Olhando para tudo aquilo que tem sido a temporada, encontrar FC Porto e Valongo numa final da Liga dos Campeões não podia deixar de ser uma surpresa. Surpresa e uma grande surpresa. Os azuis e brancos estão a ter uma das campanhas mais irregulares dos últimos anos, sendo exemplo paradigmático aquilo que ocorreu nas últimas duas semanas com uma vitória na Luz frente ao líder Benfica no fecho regular do Campeonato (que não alterou o quarto lugar na primeira fase) e logo a seguir uma derrota nas meias-finais da Taça de Portugal com o Sp. Tomar após uma segunda parte irreconhecível. Já o conjunto do mítico San Siro não foi além da sexta posição do Campeonato, com apenas nove pontos em 30 possíveis contra os cinco primeiros da prova. Em Viana do Castelo, superaram tudo e todos. E ia ser feita história este domingo.

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O FC Porto, no lado teoricamente mais complicado da Final Eight, apresentou a melhor versão não só da época mas também da era Ricardo Ares. Começou por derrotar o Benfica nos quartos (4-2), num encontro onde as bolas paradas fizeram a diferença mas onde a exibição ao longo dos 50 minutos foi melhor do que a dos encarnados, e bateu depois o todo poderoso Barcelona (4-3), crónico candidato a todos os títulos que dispute. Com isso, tinha uma oportunidade de ouro de quebrar um dos maiores obstáculos desde que Pinto da Costa assumiu a presidência (com essa história de o primeiro Campeonato na modalidade onde o líder chegou a ser diretor a coincidir com o primeiro ano completo na presidência em 1982/83), com um total de 11 finais perdidas desde 1990, quando Vítor Hugo, Franklim, Tó Neves, Realista e companhia somaram o segundo título europeu dos azuis e brancos com um triunfo frente aos espanhóis do Nóia.

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Já o Valongo foi passando adversários que conhece bem. Nos quartos, contra um Sporting com quem perdera nos dois jogos do Campeonato, a formação de Edo Bosch esteve sempre na frente e conseguiu mesmo passar com um triunfo pela margem mínima (3-2). Nas meias, frente a uma Oliveirense com quem se tinha dado melhor no Campeonato mas que tinha afastado os italianos do Trissino (campeões em título), nova vitória da crença e da perseverança no prolongamento por 6-4 a carimbar a segunda presença consecutiva na final da Liga dos Campeões, neste caso com um outro “peso” tendo em conta que a temporada de 2021/22 foi marcada pelo boicote dos principais clubes à principal prova europeia de hóquei em patins.

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Numa final especial para Edo Bosch, que durante anos a fio defendeu a baliza dos dragões e é agora treinador do Valongo, e para jogadores como Telmo Pinto ou Rafa, que fizeram parte daquela equipa que ficou para a história do Valongo após sagrar-se campeã em 2014 com Ângelo Girão e Henrique Magalhães, ou o FC Porto quebrava a série de finais perdidas consecutivas em 1997, 1999, 2000, 2004, 2005, 2006, 2013, 2014, 2018, 2019 e 2021 ou era o Valongo a sagrar-se pela primeira vez campeão europeu, sendo a quinta equipa nacional a conseguir o feito depois de Sporting (três), FC Porto (dois), Benfica (dois) e Óquei de Barcelos (um). No final, à 12.ª foi mesmo de vez e os dragões conquistaram a Liga dos Campeões com Pinto da Costa a assistir no pavilhão, naquele que era o título mais ansiado pelo líder portista este século nas modalidades.

O Valongo entrou com grande personalidade na partida, tendo os dois argentinos, Facundo Bridge e Facundo Navarro, em constantes tentativas de saídas rápidas para o ataque com remates de meia distância para três intervenções decisivas de Xavi Malián. No entanto, e quando o conjunto de Edo Bosch parecia melhor, foi o FC Porto a colocar-se em vantagem numa grande picadinha de Rafa (8′). A partida poderia mudar de feições mas o Valongo não acusou em nada o golo sofrido, continuando melhor em ataque organizado e chegando mesmo ao empate por Miguel Moura, que tinha antes visto um golo anulado e arriscou o remate de ângulo impossível vindo de trás da baliza para o 1-1 (13′). Voltava tudo à estaca inicial mas com os portistas a terem o mérito de fazer imperar a maior experiência nestas andanças, vendo um golo anulado a Xavi Barroso por desviar com o patim (15′), o 2-1 por Carlo Di Benedetto em mais uma transição 3×2 (18′) e o 3-1 por Gonçalo Alves na sequência de um livre direto após cartão azul a Facundo Navarro (21′).

A formação do Valongo tinha um problema extra além da desvantagem, por perceber que teria de arriscar mais mas sem descurar a parte defensiva e as transições dos azuis e brancos que iam fazendo a diferença já com Mena também em campo com essa capacidade de desequilíbrio. Foi isso que sucedeu, com o FC Porto a entrar melhor em termos defensivos e a aproveitar uma diagonal de Carlo Di Benedetto com movimento de bloqueio ao meio de Xavi Barroso para ir ao lado contrário rematar rasteiro para o 4-1 (30′). Com Xavi Malián a grande nível na baliza, os dragões tinham a vitória na mão, apostando em ataques agora bem mais prolongados na gestão da vantagem. O encontro continuaria sem mais golos, entre um penálti de Facundo Bridge ao poste e um livre direto de Gonçalo Alves à barra, e a história estava mesmo escrita apesar de haver ainda margem para o 5-1 final de Xavi Barroso num toque com classe a enganar Xano Edo (48′).