O World Press Cartoon (WPC), o maior salão internacional de desenho e caricatura, não vai realizar-se em 2023 por falta de condições financeiras, anunciou, esta quarta-feira, a organização que em agosto perdeu o patrocínio da Câmara das Caldas da Rainha.

A direção do World Press Cartoon revelou não ter “condições financeiras de suporte que permitam realizar o salão no ano em curso”, o que fará de 2023, o segundo ano em que, desde o início do evento, em 2005, este não se assumirá como “ponto de encontro anual em privilegiado” da comunidade mundial de cartonistas.

O anúncio surge na altura em que tradicionalmente se deveria reunir o júri internacional do salão que anualmente distingue os melhores cartoons e caricaturas publicadas pela imprensa e sites nacionais e internacionais, e que desde 2017 se realizava nas Caldas da Rainha, no distrito de Leiria.

Em agosto de 2022, a Câmara, liderada pelo movimento independente “Vamos Mudar”, anunciou o fim dos apoios ao certame, alegando que o financiamento anual de 180 mil euros não se refletia em retorno para o concelho.

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Em comunicado a autarquia alegou na altura que, entre “2017 e 2021, o valor despendido neste evento ascendeu a 1.164.000 euros”, incluindo os 180.000 de financiamento, 41.400 euros de IVA e 11.400 euros, em média, de custos associados.

Lembrando que, a par com a gala de entrega de prémios, o evento incluía uma exposição “de acesso livre ao público”, e que o valor “despendido não incluía a aquisição dos desenhos exibidos durante a exposição, mas apenas a entrega de diversos exemplares do catálogo ao município”, a autarquia optou por deixar de apoiar o evento que se realizou pela última vez em 2022, já numa versão que não incluiu a tradicional gala, por forma a reduzir os encargos do município.

Na avaliação feita pela autarquia, o WPC não se refletiu em valorização territorial ou através da publicidade, “dado que o número de visitantes nunca ascendeu a mais de 4.539 (em 2019), e teve um mínimo de 1572 (em 2018)”, pode ler-se no comunicado da autarquia.

À agência Lusa, o diretor do WPC, António Antunes, lamentou “esta perspetiva cultural” da autarquia que pôs fim à realização do certame, “numa terra com uma forte ligação à caricatura” e onde ficaram por realizar projetos como a criação do Museu da Caricatura.

Reafirmando o empenho da organização “na defesa dos valores em torno da liberdade de imprensa e da promoção do cartoon como género indispensável num jornalismo de referência”, o cartonista disse à agencia Lusa recusar “fazer um ‘salãozinho'”, para reduzir custos, e estar a negociar com outras autarquias o apoio ao certame que pretende retomar em 2024.

Criado em 2004, o WPC realizou-se em Sintra, em Cascais e, desde 2017, nas Caldas da Rainha, no âmbito de um protocolo entre a organização e a autarquia, à época liderada pelo PSD, partido que nas últimas eleições autárquicas perdeu para o Movimento “Vamos Mudar”.