A tia Margareth estava cansada de ver a “moleca” magricela de cabelos encaracolados a jogar à bola nas ruas do bairro Honório Gurgel, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde também fazia atuações musicais com microfones imaginários. Incentivada pelos avós maternos, Larissa começou a cantar aos domingos no coro da Igreja de Santa Luzia. Tinha 8 anos e pensava que as pessoas iam à missa para a ouvir. “Ela queria ser artista, rica e famosa”, recordava a mesma tia em entrevista à Globo, em 2013. Há 10 anos, o maior desejo que tinha era conseguir comprar duas casas: uma para si e outra para a mãe. Mas a fama já era uma certeza. Nasceu Larissa de Macedo Machado, mas cedo se fez Anitta. Faz 30 anos esta quinta-feira, 30 de março.
Quando tinha 16 anos, pegou num frasco de desodorizante, o microfone disponível, e gravou um vídeo a cantar na casa de banho. O resultado foi parar à Internet e chamou a atenção da produtora Furacão 2000, que em 2010 a convidou a estrear-se nos bailes, onde se destacou pelo seu profissionalismo. “É facilmente a pessoa mais trabalhadora com quem já trabalhei”, dizia anos mais tarde Ryan Tedder, vocalista dos One Republic, ao The New York Times. “Ela não tem um botão de desligar.” Mas nada na sua carreira, mesmo nos modestos primórdios, foi ao acaso. O salto quântico do coro da igreja de Santa Luzia para o palco dos MTV American Music Awards onde, em 2022, foi declarada a Melhor Artista Feminina Latina, foi possível graças a um ponderado plano de ação que começou a desenhar há mais de uma década. “Tudo foi feito de forma planeada, mas para parecer casual”, escreve o jornalista Léo Dias no livro “Furacão Anitta” (Editora Agir, abril de 2019).
O “Show das Poderosas” fazia parte do seu primeiro álbum, “Anitta”, que lançou aos 20 anos, em 2013, e que “tomou o Brasil por assalto”, conta o Extra. Seguiram-se mais dois discos até, em 2016, ser convidada a cantar na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, onde partilhou o palco com Caetano Veloso e Gilberto Gil. O Brasil já era seu, faltava o resto do mundo. “No Brasil tenho 12 anos de carreira. Começou tudo a crescer muito rápido”, contava a Jimmy Fallon no “The Late Night Show”, em fevereiro do ano passado. “Alguém me disse que, para os brasileiros, era impossível rebentar fora do Brasil. E sempre que ouço a palavra ‘impossível’, quero conseguir fazê-lo.”
Tornou-se claro para Anitta que, para chegar além fronteiras, precisava de cantar noutras línguas e com artistas de outros países. O Brasil é o único na América Latina onde se fala português. “Já falo inglês, mas quero tirar o meu sotaque”, revelou em 2016 a Jô Soares. “Eles acham bonito quando falamos com sotaque, mas para cantar…. (…) Não dá para levar a sério uma música cantada assim. Eu faço um treino diário para isso.”
A primeira parceria internacional foi com Maluma em “Sim ou Não”, em 2016. Seguiram-se colaborações com Iggy Azalea e J Balvin, mas “Vai Malandra” foi a catapulta para o exterior, o primeiro funk brasileiro a entrar no top 20 do Spotify Global. Passou 64 dias no número 1 da plataforma brasileira e foi visto 15 milhões de vezes no YouTube nas primeiras 24 horas. Mas este estava longe de ser o seu maior feito. Em novembro de 2021, lançou “Envolver” e entrou nos “Guinness World Records” como a primeira artista latina a solo a chegar ao primeiro lugar do Spotify Global. Foi com essa música que foi vencedora na categoria antes mencionada dos MTV American Music Awards, mas que também foi distinguida nos Video Music Awards, com o prémio de Melhor Música Latina.
As origens de Anitta
Míriam era costureira e Mauro vendedor. Separaram-se quando Larissa, a mais nova, tinha 1 ano e 8 meses. Renan, o mais velho, tinha 4 anos. A mãe e os miúdos ficaram no Rio de Janeiro e o pai foi viver para a região dos Lagos, mas continuou sempre a sustentar os filhos. Durante algum tempo, os pais do ex-marido chegaram mesmo a emprestar um imóvel que tinham vazio para Míriam poder viver. Nessa altura, a sua Larissa passou a ser conhecida pelo nome artístico de Anitta com o lançamento do seu primeiro álbum. Já tinha saído de casa e vivia num apartamento arrendado na zona da Barra.
