João Leão considera que o BCE devia ter feito uma pausa na subida dos juros. Ao programa Direto ao Assunto, da Rádio Observador, o ex-ministro das Finanças considera que “o BCE devia ter tido uma pausa na subida dos juros para avaliar a situação, porque há questões importantes de estabilidade financeira, de estabilidade do sistema financeiro e dos bancos, que importa avaliar”.

Houve um aumento muito rápido das taxas de juro e “este aumento muito rápido está a provocar convulsões em determinadas áreas que é preciso ter algum cuidado e avaliar bem”. Foi o caso do Silicon Valley Bank, que tinha investido muito em dívida pública de longo prazo.

“Havia a expectativa de que o BCE pudesse reavaliar a situação, decidiu seguir em frente, mas penso que nesta fase seria importante ponderar, ter algum cuidado e avaliar a situação porque neste momento os mercados financeiros e os depositantes dos bancos estão especialmente atentos a situações de vulnerabilidade do setor financeiro e por isso deveria ter sido importante ter isso em consideração”.

João Leão sinaliza, ainda, que o BCE, perante a situação e a incerteza, optou por não se comprometer com novas subidas, e deixou em aberto o que vai acontecer depois.

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“Isso é positivo, faz com que as expectativas de futuro nas taxas de juro tendem a descer e o BCE está a ter de equilibrar preocupações de combate à inflação, que faz com que queira subir as taxas, mas por outro lado com preocupações com a estabilidade financeira e com a situação dos bancos a nível europeu para ter mais cuidado na subida das taxas de juro. Há aqui um equilíbrio que tem de ser feito”.

Nos últimos dias, e depois da falência nos Estados Unidos de três bancos — em particular o SVB à custa da venda grande de títulos de dívida do Tesouro –, os mercados foram abalados com uma tensão num dos maiores bancos europeus — o Credit Suisse que já pediu um apoio de liquidez superior a 50 mil milhões de euros ao banco central suíço.

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A situação do Credit Suisse “é preocupante, porque é um banco de grande dimensão”. O seu balanço é mais de duas vezes maior que toda economia portuguesa, está presente em muitos países e com ligações a muitas entidades. “A preocupação com Credit Suisse é a grande preocupação na Europa”. Em relação aos outros bancos, nomeadamente em Portugal, “chegaram a esta situação bastante melhores do que na crise passada, bastante robustos, tiveram lucros muito positivos no ano passado, estão numa situação forte e saudável e não é de antecipar dificuldades de maior nos principais bancos portugueses”.

A exposição portuguesa será pequena. “O entendimento que se tem é que não existe essa exposição significativa, não há algo de muito preocupante para o nosso sistema, mas o impacto sistémico que o Credit Suisse tem na Europa e uma eventual problema do Credit Suisse de eventual falência não deixaria de criar um evento muito dramático na Europa” a fazer relembrar situações como a que aconteceu em 2008 com a queda do Lehman Brothers. Uma situação grave no Credit Suisse que não pudesse ser resolvida levaria a um impacto grande na economia europeia, acredita João Leão. “Será um problema para a Europa, mais do que um problema só para Portugal. O problema é sobretudo europeu. É preciso ter atenção. O problema do Credit Suisse não é de agora”, mas há dias anunciou prejuízos muito elevados em 2022 e confirmou falta de transparência nas contas, além do principal acionista do banco se ter recusado a injetar mais dinheiro. Isto juntou-se à vulnerabilidade dos mercados financeiros que olham para os bancos com desconfiança depois da falência do SVB.