O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, considerou “um bocado titubeante” a criação de uma 5.ª Circular, de Alcântara ao Parque das Nações, como alternativa para a circulação automóvel na Baixa da cidade.

“Lamento que seja um plano um bocado titubeante, porque nestas coisas da mobilidade é preciso ter coragem para tomar decisões e não deixar isto ao livre-arbítrio do trânsito local, porque toda a gente é trânsito local, portanto sabemos que a certa altura as soluções podem não ser eficazes por causa disso”, declarou Miguel Coelho (PS).

O autarca de Santa Maria Maior, freguesia que se insere na Baixa da cidade, falava na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, disse que o plano de mobilidade para a criação de uma 5.ª Circular não é “muito distante” do apresentado pelo anterior executivo, sob a presidência do PS, que teve a sua contestação, com a propostas de alteração, até que lhe parecesse “viável e correto”.

Miguel Coelho disse ainda que teve de forçar a sua auscultação por parte da câmara para que fosse ouvido antes que o plano fosse apresentado publicamente, em defesa dos interesses dos residentes da freguesia.

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Numa analogia ao anúncio de “1.000, 1.000, 1.000” na área da habitação, referente às chaves entregues, às casas em construção e aos subsídios à renda, o socialista aconselhou “cuidado” a Carlos Moedas: “Quando se anda à 1.000 à hora, às vezes, a gente não repara nos pormenores, nem na paisagem concreta, portanto não vá o senhor presidente estampar-se, mesmo que esteja a guiar um Ferrari, e as coisas possam correr mal”.

A Câmara de Lisboa apresentou uma “5.ª Circular” imaginária, de Alcântara ao Parque das Nações, como alternativa para a circulação automóvel na Baixa da cidade, que estará condicionada a partir de 26 de abril devido a várias obras.

Nos próximos meses, Lisboa irá “ter obras atrás de obras que vão incomodar as pessoas”, mas são necessárias, afirmou Carlos Moedas.

Entre estas obras estão a expansão do Metro de Lisboa, a realização do Plano de Drenagem, para evitar situações de cheias na capital, a reabilitação da rede de saneamento e a repavimentação de vias, obras que já estão a condicionar o trânsito nas imediações da Rua da Prata e da Alameda Infante D. Henrique, respetivamente.

Aos deputados municipais, o presidente da câmara disse que a 5.ª Circular é para “evitar passar pela Baixa se o destino final não é a Baixa”, evitando o trânsito de atravessamento, assegurando que as pessoas podem continuar a ir a esta zona da cidade.

Neste âmbito, a deputada única do Livre, Isabel Mendes Lopes, questionou sobre a implementação da Zona de Emissões Reduzidas (ZER) da Avenida da Liberdade, Baixa e Chiado, considerando que este plano de mobilidade pode ser “uma oportunidade para vivenciar as ruas com menos automóveis a circular”.

“Sempre que ouvimos o Livre parece que o Livre não quer que as pessoas sejam livres de andar de carro”, afirmou o vice-presidente da câmara, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), que tem o pelouro da Mobilidade.

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O plano de trânsito, em vigor a partir de 26 de abril, “condiciona determinado território da cidade a acesso a trânsito local, e isso poderá ter, realmente, um grande impacto, mas o que se está a fazer não é decretar que é proibir andar de carro, mas é implementar as medidas que são necessárias para se ter maior qualidade de vida nesses territórios”, explicou o Anacoreta Correia, assegurando que a câmara vai monitorizar.

“Aquilo que for bom e resultar, pode permanecer. Aquilo que for mau, será repensado e será revisto. É um plano dinâmico. Não estamos a impor a nossa ideia à realidade, estamos a procurar testar na realidade novos caminhos” para responder às preocupações existentes, apontou o vice-presidente, reconhecendo que, “realmente, a zona histórica da cidade dá sinais de saturação”.

A poluição do ar em Lisboa, em particular na Avenida da Liberdade, que tem ultrapassado os níveis permitidos, foi também uma das preocupações apontadas pelos grupos municipais do PEV e do BE.

A propósito da 5.ª Circular, o presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Pedro Costa (PS), antecipou a sua oposição ao plano, lamentando a falta de auscultação das juntas de freguesia neste processo, recusando a ideia de que tal tenha um impacto marginal no território que governa, que inclui a Avenida Álvares Cabral, utilizada pelos automobilistas para chegar à Avenida Infante Santo.

O presidente da Junta de Freguesia da Estrela, Luís Newton (PSD), percebeu a posição do autarca de Campo de Ourique, mas reforçou que não é a primeira vez que se ouve falar na 5.ª Circular, tema que começou com o anterior executivo municipal devido ao impacto das obras do Metro de Lisboa: “Não concordei, mas é importante para a cidade”.