Morreu José Manuel Galvão Teles, sócio fundador da sociedade de advogados Morais Leitão. Tinha 84 anos. A notícia foi confirmada numa nota enviada às redações por fonte oficial da empresa: “Foi um jovem empenhado na construção e na luta ativa pela democracia, um político convicto da importância dos direitos fundamentais e foi, também, um homem de família e um homem de cultura”, descreve o comunicado.

Galvão Teles foi membro do Conselho de Estado, embaixador de Portugal junto das Nações Unidas em 1975 e em 1976; e chefe de delegação em várias missões de natureza política e económico-financeira. Em 2005, recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo pela mão de Jorge Sampaio, antigo Presidente da República. Em 2022, com Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República, recebeu também a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Enquanto advogado é “uma representação fiel da história político-económica do nosso país”, sublinha a nota da Morais Leitão: defendeu réus acusados de crimes políticos no Estado Novo, participou em processos contra o Apartheid e especializou-se em processos de fusões, aquisições e contencioso. Patrocinou “algumas das ações cíveis de maior valor julgadas em tribunais portugueses e, com sucesso, alguns dos mais importantes e mediáticos processos-crime”.

Homenageado com a Medalha de Honra da Ordem dos Advogados em 2010, Galvão Teles “sempre viu a advocacia como uma continuação do seu exercício de cidadania, a par da vida política, social, humana e cultural”, detalha a nota enviada à comunicação social.

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Foi Presidente Nacional da Juventude Católica. Já depois da Revolução dos Cravos, fundou o dirigiu o Grupo de Intervenção Socialista (GIS) e manteve-se até aos anos 90 como dirigente nacional do Partido Socialista (PS). Galvão Teles sempre se opôs à guerra colonial: manteve “uma voz muito ativa, intervindo e alertando publicamente para a situação política nacional“, pode ler-se no site da sociedade que ajudou a fundar.

Marcelo: “Um grande democrata”

Em nota de condolências publicada no site da Presidência, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, classificou Jose Manuel Galvão Teles como um “grande democrata” e um combatente contra a ditadura.

No comunicado, o Chefe de Estado lembra que “José Manuel Galvão Telles foi um grande democrata, um grande advogado, um grande lutador, desde a sua juventude, pela liberdade contra a ditadura, pelo pluralismo contra a repressão, pela igualdade contra a discriminação, pela fraternidade contra a exclusão”.

“Militante pelos ideais socialistas e, depois, dirigente do Partido Socialista, esteve presente praticamente em todos os momentos essenciais da vida política portuguesa dos últimos 50 anos”, escreve Marcelo, lembrando que o tinha condecorado em novembro passado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

O chefe de Estado apresenta à sua família de Galvão Teles “a expressão de uma antiga amizade e grata solidariedade pelo seu contributo a Portugal”.

PS lamenta perda de “destacada referência” na luta pela democracia

O Partido Socialista (PS) também lamentou a morte do advogado Galvão Teles, destacando a perda para o país de uma “destacada referência do empenho na luta ativa pela democracia”, segundo uma nota de pesar publicada no site do partido.

Salientando ter recebido “com profunda tristeza” a notícia do falecimento de Galvão Teles, o PS destaca também a sua consciência quanto à importância dos direitos fundamentais na ação política e no exercício da cidadania.

O Partido Socialista assume o compromisso de manter viva a sua grata memória de luta pela liberdade, pela cultura e pela cidadania ativa, endereçando a todos os seus familiares e amigos as suas mais sinceras condolências”, informa.

Lembrando que Galvão Teles, desde cedo, foi opositor da guerra colonial, e uma voz ativa de denúncia da situação política nacional anterior ao 25 de Abril, o PS recorda também que defendeu, como advogado, arguidos acusados de crimes políticos durante o Estado Novo.