos pode ultrapassar um ano, e defendeu a criação de um sistema de alerta prévio de faltas de medicamentos.
Numa audição sobre “rutura de medicamentos”, a pedido do partido Iniciativa Liberal (IL), o presidente da Associação de Distribuidores Farmacêuticos (Adifa), Nuno Flora defendeu que é preciso “melhorar enormemente” o sistema de gestão da informação nesta área.
O responsável disse que existem vários procedimentos administrativos e regulamentares, mas que não estão integrados, dando o exemplo de haver uma lista para notificação prévia, uma lista temporária de suspensão de exportação e haver brevemente uma lista de medicamentos essenciais, cuja portaria foi publicada em janeiro.
Além disso, só as próprias entidades, a indústria farmacêutica, as farmácias e os distribuidores farmacêuticos, conhecem os seus stocks.
“O que devíamos ter era um sistema nacional de alerta prévio de roturas e de falhas”, para ter um conhecimento antecipado da situações e não atuar “casuisticamente”.
Para tal, defendeu, “deve ser tudo integrado em termos de gestão de informação no Infarmed”, que é o regulador e o supervisor da área.
O presidente da Adifa alertou também para os atrasos na colocação de produtos no mercado na sequência de problemas de produção e de “uma certa tendência que se verificou nos últimos anos de desindustrialização do setor do medicamento a nível europeu e também a nível nacional”.
A somar a esta situação aconteceu uma pandemia, a guerra na Ucrânia e uma crise energética, que criaram não só na produção, mas no resto da cadeia de abastecimento de medicamentos, “pressões muito grandes e dificultou muito não só no acesso ao produto, mas também em termos de tempo de colocação de produto no mercado”.
“Enquanto antes tínhamos se calhar produtos que não chegavam em quatro cinco meses, hoje temos produtos a chegar-nos a um ano ou mais que isso”, realçou.
Nuno Flora advertiu que as cadeias de abastecimento estão “muito fragilizadas e precisam de apoio”, lamentando que durante este período o setor da distribuição não tenha tido qualquer apoio do Estado ou de outra entidade para fazer face ao aumento das despesas.
“Os nossos cálculos para este ano, infelizmente, com a inflação são muito mais gravosos do que aquilo que tínhamos avisado em maio e junho para o final do ano. Serão seguramente cerca de seis, sete milhões de euros em termos de custos relacionados com o aumento da inflação”, sublinhou.
Ainda sobre a escassez de medicamentos, Nuno Flora disse é um problema que já tem “seguramente mais de 10 a 15 anos” e que “não é exclusivo nacional”.
O responsável disse que ao contrário do que se pensava a exportação não é a causa do problema, até porque no setor de medicamentos é reduzida.
Segundo o Infarmed, nos 10 primeiros meses de 2022 foi proibida a exportação de cerca de 1,7 milhões de embalagens de medicamentos.
“O nosso mercado no ano passado foi de 323 milhões de embalagens (…) Portanto, o problema não reside aqui [exportação] quando temos cerca de 8% a 10% de medicamentos em falta no mercado”, elucidou.
Aludindo ao aumento de 5% nos medicamentos até 10 euros e de 2% de medicamentos até entre 10 e 15 euros, Nuno Flora disse ser “um primeiro sinal” do que o país pode fazer a este nível para “tornar o mercado mais atrativo”.
“Tem de ser um caminho que não pode terminar por aqui (…) até porque esse aumento é comido pela própria inflação”, disse, reconhecendo, contudo, ser o primeiro aumento de preços de medicamentos em 20 anos, particularmente.