A Comboios de Portugal (CP) moveu uma ação judicial contra uma empresa de consultoria de tecnologia de informação (IT) sediada nos Estados Unidos cujo logótipo é praticamente indistinguível do símbolo da companhia ferroviária portuguesa.
At Crypster, we believe the future is decentralised, and we’re making it our business to place people at the very heart of it. Our mission is to build the largest, most connected and radically transparent remote-first decentralized Web3 community in the world. ????#crypster #web3 pic.twitter.com/9QMBx4eieh
— Crypster (@CrypsterIO) February 5, 2023
Só a cor mudou de uma marca para a outra: enquanto a CP utiliza o verde, a recém-formada Crypster utiliza um logótipo exatamente igual, mas roxo. A empresa ferroviária desconfia de plágio e, por isso, “acionou os meios legais para proteger a sua marca”.
O alerta para as parecenças surgiu nas redes sociais, quando o designer Pedro Couto e Santos tweetou sobre as semelhanças entre os logótipos da CP e da Crypster. Alertado por um amigo, também ele designer, que se tinha cruzado com informações sobre a empresa norte-americana no LinkedIn, Pedro alertou a Crypster: “Olá, Crypster. Quem ‘desenhou’ o vosso logótipo simplesmente roubou-o, sem alterações, à empresa portuguesa de comboios, CP. É bastante ridículo, para ser sincero”.
Hey @CrypsterIO whoever "designed" your logo, simply stole it, with zero changes, from the Portuguese train company, CP. It's quite ridiculous, tbh. https://t.co/ayHNaqZL69
— Pedro Couto e Santos (@pedrocs) February 27, 2023
O tweet foi visto quase 16 mil vezes, partilhado por 26 contas e mereceu o “gosto” de mais de 200 internautas até à tarde desta terça-feira. Mas não recebeu nenhuma resposta da Comboios de Portugal (que não tem conta no Twitter) ou da Crypster sobre o assunto.
Questionada pelo Observador, a empresa portuguesa disse que “teve conhecimento do plágio” e que, “de forma a garantir a proteção do logótipo da marca e tudo o que ela significa, a CP, através do seu departamento jurídico, acionou os meios legais para proteger a sua marca”. A Crypster também foi contactada, mas o Observador não obteve qualquer resposta.
Comboios de Portugal ???? https://t.co/oGs98kXN0E pic.twitter.com/BoWkDRt1XW
— B̲a̲r̲b̲o̲s̲a̲???? (@barbosa9077) March 1, 2023
De acordo com a página oficial da empresa, que ainda está em fase de lançamento e a recrutar, a Crypster é “uma rede descentralizada e remota de talentos Web3” que “conecta trabalhos de classe mundial com empresas internacionais”. A Web3, tal como o Observador já explicou, é um novo conceito para o funcionamento da internet em que os utilizadores têm mais controlo sobre as suas criações — tudo isto com base na tecnologia “blockchain”, um protocolo que funciona como uma base de dados de ativos e transações online.
A Web3 ainda não é uma realidade e Jack Dorsey já quer a Web5. Mas com que promessas?
No LinkedIn, a empresa especifica que a rede inclui engenheiros, gerentes de produto, designers e talentos do marketing; e que tem por missão “ajudar empresas em crescimento a acelerar o desenvolvimento de produtos” com equipas descentralizadas: “Ao longo do último ano, crescemos exponencialmente, escalando para mais de 1.000 construtores independentes e mais de 50 equipas implantadas em missões em mais de 15 setores de startups, empresas de média dimensão e de capital aberto”.
As informações que constam nas redes sociais indicam que a Crypster é uma empresa de pequena dimensão. Aliás, no LinkedIn apenas constam três funcionários da empresa sediada nos Estados Unidos: um homem que trabalha a partir da capital tailandesa de Banguecoque, mas cujo cargo não está identificado; uma mulher sediada na República Dominicana e que se apresenta como gestora de projetos de IT, gestora de recursos humanos, analista de dados e investigadora de contratos de criptografia; e, por fim, um homem na cidade alemã de Soltau que é gestor da comunidade criptográfica da Crypster.
Além da morada da sede nos Estados Unidos, na unidade 1040 da 459 Columbus Avenue (Nova Iorque, mesmo junto ao Central Park), a Crypster também tem um escritório em Inglaterra, na loja 23 e quinto andar do Hatton Garden, entre os números 63 e 66. Ambas as moradas são de edifícios com vários escritórios: nos Estados Unidos, a Crypster é vizinha de um centro de envio de encomendas certificado pela FedEx, uma empresa de remoção de bolor em habitações e de uma agência de marketing digital. Em Inglaterra, fica junto a duas joalherias e a uma empresa de compra e venda de ouro. De qualquer modo, os funcionários trabalham sobretudo em regime remoto.
Gosta de crypto mas sente que falta algo? E se sempre que quisesse usar crypto esta estivesse atrasada, ou até mesmo suprimida? E se demorasse tempos infinitos devido ao mau estado da rede e obras? Apresentando CP – Cryptos de Portugal, I mean Crypster https://t.co/65X1dtmPvm
— ruizinho ✨ (@RuiAPSMarques) March 1, 2023
As semelhanças entre os logótipos da Comboios de Portugal e a Crypster já inspiraram algumas piadas no Twitter. Um internauta, Rui Marques, propôs um anúncio para a marca americana baseada na realidade da empresa portuguesa: “Gosta de crypto mas sente que falta algo? E se sempre que quisesse usar crypto, ela estivesse atrasada ou até mesmo suprimida? E se demorasse tempos infinitos devido ao mau estado da rede e obras? Apresentando CP – Cryptos de Portugal, I mean Crypster”, escreveu no Twitter, numa referência às greves dos trabalhadores da CP e as perturbações causadas pelos problemas nas linhas.
Sr. passageiros, o comboio suburbano Crypster Lisboa, procedente de World-class gigs e c destino a International Companies vai dar entrada na linha nr3. Efetua paragens em tds as estações e apeadeiros.
NA ENTRADA PARA O COMBOIO ATENÇÃO À DISTÂNCIA ENTRE AS PORTAS E A PLATAFORMA! https://t.co/nwC8jvJHrE
— Daze is in ESC era || Shauna's broski (@BrokenInAHotTub) March 1, 2023
Outra pessoa fez uma brincadeira com as habituais mensagens informativas da CP: “Senhores passageiros, o comboio suburbano Crypster Lisboa, procedente de World-Class Gigs e com destino a International Companies vai dar entrada na linha nº3. Efetua paragens em todas as estações e apeadeiros. Na entrada para o comboio, atenção à distância entre as portas e a plataforma”, escreveu também no Twitter.