Durante muitas semanas, era apenas um sonho. Nas últimas semanas, era uma questão de tempo. Faltava só um gatilho para o Nápoles fazer aquilo de que tanto gosta e tinha saudades: festejar antes da hora. No último domingo, no terreno do grande rival entre todas as rivalidades que existem com os clubes do norte do país, a vitória em Turim frente à Juventus com um golo de Raspadori nos descontos deu início às comemorações pela conquista da Serie A 33 anos depois do segundo título de Diego Armando Maradona em Itália.

Houve um pouco de tudo. À noite, por exemplo, foram projetados os três símbolos do scudetto já a contar com o de 2023 enquanto as ruas faziam uma espécie de pré-festa-da-festa-já-festa à grande e à napolitana. Também havia quem quisesse ir mais à frente, com os responsáveis do parque Vesúvio a fecharem portas depois de saberem que vários adeptos queriam subir ao Monte Vesúvio com vista para a cidade com tochas que simbolizassem a vitória na Serie A. Aliás, esse foi um dos motivos que levou a Liga a adiar o encontro com a Salernitana de sábado para domingo, já depois do Inter-Lazio que se realizava esta manhã. “Vai ser de certeza um autêntico terramoto de alegria”, comentava Gaetano Mafredi, presidente da Câmara. Faltava apenas a conjugação de resultados para carimbar em definitivo essa conquista já festejada.

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Para quem pensasse que o encontro no Giuseppe Meazza seria mais tático e com menos motivos de interesse, a primeira parte derrubou por completo a ideia num grande jogo de futebol com oportunidades juntos das duas balizas, um golo anulado a Mkhitaryan e a vantagem para a Lazio num golo de Felipe Anderson, jogador brasileiro que passou sem sucesso pelo FC Porto e que aproveitou um erro de palmatória de Bastoni para colocar o conjunto de Roma na frente (30′). Até ao intervalo, Mkhitaryan e Barella ficaram muito perto do empate, Onana também teve uma intervenção importante mas o 1-0 iria subsistir até ao descanso.

No segundo tempo, o conjunto de Maurizio Sarri ainda teve duas saídas em transição que podiam quase ter terminado a partida mas foi o Inter a carregar no ataque para chegar pelo menos ao empate, com Provedel a assumir-se como uma das grandes figuras com uma série de intervenções que foram negando o golo aos nerazzurri que tinham entretanto lançado em campo Lautaro Martínez, Çalhanoglu e Dumfries. Toda a insistência acabou por trazer frutos já no quarto de hora final, com Lautaro a receber uma assistência de Lukaku na área e a rematar de carrinho para o empate (77′). De Milão a Nápoles, os festejos eram mais do que muitos. E enquanto Sarri pedia uma reação, Inzaghi queria mais para chegar à vitória e o 2-1 chegou mesmo no final por Gosens, após nova assistência de Lukaku com o alemão a ficar no chão lesionado (83′).

Se a festa em Nápoles já estava a ser feita quando Lautaro Martínez fez o empate (no sul de Itália é assim, as canas são lançadas muitas vezes antes dos festejos), o bis do campeão mundial pela Argentina, depois de um erro num atraso de bola para Provedel, acabou por fechar de vez as contas da partida em 3-1 (90′), sendo que a batalha pela Champions a seis jornadas do final vai ser titânica com três vagas entre Lazio (61), Juventus (59), AC Milan (57), Roma (57), Inter (57) e Atalanta (55). Lá em cima, com 78 pontos, estava o conjunto de Luciano Spalletti. E bastava mais uma vitória com a Salernitana para fazer a festa do título.

No entanto, com um Estádio Diego Armando Maradona a abarrotar e com um ambiente fabuloso, houve uns sinais de ansiedade que foram travando esse dia memorável. A forma como Paulo Sousa montou a equipa para tentar travar o melhor ataque da Serie A foi dando frutos, Guillermo Ochoa também foi respondendo à altura quando foi chamado e o intervalo chegou ainda com um nulo no marcador entre o 9-1 em remates, 4-0 em cantos e 80%-20% na posse de bola. Era notório que a vontade dos jogadores do Nápoles em fechar a questão acabava muitas vezes por atrapalhar as ações ofensivas dos visitados mas um golo de cabeça de Matthias Olivera na sequência de um canto (62′) acabou por ser um desbloqueador que deixou (ainda mais) o estádio e os seus arredores em completa apoteose mas a festa terá de ficar adiada por mais uma semana, com Boulaye Dia a atirar um balde de água fria com um grande golo que fez o empate (83′).