A delegação portuguesa na Arábia Saudita pode ter mais um representante na Primeira Liga. O treinador Filipe Gouveia conseguiu a subida ao escalão principal do futebol saudita com o Al Hazem. A equipa que conta no plantel com Ola John, Francis Cann, Joel Tagueu e Ben Traoré, todos jogadores com passado recente em Portugal em clubes como Benfica, Vizela ou Marítimo, só ficou atrás do Al-Ahli Jeddah, um dos clubes mais fortes do país. O técnico que se sagrou campeão nacional com o Boavista enquanto jogador não escondeu, em entrevista ao jornal O Jogo, as dificuldades que teve em atingir o êxito.
“Tivemos salários em atraso, mas felizmente o grupo foi forte e deu a volta à situação. A partir de dezembro, o nosso presidente ajudou muito, porque contratámos quatro jogadores. Na primeira volta, fomos a única equipa que teve apenas dois jogadores estrangeiro”, lamentou. “Os problemas financeiros não aconteceram apenas no Al Hazem, mas em praticamente todos os clubes. Tem a ver com o Governo. Podem atrasar o pagamento durante dois ou três meses, mas acabam por pagar. Este ano foi demais e tivemos vários meses em atraso. Quando acontecem esses atrasos o jogador saudita complica um bocadinho…”.
A ida de Cristiano Ronaldo para a Arábia Saudita, diz o treinador português que admite que tem possibilidades de permanecer no país, mas ainda não definiu o futuro, alterou a maneira como os locais olham para o futebol. “Os jogadores sauditas têm muita dificuldade em serem profissionais, em descansar e com tudo aquilo que está relacionado com um atleta de alto rendimento. Desse ponto de vista, os jogadores estrangeiros são muito importantes. A vinda de Cristiano Ronaldo foi boa, pelo jogador e pelo profissional que é. Os sauditas percebem que é preciso profissionalismo, não chega só ter dinheiro”, comentou na mesma entrevista.
Habituado à realidade portuguesa onde treinou Santa Clara, Académica, Sp. Covilhã, Leixões e Vilafranquense, Filipe Gouveia não ficou surpreendido com o que viu na Arábia Saudita. “Estive dois anos no Al Jabalain e, nos dois anos seguintes, estes tiveram 12 treinadores“, exemplifica, recordando a primeira passagem no país. “Esta época, na Segunda Liga, só quatro treinadores aguentaram até ao fim, três deles portugueses: eu, o Jorge Mendonça (Al Akhdoud) e o Quim Machado (Al Orobah). Todos os outros clubes tiveram, em média, três a quatro treinadores. Na Arábia Saudita, podemos ser despedidos a qualquer momento”. Filipe Gouveia critica a falta de projetos desportivos, o que leva a “coisas surreais”, classifica. “Interessa é os resultados, como em todo o lado, mas aqui ainda mais. Aqui até temos treinadores despedidos na pré-época. No Al Faisaly, um clube fortíssimo e que agora já não consegue subir, o presidente despediu o treinador que ia em primeiro lugar”.
O técnico português festejou a subida de divisão com uma camisola com a imagem do pai que faleceu recentemente, subida essa que foi alcançada num campeonato onde são promovidas quatro equipas. A uma jornada do fim, o Al Hazem está em segundo lugar, atrás do já campeão Al-Ahli Jeddah. Também em lugares de promoção estão o Al Akhdoud, de Jorge Mendonça, e o Al Riyadh, que conta com o guarda-redes português Emanuel Novo.
Filipe Gouveia conta que Ola John, com passagens em Portugal pelo Benfica e pelo V. Guimarães, “podia dar mais se se cuidasse mais um pouco”, ainda assim “é um jogador refinado e diferente de todos os outros”. O neerlandês conquistou três Campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça, fazendo parte da equipa que chegou a final da Liga Europa em 2012/13 com Jorge Jesus.