O Presidente da República disse esta segunda-feira, em Murça, que “não faz sentido” na atual conjuntura “falar periodicamente de dissolução”. Marcelo Rebelo de Sousa afasta, para já, utilizar a ‘bomba atómica’ da dissolução da Assembleia da República, utilizando como argumento a guerra na Ucrânia, a “crise financeira”, a execução do PRR e o facto de não existir “uma alternativa” na oposição. O chefe de Estado avisa, no entanto, que “o Governo não deve dar por garantido que por ter maioria absoluta isso é um seguro para não haver dissolução.”

Marcelo não diz ‘nunca’ à dissolução, diz apenas: agora não. E, nesse sentido, vai dizendo a Luís Montenegro que tem de arrepiar caminho, já que não lhe reconhece (ainda) a capacidade para liderar uma alternativa de Governo. “Do lado da oposição, há o grande desafio de juntar os números, que tudo somado dá 50% [nas sondagens] e transformá-los numa alternativa política. Que ainda não existe”, atira. O Presidente faz ainda outro alerta à direita: “A oposição não pode dar por garantido que o Presidente empurrado, empurrado, há-de um dia dar a dissolução”.

O Presidente vai assim avisando que não está “no bolso da oposição, nem no bolso do Governo”. E a própria cabeça diz-lhe para não dissolver mais: “Independentemente do que o Governo e a oposição pensarem, não faz sentido [a dissolução]. É fazer as contas, uma eleição significa quatro meses de paragem.” Apesar disso, diz esperar que o Governo governe “melhor e mais depressa”.

Marcelo faz ainda uma distinção sobre a altura em que Sampaio derrubou Santana e o momento atual, após Marques Mendes dizer que é mais grave o que se passa agora. “É tudo diferente no caso em particular. Sampaio estava no fim do mandato. Em segundo lugar, não havia guerra, não havia os fundos europeus. Logo nisso, é outro mundo”, começa por dizer. E acrescenta: “Acontecia [no tempo em que Sampaio] que a maioria era liderada por um primeiro-ministro que não tinha votos. Aqui o primeiro-ministro tinha votos. Havia um partido hegemónico à esquerda, que era alternativa óbvia. Neste momento, não há essa alternativa.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Marcelo arrasa “reunião secreta” que CEO disse que Galamba promoveu

O Presidente criticou ainda a “reunião secreta” que juntou um deputado do PS, membros dos gabinetes do Governo e a CEO da TAP antes da audição da mesma, dizendo que “não saiu bem aos olhos dos portugueses”. Para Marcelo, que fez uma analogia com os seus tempos de professor, “haver uma iniciativa reunindo deputados, Governo e gestão da TAP para preparar o que seria a audição parlamentar, é o mesmo que o professor fazer a preparação do exame com os alunos, antes do exame.”

Relativamente ao pedido feito à CEO da TAP para que fosse antecipado um voo para conveniência do Presidente da República, Marcelo reitera, como já tinha feito na semana passada, que “nunca” lhe “passou pela cabeça”, numa atitude que “seria estúpida e egoísta.” E acrescentou: “Só um político muito estúpido é que ia sacrificar 200 pessoas.”