O presidente do PS considera que “é tempo de ir convocando outras pessoas para a atividade do Governo”. Carlos César respondia a uma pergunta sobre a possibilidade da sua própria vinda para Lisboa, para assumir funções executivas — que continua a afastar — nesta fase e acabou por assumir que é o momento de o primeiro-ministro fazer uma “avaliação” de cada um dos ministérios e tirar conclusões.
“Daria o meu contributo, só acho que é tempo de ir convocando outras pessoas para a atividade do Governo, de o ir fazendo de forma ponderada e lenta, num equilíbrio saudável, associando a experiência de uns ao entusiasmo de outros, não deixando que o entusiasmo seja capaz de trair a experiência, nem a experiência seja capaz de inibir a inovação”. Em entrevista ao Público esta tarde César não deu apenas o pontapé de saída desta frente, numa altura de especial aperto para o Governo de António Costa, como assume a tática.
Questionado sobre a necessidade de uma “grande remodelação”, o presidente dos socialistas começou por assumir que “os factos ocorridos têm de ser evitados” e que “a coordenação interna do Governo melhorou bastante”, para acrescentar de seguida: “Mas acho que é importante que o primeiro-ministro se mantenha com grande atenção para a necessidade de ver ministério a ministério, setor a setor, se há ou não necessidade de algum refrescamento”.
A entrevista ao Público decorreu em direto neste sábado e o presidente do PS falou do momento político e do caso que envolve o ministro João Galamba. Assumiu que, nesta altura, as pessoas têm algumas dúvidas sobre o Governo e a sua ação” e que “importa ultrapassar todos estes casos rapidamente, o Governo tem de evitar casos como este. Talvez usando maior rigor e disciplina, sob pena de ser penalizado mais tarde na legislatura quando ocorrerem eleições”.
Quanto à situação que aconteceu no ministério de Galamba, envolvendo o seu ex-adjunto, o socialista classifica-a de “caricata e imprópria do âmbito governamental”. Confiando na palavra do ministro, que deu explicações este sábado, César diz que “não tem razões para não acreditar” no ministro e que se esse tivesse avançado dados falsos “seria duplamente grave”.
O presidente do partido admite também que o dossier TAP tem contribuído para a má imagem do Executivo, considerando mesmo “imprudentes e inapropriados” alguns dos procedimentos que estão em causa em todo este capítulo. O “ruído”, diz, “tem impedido a visualização e audição de alguns sucessos do Governo”, ao mesmo tempo que olha para as sondagens admitindo que “não encantam” o PS.
Neste ponto da TAP, o socialista ainda fala na necessidade de ter um caderno de encargos, na venda da TAP, condizente com os interesses nacionais. “Para mim o que conta é o caderno de encargos associado à venda. Gostava que a venda salvaguardasse rotas, serviços de transporte compatíveis com o que é importante para o país no contexto comercial e da acessibilidade, muito mais do que saber se os milhões em causa cobrem ou não os valores envolvidos na nacionalização” da companhia, afirma.
Carlos César não deixou também de atirar ao Presidente da República — uma linha que começa a ser assumida pelo PS, com o ministro e presidente do PS-Lisboa, Duarte Cordeiro, a fazer o mesmo no dia anterior, também em entrevista ao Público. O presidente do PS começa por referir o “poder da palavra” do Presidente da República para logo a seguir dizer que ele deve ser exercido “com toda a precaução, evitando alimentar equívocos, promovendo o esmero democrático e não isuflando a instabilidade política”.
Diretamente sobre Marcelo diz que “não tem o dom da infabilidade” e que neste momento “conservam-se todas as condições para o relacionamento entre o Governo e o Presidente da República que é muito importante do ponto de vista da estabilidade política”. Volta outra vez à indireta para dizer que não valoriza “declarações do Presidente que afetem essa boa relação porque ela deve estar sempre na primeira linha das condições para a estabilidade política.
Sobre a dissolução, afasta-a: “Não há nenhuma razão que possa ser ponderosa para que houvesse dissolução da Assembleia da República ou demissão do Governo”.