O tema da Covid-19 no pelotão da Volta a Itália começou quase como uma piada que afinal passou mesmo a realidade. No final da etapa com chegada a Fossombrone, depois de uma primeira etapa com chegada a subir onde ninguém quis arriscar, Primoz Roglic cerrou os dentes e conseguiu deixar Remco Evenepoel para trás num ataque onde conseguiram apenas responder os dois melhores da Ineos. “Afinal para um tipo que tem Covid-19 não está nada mal, não?”, atirou Geraint Thomas, a propósito de um rumor que entretanto a Jumbo iria negar de que o seu chefe de fila tinha contraído o novo coronavírus. O esloveno era apenas um boato, outros houve que foi muito mais do que isso e o Giro está completamente aberto após a primeira semana.

Roglic lançou o caos para lembrar quem se tinha esquecido dele e nem João Almeida resistiu

Depois das saídas como opção de Giulio Ciccone, Tobias Foss, Robert Gesink ou Jos van Emden, os últimos dias foram particularmente alarmantes nesse sentido. Caiu Rigoberto Urán, saiu de cena ainda antes de mais um contrarrelógio Filippo Ganna, abandonou agora o líder Remco Evenepoel. “Já mudámos algumas coisas para que não existam mais problemas. Talvez devêssemos ter atuado um pouco antes…”, assumiu Mauro Vegni em nome da organização do Giro, anunciando o regresso das máscaras obrigatórias em zonas em que os corredores estejam juntos extra prova. A Soudal Quick-Step não teve mais nenhum caso positivo na ronda de testes feita após o resultado positivo do belga mas a preocupação do pelotão aumentou.

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Houve apenas 11 corredores a deixar uma grande volta quando seguiam na liderança da mesma, sendo só o terceiro a fazer isso no Giro depois de Eddy Merckx (1969) e Marco Pantani (1999) saírem por suspeitas de resultados positivos manipulados nos testes anti-doping. Também por isso tinham abandonado outros líderes do Tour e da Vuelta, com essa particularidade de Remco Evenepoel ser o primeiro a sair no primeiro lugar após ter contraído Covid-19. No entanto, e por não haver agora a obrigatoriedade de abandono mesmo com um teste positivo ao contrário do que acontecia em 2021 – e que fez com que João Almeida deixasse a prova na terceira semana quando ia na quarta posição –, levantaram-se dúvidas em torno da decisão.

Uma notícia que pode mudar tudo: Remco Evenepoel desiste do Giro por Covid-19 e João Almeida sobe a quarto a 22 segundos da rosa

“Nós não sabemos o que se está a passar debaixo da pele deles, isto não é um trabalho das 9h às 17h sem qualquer tipo de risco”, defendeu Patrick Lefevere, líder da Soudal Quick-Step, na resposta a um tweet que questionava o porquê da saída de prova quando afinal o belga conseguiu ganhar o contrarrelógio de 35 quilómetros e recuperou a camisola rosa da liderança do Giro com boa vantagem sobre a concorrência. Ao invés, a formação do vencedor da Vuelta recordou as dificuldades que sentiu ao longo do percurso, partindo de uma forma forte que fazia adivinhar uma diferença bem maior antes de ganhar só por um segundo.

“Estou muito desiludido por ter de abandonar a corrida. Como está previsto no protocolo da equipa, fiz um teste de rotina que infelizmente acabou por dar positivo. A minha experiência aqui tem sido muito especial e estava ansioso por competir nas próximas duas semanas. Não posso agradecer mais a todos os corredores e staff que se sacrificaram por mim na preparação para o Giro. Vou estar como um adepto a torcer por todos nas próximas duas semanas”, comentou Remco em declarações à assessoria de imprensa da equipa no domingo. Esta segunda-feira, o corredor seguiu de carro para casa, onde vai ficar nos próximos dias.

Quem ganhou ficou furioso, quem perdeu ainda sorri: João Almeida desce a quinto, Remco volta à liderança do Giro

Certo é que a corrida fica mais aberta do que se poderia pensar, com os cinco primeiros classificados com uma diferença de apenas 22 segundos na antecâmara de uma segunda semana que começa com duas etapas apenas para rolar antes de alguma montanha entre Bra e Rivoli na quinta-feira e duas tiradas mais a subir com chegadas a Crans-Montana (sexta-feira) e Bérgamo (domingo). A Ineos, por ter duas unidades na frente (o líder Geraint Thomas e Tao Geoghegan Hart, a cinco segundos) e mais três no top 15 (Pavel Sivakov, Thymen Arensman e Laurens De Plus), é apontada agora como favorita à vitória mas sem esquecer Primoz Roglic (segundo a dois segundos) com a armada da Jumbo, João Almeida como UAE Team Emirates que também tem Jay Vine em décimo e o próprio Aleksandr Vlasov, o melhor posicionado da Bora.

“Quero terminar no pódio e, neste momento, não estou no pódio. Mas, por agora, estou feliz. Os primeiros nove dias foram muito bons. No papel, não pareciam tão difíceis, mas fisicamente foram duros. Por isso, no geral, foi uma primeira semana boa. Estou onde era expectável que estivesse até porque os dias mais difíceis estão para vir. As decisões vão ser feitas na última semana, até lá nada está ganho ou perdido”, comentou João Almeida, citado pela Lusa, numa videoconferência promovida pela UAE Team Emirates.

“Agora sem o Remco é claro que a corrida fica mais pobre, seria mais disputada. É menos um adversário mais forte mas no final do dia os outros estarão lá e são muitos como o  Teo [Geoghegan Hart], o Vlasov, Thomas e Roglic. Sem o Remco as outras equipas provavelmente terão uma tática diferente a partir de agora. A Ineos vai ter uma camisola para defender, tem dois ciclistas na frente, e a Jumbo vai ter de atacar, embora não tenha a melhor equipa devido a uma série de contratempos. Nós também tentaremos, depende da etapa, da situação…”, acrescentou ainda o corredor de A-dos-Francos no primeiro dia de folga.