A secretária de Estado do Tesouro americano, Janet Yellen, lançou um sério aviso ao Congresso, apelando para a necessidade de ser aprovada a proposta do Governo para elevar o teto de emissão de dívida pública. O impasse entre democratas e republicanos (que controlam o Congresso) — e que não é novidade nos Estados Unidos, aconteceu um braço-de-ferro comparável em 2011 na administração Obama — pode resultar num incumprimento de pagamentos por parte do Estado que, por sua vez, provocaria uma “catástrofe económica” que iria fazer disparar as taxas de juro durante anos.
O discurso dramático, citado pela Reuters, foi feito para um evento com gestores e empresários da Califórnia onde Yellen carregou nas consequências negativas como a perda de empregos, ao mesmo tempo que aumentam os custos dos pagamentos de hipotecas e outros empréstimos bancários. Para a secretária de Estado do Tesouro, que já foi presidente da Reserva Federal (o banco central americano), é uma “responsabilidade básica” do Congresso elevar ou suspender o teto de 31,4 biliões de dólares para o Estado se financiar, avisando que o cenário de não pagamentos poderia desfazer todo o progresso económico feito pelos Estados Unidos desde a pandemia.
Um default (incumprimento) da nossa dívida iria “produzir uma catástrofe económica e financeira”, afirmou perante os membros da Câmara de Comércio de Sacramento, bem como tornar o custo dos empréstimos muito alto e onerar o investimento futuro. Ainda que este seja um cenário limite, sem poder emitir mais dívida o Governo poderia ficar impedido de realizar pagamentos às famílias dos militares e aos idosos que dependem da Segurança Social, exemplificou.
“O Congresso deve votar a favor de aumentar ou suspender o travão à dívida e deve fazê-lo sem condições e não à ultima da hora”.
A secretária de Estado do Tesouro (cargo que equivale a ministro das Finanças) tinha avisado no início do ano que o Governo americano só tinha recursos para pagar as contas até junho. O teto legal à emissão de dívida é um pilar da governação económica americana e obriga a pedir regularmente autorização para pedir mais dinheiro emprestado.
O Partido Republicano, que controla o Congresso, sinalizou na semana passada que daria luz verde a um aumento de 1,5 biliões de dólares no endividamento, mas em troca exige cortes na despesa de 4,5 biliões de dólares que poderiam pôr em causa programas fundamentais da administração Biden que esta terça-feira anunciou que se ia recandidatar à presidência — entre os quais está o perdão de dívida dos empréstimos para estudantes.
O braço-de-ferro está a deixar os mercados nervosos e o Washington Post diz que há investidores financeiros a preparem-se para a possibilidade de um default. Os mercados financeiros estão a mexer-se no sentido de fixar preços para este risco, acrescenta um analista ao jornal americano.