São vários os estudos que nos alertam para uma evidência preocupante: lê-se pouco em Portugal. Por exemplo, segundo os resultados de um inquérito conduzido pela Fundação Gulbenkian e pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, divulgados em 2022, mais de metade dos portugueses (61%) não tinha lido um único livro no ano anterior ao questionário, e a maior parte revelava não ter recebido estímulos à leitura nos primeiros anos de vida, já que 71% nunca foram levados a uma livraria na infância ou adolescência, 77% não visitaram uma biblioteca, 47% nunca receberam um livro e  54% não tiveram quem lhes lesse uma história.

Perante estes dados há, pois, fortes motivos de preocupação, sobretudo se tivermos em conta os inúmeros benefícios da leitura, nomeadamente, em termos de desenvolvimento cognitivo, criativo e até social. Afinal, há algo muito importante e bastante simples – a leitura – que pode contribuir para um crescimento mais saudável das nossas crianças e jovens, mas, ao que parece, não faz ainda parte dos seus hábitos.

Uma das formas de contribuir para o aumento do número de jovens leitores passa por colocar à sua disposição livros originais, de excelente qualidade artística e literária, com vista a estimular a imaginação e o gosto pela leitura. É isso mesmo que o Pingo Doce tem vindo a fazer desde que, em 2014, criou o Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, com o intuito de incentivar a criatividade e apoiar o surgimento de novos talentos na escrita e ilustração de obras destinadas à faixa etária do 6 aos 12 anos. O galardão está de volta, agora na sua 10.ª edição, e neste momento decorrem, até 23 de março, as candidaturas de texto.

Ilustração | Gonçalo Carvalho

Importância fulcral da leitura

Tendo em conta que “a leitura e o contacto com os livros têm uma importância fulcral no desenvolvimento das crianças”, a educadora de infância Catarina Fonseca procura integrá-lo o mais possível nas atividades que desenvolve todos os dias, nomeadamente, através da leitura de histórias aos mais novos que acompanha. Entre os benefícios deste hábito, destaca o desenvolvimento social, sublinhando que “a leitura de histórias é uma ótima forma de se estreitarem laços e de se criarem vínculos”, já que, “na grande maioria dos casos, a criança sente-se amada, escutada, segura e feliz durante estes momentos”.

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Por outro lado, realça também as vantagens da leitura no desenvolvimento da linguagem, explicando que “o ato de ler histórias permite um aumento de vocabulário, uma melhor consciência fonológica, uma maior facilidade na construção de frases e, por conseguinte, mais fluidez no discurso falado e escrito no caso das crianças que já leem autonomamente”.

Outra das áreas fortemente influenciada pelos livros prende-se com o estímulo da imaginação, pois, como refere a educadora, “a hora do conto é um momento que, por si só, permite que as crianças levem a sua imaginação mais além e possam recriar mentalmente os cenários e situações vividas, tornando-se mais criativas no geral”.

No caminho certo

Sabendo nós de todas as vantagens e benefícios dos livros e da leitura, será que já estamos a ser capazes, atualmente, de incutir bons hábitos de leitura junto das nossas crianças? Partindo daquilo que observa diariamente, Catarina Fonseca é levada a acreditar que “caminhamos no rumo certo”. “Os hábitos de leitura variam muito de família para família”, afirma, constatando que “é claramente notório, no desenvolvimento das crianças, quando estas têm, ou não, hábitos de leitura regulares”.

Na perspetiva da educadora de infância, “este é um tema que tem vindo a ganhar mais destaque com o passar dos tempos na sociedade em geral”, por exemplo, “tem-se assistido a uma maior aposta na edição de livros infantis, bem como na promoção de eventos relacionados com a literatura infantil, como as horas do conto, feiras do livro ou campanhas promocionais, etc.”. Como tal, entende que “estamos no bom caminho”, até porque “cada vez é mais prazeroso folhear os novos livros que vão saindo”. A este propósito, observa que “as editoras têm investido em livros de grande qualidade, não só em termos de conteúdo como também no que se refere à qualidade gráfica das publicações”.

Exemplo disto mesmo são os livros publicados na sequência do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, que apesar de se dirigirem a crianças de uma faixa etária diferente daquela com que trabalha, não hesita em recomendar, pois “têm sido abordados temas muito pertinentes nas várias edições”.

Consistência desde os primeiros anos

A regularidade é, para Catarina Fonseca, um fator determinante na aquisição de hábitos de leitura pelos mais novos. Sendo educadora de infância, e acumulando já alguma experiência a trabalhar diretamente com crianças entre os 0 e os 3 anos de idade, salienta que “é claramente notório que quanto mais regulares forem as horas do conto, mais interesse se gera”. Neste âmbito, defende mesmo que “a hora do conto deve fazer parte da rotina diária de todas as crianças, seja em contexto escolar, familiar, ou até em ambos, de preferência”.

Por outro lado, considera que “é também importante investir na diversificação” dos livros apresentados às crianças, pois “se por um lado há histórias que estas gostam de ouvir vezes sem conta, por outro, temos de ter em atenção que as crianças se motivam com histórias novas e diferentes”.

Questionada sobre como incentivar a leitura junto dos jovens, a educadora não tem dúvidas em apontar que “se o contacto com os livros e os hábitos de leitura forem fomentados desde bebés e em diante, a probabilidade de se criarem jovens leitores é muito grande”. “Uma criança que tenha por hábito ouvir histórias com regularidade terá mais apreço pelos livros e, muito provavelmente, terá mais interesse em aprender a ler”, justifica, acrescentando que “depois da aprendizagem da leitura e da escrita, se a leitura continuar a ser uma rotina, há uma forte possibilidade de se tornar um amor para a vida toda”. Ainda assim, chama a atenção para a motivação como um fator a ter presente, pelo que aconselha que a escolha dos livros seja feita “tendo em conta os interesses de cada criança”.

Premiar a criatividade, estimular novos leitores

O Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce está de regresso e convida todos os que tiverem uma boa história para contar a fazê-lo, enviando os seus textos originais até ao dia 23 de março. O anúncio do vendedor acontecerá a 26 de abril e, logo no dia seguinte, abrem as candidaturas para a fase de ilustração, que decorre até 1 de junho.

Com um valor total de 50 mil euros (25 mil euros para o autor do texto e 25 mil euros para o ilustrador da história), este prémio, que já vai na sua 10.ª edição, é o maior galardão atribuído nesta área em Portugal. A avaliação dos textos estará a cargo de um júri composto pelos escritores Afonso Cruz, David Machado, Sara Rodi e Violante Magalhães, bem como pela diretora de comunicação do Grupo Jerónimo Martins, Sara Miranda.

Na edição do ano passado, Daniela Leitão foi a vencedora da fase de texto com O Avô Minguante, história ilustrada pela também vencedora Catarina Silva. Agora, é a vez de quem tem uma história guardada na gaveta tentar a sua sorte e tornar-se o próximo nome publicado pelo Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce.