Remco Evenepoel já está a descansar em casa depois da viagem de regresso após ter testado positivo à Covid-19 mas ainda continua a ser uma figura muito presente na Volta a Itália em bicicleta. Desta vez, esta quarta-feira, foi a Gazzetta dello Sport, que é propriedade da mesma empresa que tem os direitos do Giro, a colocar em causa da decisão do corredor, dizendo que o abandono não faz sentido numa fase em que estava na frente da corrida e tinha condições (pelo menos teóricas) de disputar a camisola rosa até ao final. A isso juntaram-se ainda outros comentários que voltavam a dizer que Remco só deixou a prova porque percebeu que esse avanço que tinha não seria suficiente para bater os adversários e que terá começado a pensar já na hipótese de fazer o Tour. Perante todas as críticas, Patrick Lefevere, dono da Soudal Quick-Step, “explodiu”.

Uma notícia que pode mudar tudo: Remco Evenepoel desiste do Giro por Covid-19 e João Almeida sobe a quarto a 22 segundos da rosa

“Ele estava totalmente destruído e era possível vê-lo. Não tens de ser médico para perceber isso. Teve um teste positivo à Covid-19 e agora as pessoas dizem que foi para casa de propósito? Acho que se for ao meu advogado, qualquer pessoa que tenha dito isso terá problemas, é uma calúnia. Viemos ao Giro para ganhar. Era possível ver que o Remco estava doente até no dia anterior ao contrarrelógio. Estava cansado mas mesmo assim ganhou o contrarrelógio. Merece respeito por isso”, defendeu o dirigente em declarações reproduzidas por vários sites especializados, ao mesmo tempo que explicou uma reunião na sede da organização da prova.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não vim aqui para ver o Mauro Vegni [diretor da prova], apenas parei para beber qualquer coisa. Mas têm razão, devíamos ter ligado. Não me tinha apercebido que isso não tinha acontecido. Estava em casa quando tudo aconteceu e foi como uma bomba explodiu. Ficámos todos em choque. Acho que as pessoas percebem isso”, comentou também perante as notícias que davam conta de um pagamento de 500.000 euros para que a Soudal Quick-Step apresentasse uma equipa que contasse com o último vencedor da Vuelta. No entanto, os problemas do conjunto de Remco Evenepoel estavam longe de ficar pela situação do número 1.

João Almeida e uma etapa entre boas e más notícias: Vlasov desiste num dia com muitas quedas mas Emirates perde Jay Vine na geral do Giro

Antes do início da 11.ª etapa, a equipa sofreu mais quatro baixas por testes positivos à Covid-19, de Jan Hirt, Josef Cerny, Louis Vervaeke e Mattia Cattaneo, que deixou a Soudal Quick-Step reduzida apenas a Davide Bellerini, Pieter Serry e Ilan van Wilder. Em paralelo, também Stefano Gandin (Corratec) e Andrea Vendrame (AG2R) testaram positivo à Covid-19 e ficaram de fora, ao passo que Natnael Tesfatsion e  Jonathan Caicedo abandonaram por outras questões físicas. A menos de metade do Giro, o total de saídas do pelotão aumentou para 34, sendo que havia dúvidas sobre as condições de outros corredores que sofreram quedas na véspera perante uma etapa com muita chuva. Há 30 anos que não havia nada assim.

Era neste contexto que continuava em prova João Almeida (que no ano passado teve de deixar o Giro na terceira semana quando procurava chegar ainda ao pódio, sendo que aí existia uma obrigatoriedade de sair em caso de teste positivo à Covid-19 que hoje já não acontece), que enfrentava uma 11.ª etapa com quase 220 quilómetros entre Camaiore e Tortona com três contagens pequenas de montanha de terceira e quarta categorias. E era com todos estes abandonos que o português liderava a camisola branca que no ano passado era sua até à desistência já com um avanço superior a dez minutos a poucas etapas do final.

“Este é o meu último ano na classificação da camisola da juventude. No ano passado, a Covid-19 tirou-me a hipótese de a ganhar. Este ano espero conseguir, mas vamos ver, com a Covid-19 de novo… Vamos ver o que acontece, tudo pode acontecer. Vamos manter-nos positivos mas de uma boa forma. Acredito em mim, na boa preparação e tenho-me sentido bastante bem. Tenho rivais complicados mas acredito que posso ganhar. Se não se acredita, não se alcança. O objetivo é o pódio”, frisou após uma décima etapa “dura e stressante”: “Só pensava em atravessar a meta e ir aquecer-me. Teve muito frio e muitos quilómetros”.

“Não estou no pódio mas, por agora, estou feliz. As decisões são na última semana, até lá nada está ganho ou perdido”, destaca João Almeida

Temas de conversa não faltavam na 11.ª etapa, que começou com uma fuga de seis corredores a abrir as hostilidades, tendo Thomas Champion, Diego Pablo Sevilla, Filippo Magli, Laurenz Rex, Alexander Konychev e Veljko Stojnic com uma vantagem que chegou aos quatro minutos. No primeiro sprint intermédio, na passagem por Borghetto di Vara, Veljko Stojnic foi o mais rápido à frente Laurenz Rex e Diego Pablo Sevilla. Já em Passo del Bracco, numa contagem de terceira categoria, Sevilla levou a melhor sobre Stojnic e Magli. A 100 quilómetros do fim, e ao contrário do que aconteceu noutras tiradas deste Giro onde o pelotão deixou a fuga andar e não conseguiu depois colocar a vitória para os sprinters, a diferença era de dois minutos. Em Colla di Boasi, numa montanha de terceira categoria, Stojnic foi o primeiro à frente de Magli e Sevilla.

Ao contrário do que aconteceu na véspera, durante largos períodos não houve chuva no caminho, sendo que as imagens que vinham de Tortona não eram as melhores a cerca de uma hora e meia da chegada com poças de água nos metros finais da etapa mesmo havendo uma estrada mais larga no final. Também a cerca de 70 quilómetros tinham piorado, com o piso molhado a levar a uma queda com vários elementos da Ineos, da Jumbo e da UAE Team Emirates. Primoz Roglic foi um dos que caiu, o líder Geraint Thomas também mas a situação mais preocupante era mesmo a de Tao Geoghegan Hart, com o inglês vencedor do Giro em 2020 que ocupava a terceira posição a ficar muito combalido no chão. Entre a Jumbo, Sam Oomen deu de imediato a bicicleta a Roglic ficando à espera do carro da equipa. Na Ineos, os sinais não eram nada positivos e também a Movistar acionava alarmes depois de um choque violento de Óscar Rodríguez contra um sinal.

Uns minutos depois, a pior notícia possível chegava através de uma imagem: Tao Geoghegan Hart estava a ser colocado de maca numa ambulância, confirmando o abandono no Giro. João Almeida subia de forma virtual ao pódio, sendo que a própria estratégia da Ineos começava a ser alvo de especulação tendo em conta que além de Thomas, que foi o mais rápido a levantar-se, havia um Sivakov também atrasado e com marcas da queda e um Thymen Arensman com as características ideais para a terceira semana (em relação ao elemento da UAE Team Emirates era Alejandro Covi e ficou também com várias feridas). Ainda assim, e quando se viu como Roglic ficara “rasgado” da ida ao chão quando voltou a trocar de bicicleta, havia quase a convicção de que nesta Volta a Itália não cair nem ficar com Covid-19 era meio caminho para o sucesso…

Depois de toda a convulsão da queda que envolveu alguns dos favoritos, o pelotão voltou a acertar passo e a 40 quilómetros estava apenas a pouco mais de 30 segundos dos fugitivos que estavam ainda na frente. No entanto, e aproveitando a parte da descida, Laurenz Rex e Veljko Stojnic conseguiram mais uma vez descolar com uma vantagem acima de um minuto, obrigando o pelotão a um esforço extra com a estrada molhada a provocar mais alguns sustos mesmo sem queda até nos próprios fugitivos até Rex ficar sozinho mas sem um avanço que lhe permitisse sonhar com uma chegada sozinho. A Trek preparava a chegada de Mads Pedersen, as equipas rivais iam respondendo a nível de colocação na frente e tudo iria decidir-se mesmo ao sprint. Até aqui, Jonathan Milan, Michael Matthews, Kaden Groves e Mads Pedersen levavam uma vitória cada, com Pascal Ackermann e Gaviria sempre na frente. Agora, o triunfo sorriu a Pascal Ackermann, sendo que dentro dos últimos quilómetros houve mais uma queda que provocou um corte grande no pelotão.

Se Ineos e Jumbo tiveram dias complicados (mais difícil para a equipa inglesa), a UAE Team Emirates teve Alessandro Covi a cair sem grandes mazelas a não ser as feridas mas globalmente ganhou o dia, não só pelo primeiro triunfo da equipa neste Giro com Ackermann a bater Milan, Cavendish e Pedersen mas também pela subida de João Almeida ao pódio da geral após a desistência de Tao Geoghegan Hart. E as próprias imagens que apareciam da zona onde estavam os autocarros da equipa mostravam bem a felicidade e quase alívio por mais um objetivo cumprido nesta edição de 2023. Na geral, Thomas lidera com dois segundos de avanço sobre Roglic, com Almeida em terceiro a 22 segundos e Leknessund a 35”. Seguem-se Damiano Caruso (1.28), Lennard Kämna (1.52), Eddie Dunbar (2.32), Thymen Arensman (2.32), Laurens De Plus (2.36) e Aurélien Paret-Peintre (2.38) no top 10 que perdeu além de Tao outro Ineos, Pavel Sivakov.