Os médicos do Sudão denunciaram esta segunda-feira que vários hospitais do país tiveram de suspender as suas atividades, após serem alvo de ataques nos confrontos entre o Exército e grupos paramilitares que já mataram cerca de uma centena de civis.

“Hospitais e instituições de saúde em Cartum e noutras cidades do Sudão foram bombardeados“, nos confrontos que ocorrem desde sábado, o que causou “sérios danos” a vários deles, revelou o Comité dos Médicos do Sudão num comunicado publicado na sua conta na rede social Facebook.

“Tínhamos pedido às partes em conflito que não atacassem instalações médicas, mas o que aconteceu foi exatamente o contrário”, acusou esta estrutura.

Os hospitais universitários de Al Shaab e Cartum estão “fora de serviço” e há “um estado de confusão e medo entre os profissionais de saúde, pacientes, crianças e seus acompanhantes”, o hospital Al Daman, na cidade de Al Obeid, “foi fechado depois de as Forças Armadas o invadirem” e “o hospital internacional em Bahri sofre cortes de energia”, especificou.

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“Estes atentados são uma clara violação dos direitos humanos e dos acordos que estipulam a proteção das instituições de saúde”, sublinhou.

A organização apelou à comunidade internacional para “exigir que as partes em conflito não danifiquem as instalações de saúde, abram corredores humanitários e permitam a passagem de ambulâncias” e reiterou o apelo às organizações humanitárias para agirem “urgentemente para ajudar a retirar os feridos e fornecer fluidos intravenosos, bolsas de sangue e ajuda médica”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tinha já avançado que “vários dos nove hospitais de Cartum que recebem civis feridos não têm mais sangue, equipamento de transfusão, fluidos intravenosos e outros materiais vitais”.

As principais organizações da sociedade civil e partidos políticos do Sudão apelaram em uníssono, no fim de semana, não só ao fim dos combates, mas também ao fim da “militarização” que domina “o espaço público” do país há décadas.

Novo balanço aponta para pelo menos 97 mortos em confrontos no Sudão

Pelo menos 97 civis foram mortos e 942 ficaram feridos desde o início dos combates entre o Exército sudanês e grupos paramilitares, avançou esta segunda-feira o sindicato oficial de médicos.

Mais de um milhar de pessoas foram retiradas no domingo de centros e instalações em Cartum, através de corredores humanitários na cidade e numa breve pausa de três horas nos combates, disse à agência de notícias Efe um trabalhador do Crescente Vermelho sudanês.

O Exército do Sudão garantiu no domingo à noite que a situação era “extremamente estável” e que os combates eram “limitados”, enquanto os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) disseram estar “a caminho de uma vitória definitiva”.

Os confrontos entre as duas partes têm como pano de fundo uma luta de poder entre os dois generais que governam o Sudão desde o golpe de Estado de 2021.

Os intensos confrontos que começaram na manhã de sábado ocorrem dias depois de o Exército ter advertido que o país atravessa uma “conjuntura perigosa” que poderia levar a um conflito armado, na sequência do destacamento de unidades das RSF na capital sudanesa e noutras cidades, sem o consentimento ou a coordenação das Forças Armadas.