A TAP apresentou lucros de 65,6 milhões de euros em 2022, o que compara com prejuízos de 1,6 mil milhões de euros em 2021. A empresa fechou o último trimestre do ano com lucros de 156,4 milhões de euros, de acordo com com um comunicado divulgado esta manhã. A empresa ainda gerida por Christine Ourmières-Widener diz que este desempenho foi impulsionado “pelos fortes resultados operacionais, pelo efeito positivo da política de cobertura cambial implementada, pelas medidas de reestruturação implementadas no Grupo e pelo reconhecimento de impostos diferidos referentes a prejuízos fiscais”.
Quase metade do lucro de 2022 da TAP resulta de efeitos fiscais
As contas de 2022 marcam o fim antecipado do mandato da presidente executiva. Christine Ourmières-Widener não foi autorizada a fazer conferência de imprensa sobre os resultados, no meio de um processo de demissão promovido pelo Estado na sequência da auditoria da Inspeção-Geral de Finanças sobre o acordo de saída de Alexandra Reis.
Consultor jurídico da TAP informou CEO de que podia ser o Estado a afastar Alexandra Reis
Na apresentação escrita, a CEO da TAP sublinha “as receitas operacionais anuais mais alto de sempre — quase 3,5 mil milhões de euros — e uma rentabilidade recorde apesar dos desafios operacionais”. Histórico, recorde, extraordinário, são algumas das expressões usadas por Christine Ourmières-Widener para destacar o que classifica de performance operacional similar à que estava planeada para 2025.
O Governo, primeiro Pedro Nuno Santos e depois o sucessor João Galamba, já tinha antecipado que os resultados da TAP no ano passado ultrapassaram as metas previstas no plano de reestruturação. Um mérito reconhecido à equipa da atual CEO, apesar da destituição. O plano previa que a TAP tivesse prejuízos ainda em 2022 e só voltasse a ter lucros em 2025. Os últimos lucros da empresa tinham sido apresentados em 2017, ano em que a gestão era privada.
Christine alerta para desafios de 2023: Inflação e novos acordos de empresa
A gestora enaltece ainda que o “desempenho extraordinário foi possível graças ao trabalho árduo e à dedicação de todos os colaboradores, parceiros e stakeholders.” E apesar de as reservas de passagens para 2023 não indiciam nenhuma alteração na procura, a TAP, avisa, “enfrenta ainda desafios. Em 2023 será necessário otimizar as receitas operacionais num contexto de incerteza, reduzir custos num contexto inflacionário, melhorar a satisfação dos clientes e negociar novos e mais produtivos acordos de trabalho.”
A instabilidade laboral, sobretudo com os tripulantes que fizeram uma greve em dezembro, foi uma das notas que marcou a operação no final de 2022, num ano em que a TAP teve de cancelar centenas de voos por causa dos constrangimentos nos aeroportos e da mudança dos sistemas de controlo aéreo.
As contas de 2022 marcam o fim antecipado do mandato da presidente executiva. Christine Ourmières-Widener não foi autorizada a fazer conferência de imprensa sobre os resultados, no meio de um processo de demissão promovido pelo Estado na sequência da auditoria da Inspeção-Geral de Finanças sobre o acordo de saída de Alexandra Reis.
A empresa destaca ainda as fortes receitas operacionais do último trimestre do ano passado no valor de mil milhões de euros e que superaram os níveis pré-crise em 29%, graças a maiores taxas de ocupação e também a preços mais altos, e um “desempenho financeiro sem precedentes” com um EBITDA (margem bruta) recorrente de 247,7 milhões de euros e EBIT (resultado operacional) recorrente de 94,7 milhões de euros, ambos superiores aos níveis pré-crise. Estes indicadores foram obtidos, apesar do aumento adicional dos custos com combustíveis, gerando margens de 23,7% e 9,1%, respetivamente.
