Menos de 23.000 pessoas, os habituais cânticos vindo da zona das claques a dez minutos do final contra o presidente do clube Frederico Varandas, algum tempo dos adeptos a carburarem o apoio à equipa perante um arranque a dominar mas sem remates à baliza antes de engrenarem essa simbiose e ajudarem os leões a chegar aos golos. O ambiente em Alvalade está longe de se parecer sequer com aquele que existia nas duas últimas temporadas mas, aos poucos, o conjunto verde e branco vai mostrando sinais de que a temporada ainda não terminou e de que é possível minorar danos numa caminhada aquém do esperado. É assim no plano coletivo, foi assim no plano individual e com uma exibição acima dos outros de Francisco Trincão.

Este Trincão é como Bellerín, nunca sai de moda (a crónica do Sporting-Estoril)

No encontro em que o Sporting somou pela primeira vez três vitórias consecutivas em 2023 e voltou a não sofrer golos (com essa particularidade de o Estoril não ter feito qualquer remate enquadrado nos dois jogos com os leões esta temporada), o esquerdino cedido pelo Barcelona quebrou um jejum de dois meses sem marcar e chegou ao sétimo golo da temporada, mais do que tinha feito nas duas últimas épocas entre catalães e Wolverhampton. E o gesto de todos os companheiros com o jovem internacional disse tudo sobre o peso do momento, com pedidos de aplausos para Francisco Trincão após um golo onde passou por vários adversários com a bola colada ao pé esquerdo até rematar com o pé contrário. Depois de uma primeira parte sem grandes rasgos, o génio saiu com nota artística e Rúben Amorim pediu apenas tempo para crescer.

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“O Trincão tem de perceber que… Os nossos pais e toda a gente que gosta de nós às vezes tem esses momentos de crítica perante as nossas exibições. Tem de encarar isso com naturalidade, olhando também para a forma como o talento está lá. Ele precisa de tempo, é a primeira época que ele está a fazer no Sporting, teve temporadas em que parou um bocadinho no tempo porque foi jogando a espaços e não teve continuidade. Deve olhar também para o extremo do outro lado, que é o Edwards. Ele não se parece nada com o jogador que chegou cá. Precisou de um tempo de habituação, de ganhar capacidade física, de entender os colegas, de ganhar confiança e hoje é um jogador totalmente diferente. O importante para mim é olhar para os jogadores e ver se há talento, se houver esse talento é apoiar porque isso com o tempo vai surgir”, explicou o treinador leonino no final do encontro, ainda na zona de entrevistas rápidas da SportTV.

“Foi um jogo com sentido único. Obviamente que o Estoril não vive um bom momento, tentou sempre defender bem a sua baliza à frente da área para depois nos ir criando alguma ansiedade mas não aconteceu. Tivemos paciência para ter a bola, tivemos os nossos laterais em cima da área deles e isso acaba por tornar tudo complicado. Depois têm de surgir os rasgos individuais e hoje surgiram. Quando o Marcus [Edwards] abriu no corredor, que era onde conseguia ter bola, começou a desenvolver a equipa, chegámos ao primeiro golo e depois o Trincão no segundo tempo, com um rasgo individual com muita gente à frente como ele é capaz de fazer, fez o segundo. Fizeram um jogo muito competente num momento difícil, com viagens pelo meio e estão de parabéns também por isso”, apontou sobre o jogo, explicando ainda a aposta em Pedro Gonçalves no meio-campo à frente de Morita apesar de ter a possibilidade de lançar de início Tanlongo.

“Não foi só por jogarmos em casa que lancei o Pote no meio-campo, foi porque sabíamos que íamos encontrar uma equipa muito recolhida. Ele raramente tocou na bola como um médio centro, andou sempre entre linhas à procura do espaço. O Pote tem essa capacidade e foi mais um homem da frente. É um jogador muito completo, que tem muito para melhorar ainda, mas se olharmos para os momentos do jogo ofensivo ele esteve quase sempre onde costuma jogar quando está como ala”, destacou Amorim.

Por fim, o técnico dos verde e brancos abordou ainda a aproximação ao FC Porto (o Sp. Braga jogava apenas a seguir em Guimarães), salientando a importância de ter voltado a manter a baliza em branco. “Ainda há muitos jogos e isto é um sinal que estamos presentes, que queremos ganhar, que temos essa ambição. Não olhando muito para a tabela mas é importante também para que os da frente não se sintam muito à vontade. É bom aproximarmo-nos nos lugares cimeiros mas sobretudo jogar bem e ganhar. Não sofrer golos? Sim, é importante sobretudo quando é um registo que não é enganador. Bloqueámos muito bem as saídas, fomos competentes até em jogadas de 1×1 em que estamos cada vez melhor. Todas as grandes equipas sofrem poucos golos e de realçar que isso acontece porque controlámos bem, não foi o Adán que fez muitas defesas. Foi uma equipa que foi competente a controlar tudo isso no jogo”, concluiu Rúben Amorim.