Em miúda, começou por entrar na catequese da igreja de Santa Luzia e só depois foi para o coro. “Alguns dizem que ela não canta. Não é verdade. A voz dela sempre sobressaiu no coral”, aponta Andréa Moreno, funcionária de várias décadas naquela paróquia. Estudou na Escola Municipal Itália, no bairro carioca de Rocha Miranda, e foi entre aqueles muros que deu o primeiro beijo aos 10 anos. Era namoradeira e boa aluna. “As suas notas tinham de ser as mais altas da turma”, diz a mãe, citada pelo Extra. Ao mesmo jornal, conta que o ex-marido era rígido com a filha. Uma vez, apareceu com o cabelo pintado de cor de rosa e Mauro obrigou-a a cortá-lo. “Se ele morasse connosco, ela nunca ia ser cantora. Hoje ele gosta de ter uma filha famosa e não pega mais no pé.”
Foi tirar um curso técnico de Administração numa escola na Tijuca e, aos 16 anos, começou a trabalhar como estagiária na empresa de mineração Vale do Rio Doce. Esteve lá 1 ano, diz que era boa no que fazia, mas não era feliz. Foi aí que resolveu que ia atrás do sonho da música e que gravou o tal vídeo de desodorizante na mão, aquele que acabaria por mudar tudo.
O casamento abusivo e os namorados famosos
Esteve casada durante menos de um ano com Thiago Magalhães. Foi uma relação “tóxica e baseada em assédio moral”, segundo a biografia assinada por Léo Dias, que recolheu relatos dos amigos e família sobre a forma como era tratada pelo empresário. “Eles não entendiam como alguém como a cantora suportava as atitudes ‘machistas e estúpidas do marido’“, pode ler-se num excerto, citado pelo Folha de S. Paulo. O casamento aconteceu na Floresta Amazónica em outubro de 2017, numa cerimónia íntima onde esteve apenas um pajé (figura importante dentro das tribos indígenas do Brasil) e o segurança de Anitta. A artista nunca se manifestou sobre o fim da relação.
É bissexual. Na adolescência, Larissa chegou a roubar namoradas ao irmão, Renan. Namorou com a cantora MC Rebecca e tem um caso antigo com a bailarina Ohana Lefundes. “Quando rola, rola. A gente não é presa a nada”, afirma. Continuou e continua a ser namoradeira. Também foi Léo Dias quem, no Carnaval de 2019, divulgou um vídeo que se tornou viral onde Anitta beijava Neymar. “Deve haver vídeo mesmo”, confirmou ela no Instagram. “Não só ele, mas metade do camarote. Se fizessem umas lista das pessoas que eu beijei, iam ter de fazer uma bíblia para caberem todos os nomes.”
Se essa bíblia fosse feita, ia estar recheada de namoros e casos com celebridades internacionais, como Zac Efron, o cantor colombiano Maluma, o jogador de futebol americano Tyler Boyd, o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton, e os brasileiros Fábio Porchat, Pedro Scooby e Luan Santana, para não nomear, claro Neymar, e tantos outros. “Tenho um [homem] em cada cidade, viajo muito, são muitos países. Ontem estava no Brasil, no dia anterior em Los Angeles, preciso de ter opções. Sou prática”, disse na mesma entrevista Jimmy Fallon, em fevereiro de 2022.
Mais de 50 cirurgias plásticas
Antes de chegar aos 30, já se tinha submetido a mais de 50 cirurgias plásticas, como implantes mamários de silicone, redução desses mesmos implantes, lipospiração, rinoplastia, preenchimentos com ácido hialurónico nos lábios e nas bochechas, aplicação de botox e remodelação do queixo. “Para mim, fazer uma cirurgia plástica é como mudar meu cabelo”, disse, citada pela Globo. “Não nasci com o dom da beleza. Precisei de umas 50 plásticas, botox”, afirmava em 2020 num live no Instagram.
Tem uma forma tranquila e desapegada de falar sobre o tema, o que já gerou muitas controvérsias no Brasil. Anitta não quer saber de nada, ri-se e põe o dedo na ferida. Num dos seus famosos diretos no Instagram, chegou mesmo a troçar do pai Mauro. “Chegou ao pé de mim e disse: ‘Como você é linda. Sei fazer filhas bonitas’. E eu falei: ‘Sou cheia de plástica, viu querido?'”