Como tornar a final menos mediática da UEFA num filme com o interesse que merecia? Podia sempre haver aquela recordação do passado de West Ham e Fiorentina, dois históricos dos seus respetivos países mesmo que sem os títulos a refletir essa glória por onde passaram nomes como Bobby Charlton, Geoff Hurst, Paolo di Canio, Gabriel Batistuta, Roberto Baggio, Dunga ou Rui Costa (e Nuno Gomes). Podia falar-se das cidades de ambos os conjuntos, Londres e Florença, que a juntar ao palco da final, Praga, são das mais visitadas nesta altura do ano. O jornal As conseguiu uma outra abordagem, quase que em homenagem a Zlanta Ibrahimovic que faz parte do elenco da última saga, recordando “A Rosa e a Espada” do Astérix para traçar o paralelismo entre os dois conjuntos. Não sendo a ideia mais imediata e lógica de perceber, fazia sentido.

De um lado, em vez das mulheres inteligentes da história de 1991, estavam os gigliati (lírios), uma equipa da Fiorentina com traços românticos de um futebol ofensivo que não gosta de prescindir da nota artística a par do resultado – e que muitas vezes por isso fica sem o resultado. Não terminou a Serie A em lugares de Europa, perdeu a final da Taça com o Inter, nem por isso deixou de ser uma das maiores surpresas a nível de jogo em Itália. Do outro lado, em vez dos homens mais brutos de Astérix, encontravam-se os hammers (martelos), um conjunto que gosta de puxar para o lado mais físico do jogo percebendo que foi assim que se salvou da despromoção na Premier no final e que fez uma carreira quase 100% vitoriosa na Europa. Maior diferença de estilos seria complicado de encontrar e esse era o grande cartaz da Liga Conferência.

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Para juntar a tudo isso, havia também uma espécie de nostalgia por parte dos adeptos que cresceram na sua grande maioria a ouvir falar de grandes campanhas europeias sem saber ao certo o seu significado. No caso do West Ham, esse exemplo vinha de 1964/65 com a conquista da Taça dos Vencedores das Taças com dois golos de Alan Sealey frente ao 1860 Munique (mais tarde ganharia também a já extinta Taça Intertoto em 1999). Do lado da Fiorentina, o momento remontava a 1960/61 com vitória também na Taça dos Vencedores das Taças com dois triunfos diante do Rangers tendo o avançado Luigi Milan como referência. Várias décadas depois, alguém voltaria aos sucessos internacionais sucedendo à Roma de José Mourinho.

“O primeiro desafio é jogar uma final. Devemos preparar cada detalhe, já que qualquer erro pode ser fatal. Cada jogada conta e pode criar um resultado diferente daquele da nossa primeira final na Taça da Itália, que perdemos. Em todos os jogos mostrámos os nossos três princípios: coragem, foco e adaptabilidade. Admito que não pensava que chegaríamos tão longe mas chegámos aqui”, apontava Vincenzo Italiano, técnico da Fiorentina. “Só agora é que está a cair a ficha, estamos numa final europeia… É uma coisa fantástica, até porque no ano passado chegámos às meias-finais da Liga Europa. Penso que temos agora uma equipa mais forte e queremos agora lutar pela vitória”, explicara David Moyes, treinador do West Ham. No final, os ingleses acabaram por levar a melhor num jogo que não ficou em nada atrás da final da Liga Europa, tendo Lucas Paquetá como artista e Bowen a ser o Astérix que a Gália londrina precisava, terminando numa festa apoteótica e a acompanhar as inevitáveis bolhas de sabão com a mítica “I’m Forever Blowing Bubbles”.

I’m forever blowing bubbles,
Pretty bubbles in the air,
They fly so high, nearly reach the sky,
Then like my dreams they fade and die.
Fortune’s always hiding,
I’ve looked everywhere,
I’m forever blowing bubbles,
Pretty bubbles in the air

A primeira parte acabou por ser praticamente resumida a algo que já tinha sido falado e muito antes do jogo: o mau comportamento dos adeptos, neste caso dos ingleses. Houve um remate de Declan Rice que passou perto do poste de Terracciano (13′) e um golo anulado já em período de descontos a Luka Jovic, a fazer uma recarga em fora de jogo após uma primeira tentativa de Cristian Kouamé (45+4′) mas o que mais ficou como principal imagem foi a nuca de Biraghi a sangrar depois de ter sido atingido por um dos vários copos de plástico atirados pelos londrinos nas bancadas quando se preparava para apontar um canto – sendo que, apesar dos avisos, nunca pareceu haver uma indicação por parte do árbitro sobre uma interrupção (33′).

Na sequência desse último lance do primeiro tempo, Jovic acabou mesmo por dar lugar a Arthur Cabral (o melhor marcador da prova) mas não só a Fiorentina teve outros argumentos em termos ofensivos como também o West Ham apareceu com outro caudal atacante. Os golos seriam uma questão de tempo, sendo que só mesmo no final haveria uma decisão: Benrahma inaugurou o marcador de grande penalidade por mão de Biraghi (62′), Bonaventura empatou após assistência de Nicolás González na área (71′) mas Bowen, após um passe fantástico do jogador que mais se destacou sempre que tocava na bola, Lucas Paquetá, isolou-se nas costas dos centrais transalpinos e não falhou em cima do minuto 90, fazendo o golo que decidiu a final.