Quando Cristiano Ronaldo foi apresentado como reforço do Al Nassr, e à parte de toda a discussão sobre um alegado efeito de sportswashing que já tinha sido muito discutido durante a realização do Campeonato do Mundo no Qatar, havia indicações de que o acordo era muito maior do que um mero contrato de trabalho de jogador de futebol. Os responsáveis não demoraram a separar a imagem do avançado em relação à hipotética candidatura da Arábia Saudita ao Mundial de 2030 (até porque Portugal também tem uma proposta, agora com Espanha e Marrocos) mas havia mais do que isso a nível de imagem e de promoção do país. No entanto, a ideia não era nem nunca foi ficar por aí e o passo mais importante para o crescimento está dado.

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Assim, o Public Investment Fund (PIF), que se tornou proprietário do Newcastle no final de 2021 (e que sem a contratação de estrelas sonantes de nome conseguiu confirmar a entrada na próxima Liga dos Campeões ao ficar em quarto na Premier League), decidiu avançar para a compra de quatro clubes: Al Hilal, Al Nassr, Al-Ittihad e Al Ahli, os quatro maiores conjuntos do país. Motivo? “A transferência destes quatro clubes vai permitir o surgimento de várias oportunidades comerciais, entre as quais investimentos, parcerias e patrocínios em muitos desportos”, explicou o Fundo público após o anúncio da aquisição das principais equipas que contou com Mohamed bin Salmán, príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita .

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“O projeto tem duas componentes principais. A primeira implica a aprovação de empresas e organizações do setor público que invistam em clubes desportivos, com receitas correspondentes ao valor de cada clube. A segunda implica a privatização dos clubes desportivos a partir do último trimestre de 2023. A base é fomentar as oportunidades de investimento e a capacidade de atrair receitas no setor do desporto; aumentar a profissionalização e sustentabilidade financeiras dos clubes desportivos; e melhorar aquilo que é a atual competitividade e as infraestruturas dos clubes em causa”, salientou a agência saudita SPA.

Trocado por miúdos, e ainda segundo a SPA, a ideia passa por ter condições para acelerar aquilo que tem sido a evolução do país em vários países com maior número de atletas federados, instalações vanguardistas, melhoria da competição e formação de “futuros campeões”. A nível de números, um dos pontos passa por quadruplicar as receitas que advêm da Liga saudita de futebol, passando de 120 milhões de dólares [112,3 milhões de euros] para os 480 milhões de dólares [449,1 milhões de euros]. Sinal de crescimento é também o número de federações desportivas na Arábia Saudita, que passou de apenas 32 em 2015 para mais de 95.

O passo da compra de Al Hilal, Al Nassr, Al-Ittihad e Al Ahli pelo PIF entronca também naquilo que é todo o projeto Visão 2030 do país, que pretende até esse data reduzir de forma gradual aquilo que é a dependência da Arábia Saudita em relação ao petróleo com outros polos no plano económico e o desenvolvimento de áreas fulcrais como a saúde, as infraestruturas, a educação e o turismo. É aqui também que entronca o futebol, não só numa perspetiva de investimento no desporto de um país que vai receber grandes competições como os Jogos Asiáticos de Inverno em 2029 (tudo criado de forma artificial na nova cidade futurista de Neom) mas ainda, ou em paralelo, na vontade de passar uma imagem menos “pesada” da sociedade saudita.

A contratação de Karim Benzema pelo campeão Al-Ittihad de Nuno Espírito Santo, que de acordo com os jornais sauditas e também espanhóis estava confirmada mas só agora foi oficializada, pode ser apenas o primeiro passo nesse reforço que teve em Cristiano Ronaldo o primeiro passo. Lionel Messi, que já assumiu a saída do PSG e está ainda a negociar um eventual regresso a Barcelona assim consiga o clube encontrar uma fórmula de recolocar o argentino na sua folha de vencimentos sem quebrar as regras da Liga espanhola, é o outro grande alvo, neste caso para o Al Hilal e com um salário acima da fortuna que recebe Ronaldo. E já se atiram nomes como Modric ou Lewandowski para serem bandeiras do Al Ahli, sendo que outra das preocupações será ainda melhorar a qualidade dos jogadores “não estrelas” na Liga saudita para que se possa aproximar da meta já antes abordado por Ronaldo de entrar no top 5 das melhores ligas.

“Assinar com o atual Bola de Ouro do Real Madrid é mais um marco histórico para este clube tão especial. O Karim é um ícone do futebol mundial e vai chegar a um clube e a uma liga que são altamente competitivas, num país com grandes ambições tanto dentro como fora do terreno de jogo. Sabemos que todos os olhos vão estar em cima de ti mas estamos ansiosos para ver o Karim com o número 9 do Al-Ittihad com desafios que são muito emocionantes: defender o nosso título de campeão, competir na Ásia e jogar na fase final da taça do Mundial de Clubes da FIFA”, destacou Anmar Bin Abdullah Alhailae, líder do Al-Ittihad.