Em 2022, a TAP transportou 13,8 milhões de passageiros, o que corresponde a uma subida de 136,1% face a 2021, apesar de ainda estar a 81% dos valores de 2019. O número de voos alcançou 87% do nível registado no ano antes da pandemia.
O load factor (taxa de ocupação) atingiu os 80%, mais 17 pontos percentuais do que em 2021. As receitas cresceram 151% para 3.485,0 milhões de euros. O PRAK (receita por passageiro) cresceu 48,2% para 6,68 cêntimos face a 2021, crescimento foi de 20,5% face ao ano de 2019. Os custos operacionais também subiram 73,4%, puxados pela fatura com os combustíveis que mais do que triplicou numa base anual para 1.097 milhões de euros. A TAP diz que a política de cobertura do preço teve um efeito positivo de 85,5 milhões de euros, apesar de ter apenas reduzido de forma marginal o efeito do jet fuel mais caro que ainda assim levou a uma subida de 458,4 milhões de euros nesta rubrica dos custos.
Em termos recorrentes, o CASK (custo por passageiro) dos custos operacionais, baixou 10,7% face a 2021, fixando-se em 7,04 cêntimos. Sem o custo dos combustíveis, a redução foi mais expressiva de 27,8%.
Focando no último trimestre do ano, a TAP teve uma margem bruta (EBITDA) positiva pelo sexto mês consecutivo desde que a crise na aviação se iniciou, de 247,7 milhões de euros. O resultado operacional recorrente atingiu os 94,7 milhões de euros, mais 125,6 milhões de euros do que em igual período do ano anterior.
O resultado líquido melhorou em 1.127,9 milhões de euros, em comparação com o quarto trimestre de 2021, para 156 milhões de euros, em resultado de uma melhor política de cobertura de riscos cambiais que, segundo a empresa, visa reduzir a volatilidade dos impactos das flutuações cambiais sobre a demonstração de resultados. A TAP assinala ainda o contributo positivo do registo de impostos diferidos referentes a prejuízos fiscais, mas não quantifica o efeito.
Excerto da apresentação aos investidores que compara evolução de indicadores operacionais com grupos dados como interessados na TAP
Na apresentação aos investidores, a companhia assinala que a melhoria de alguns indicadores foi superior à registada pelos grandes grupos de aviação europeus, IAG, Lufthansa e Air France/KLM, todos indicados como interessados na privatização da TAP.
No final do ano, o balanço da TAP apresentava “uma forte posição de caixa e equivalentes de caixa” equivalente a 916 milhões de euros. Nos últimos dias do ano, o Estado subscreveu a última tranche de 916,1 milhões da ajuda pública, da qual foi executada para uma fatia de 294 milhões de euros. As duas tranches adicionais de EUR 343 milhões cada serão recebidas no dia 20 de dezembro de 2023 e 2024, respetivamente. A dívida líquida desceu ligeiramente para 2.740 milhões de euros, com o nível de alavancagem a cair 33% no ano passado.
A TAP recebeu ajudas públicas de 2,55 mil milhões de euros e mais de 500 milhões de euros de compensações por danos causados pela pandemia, o que totaliza os 3,2 mil milhões de euros.
Governo diz que TAP deu um passo sólido e mostrou resiliência
O Ministério das Infraestruturas assinala “um crescimento da receita acima do esperado” e diz que a empresa mostrou a sua resistência perante fatores adversos.
“Num ano ainda afetado pela pandemia, pela guerra na Ucrânia, pelo disparar dos preços dos combustíveis e pela mudança do sistema de tráfego aéreo no hub, que condicionou de forma significativa a atividade da TAP, a companhia provou a sua resiliência”.
O ministério liderado por João Galamba diz ainda que os resultados derivam do “empenho no processo que visa garantir sustentabilidade operacional e financeira de longo prazo da empresa”, considerando ainda que “são um passo sólido nas perspetivas para o futuro da empresa e para o País”.
Atualizado às 15h15 com comunicado do Ministério das Infraestruturas.
