A Comboios de Portugal (CP) moveu uma ação judicial contra uma empresa de consultoria de tecnologia de informação (IT) sediada nos Estados Unidos cujo logótipo é praticamente indistinguível do símbolo da companhia ferroviária portuguesa.

Só a cor mudou de uma marca para a outra: enquanto a CP utiliza o verde, a recém-formada Crypster utiliza um logótipo exatamente igual, mas roxo. A empresa ferroviária desconfia de plágio e, por isso, “acionou os meios legais para proteger a sua marca”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O alerta para as parecenças surgiu nas redes sociais, quando o designer Pedro Couto e Santos tweetou sobre as semelhanças entre os logótipos da CP e da Crypster. Alertado por um amigo, também ele designer, que se tinha cruzado com informações sobre a empresa norte-americana no LinkedIn, Pedro alertou a Crypster: “Olá, Crypster. Quem ‘desenhou’ o vosso logótipo simplesmente roubou-o, sem alterações, à empresa portuguesa de comboios, CP. É bastante ridículo, para ser sincero”.

O tweet foi visto quase 16 mil vezes, partilhado por 26 contas e mereceu o “gosto” de mais de 200 internautas até à tarde desta terça-feira. Mas não recebeu nenhuma resposta da Comboios de Portugal (que não tem conta no Twitter) ou da Crypster sobre o assunto.

Questionada pelo Observador, a empresa portuguesa disse que “teve conhecimento do plágio” e que, “de forma a garantir a proteção do logótipo da marca e tudo o que ela significa, a CP, através do seu departamento jurídico, acionou os meios legais para proteger a sua marca”. A Crypster também foi contactada, mas o Observador não obteve qualquer resposta.

De acordo com a página oficial da empresa, que ainda está em fase de lançamento e a recrutar, a Crypster é “uma rede descentralizada e remota de talentos Web3” que “conecta trabalhos de classe mundial com empresas internacionais”. A Web3, tal como o Observador já explicou, é um novo conceito para o funcionamento da internet em que os utilizadores têm mais controlo sobre as suas criações — tudo isto com base na tecnologia “blockchain”, um protocolo que funciona como uma base de dados de ativos e transações online.

A Web3 ainda não é uma realidade e Jack Dorsey já quer a Web5. Mas com que promessas?

No LinkedIn, a empresa especifica que a rede inclui engenheiros, gerentes de produto, designers e talentos do marketing; e que tem por missão “ajudar empresas em crescimento a acelerar o desenvolvimento de produtos” com equipas descentralizadas: “Ao longo do último ano, crescemos exponencialmente, escalando para mais de 1.000 construtores independentes e mais de 50 equipas implantadas em missões em mais de 15 setores de startups, empresas de média dimensão e de capital aberto”.

As informações que constam nas redes sociais indicam que a Crypster é uma empresa de pequena dimensão. Aliás, no LinkedIn apenas constam três funcionários da empresa sediada nos Estados Unidos: um homem que trabalha a partir da capital tailandesa de Banguecoque, mas cujo cargo não está identificado; uma mulher sediada na República Dominicana e que se apresenta como gestora de projetos de IT, gestora de recursos humanos, analista de dados e investigadora de contratos de criptografia; e, por fim, um homem na cidade alemã de Soltau que é gestor da comunidade criptográfica da Crypster.

Além da morada da sede nos Estados Unidos, na unidade 1040 da 459 Columbus Avenue (Nova Iorque, mesmo junto ao Central Park), a Crypster também tem um escritório em Inglaterra, na loja 23 e quinto andar do  Hatton Garden, entre os números 63 e 66. Ambas as moradas são de edifícios com vários escritórios: nos Estados Unidos, a Crypster é vizinha de um centro de envio de encomendas certificado pela FedEx, uma empresa de remoção de bolor em habitações e de uma agência de marketing digital. Em Inglaterra, fica junto a duas joalherias e a uma empresa de compra e venda de ouro. De qualquer modo, os funcionários trabalham sobretudo em regime remoto.

As semelhanças entre os logótipos da Comboios de Portugal e a Crypster já inspiraram algumas piadas no Twitter. Um internauta, Rui Marques, propôs um anúncio para a marca americana baseada na realidade da empresa portuguesa: “Gosta de crypto mas sente que falta algo? E se sempre que quisesse usar crypto, ela estivesse atrasada ou até mesmo suprimida? E se demorasse tempos infinitos devido ao mau estado da rede e obras? Apresentando CP – Cryptos de Portugal, I mean Crypster”, escreveu no Twitter, numa referência às greves dos trabalhadores da CP e as perturbações causadas pelos problemas nas linhas.

Outra pessoa fez uma brincadeira com as habituais mensagens informativas da CP: “Senhores passageiros, o comboio suburbano Crypster Lisboa, procedente de World-Class Gigs e com destino a International Companies vai dar entrada na linha nº3. Efetua paragens em todas as estações e apeadeiros. Na entrada para o comboio, atenção à distância entre as portas e a plataforma”, escreveu também no Twitter.