Donald Trump disse esta quinta-feira, 8 de junho, que foi indiciado por acusações relacionadas com os documentos confidenciais que no ano passado foram descobertos no seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida. “A administração corrupta de Biden informou os meus advogados de que fui acusado, presumivelmente no caso do embuste das caixas”, escreveu numa publicação partilhada na Truth Social.

“Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer a um ex-Presidente dos Estados Unidos”, acrescentou, já depois de ter, no seu estilo muito próprio, apontado a Joe Biden, que acusa de também ter documentos confidenciais fora da Casa Branca, nomeadamente “espalhados pelo chão da sua garagem, onde estaciona o seu Corvette, e que está ‘segura’ apenas por uma porta de garagem que é fina como papel e está aberta a maior parte do tempo”.

O Departamento da Justiça ainda não confirmou a informação, mas tanto NBC News como Associated Press confirmaram junto de várias fontes que o antigo chefe de Estado norte-americano foi mesmo acusado, indiciado por sete crimes, cuja natureza não foi ainda especificada, e terá recebido uma convocatória para comparecer em tribunal na próxima terça-feira, dia 13 de junho, às 15h, hora de Miami (20h em Portugal).

É a primeira vez que um ex-Presidente dos Estados Unidos enfrenta acusações federais. A notícia surge numa altura em que Donald Trump está a concorrer às primárias republicanas no sonho de voltar à Casa Branca em 2024.

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No verão do ano passado, agentes do FBI realizaram buscas à mansão de Trump com base num mandado de “retenção de documentos confidenciais” e “obstrução a uma investigação federal”, tendo sido apreendidas cerca de trinta caixas, que continham documentos marcados como “ultrassecreto”, “secreto” ou “confidencial”. Na altura, o número de documentos confidenciais apreendidos chegou aos 300.

O que se sabe sobre os documentos confidenciais que Biden tinha em sua posse? É possível comparar este caso com o de Trump?

Trump, que no passado já tinha dito estar a ser vítima de “uma caça às bruxas politicamente motivada”, voltou a garantir esta quinta-feira que é “UM HOMEM INOCENTE”, assim, em maiúsculas.

Entretanto, minutos depois de a notícia ter sido conhecida, o Comité Conjunto de Angariação de Fundos “Trump Save America” estava a enviar e-mails para os apoiantes do ex-Presidente, a apelar a novas contribuições. “Isto não é mais do que um ato nojento de interferência eleitoral por parte do partido no poder para ELIMINAR a sua oposição e acumular controlo total sobre o nosso país”, pode ler-se na mensagem, citada pela Time.

Questionado sobre o assunto, à margem da conferência de imprensa a propósito da visita aos Estados Unidos do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, Joe Biden garantiu que nunca interferiu no processo. “Nunca, nem uma única vez, sugeri ao Departamento de Justiça o que deveriam fazer ou não relativamente a apresentar uma acusação ou não apresentar uma acusação. Estou a ser sincero”, disse o Presidente americano, sucessor de Donald Trump, esta quinta-feira, para depois se retirar e dar o assunto como encerrado.

Nas redes sociais e fora delas, os apoiantes de Donald Trump e do movimento MAGA têm feito o inverso e não têm cessado de prestar apoio ao candidato.

Kevin McCarthy, o presidente da maioria republicana na Câmara dos Representantes, acusou Biden de instrumentalizar a Justiça para derrubar, fora das urnas, o principal concorrente às eleições de 2024. “Hoje é, de facto, um dia negro para os Estados Unidos da América. É inaceitável que um presidente acuse o principal candidato que se lhe opõe”, disse, citado pela Al Jazeera. “Joe Biden guardou documentos confidenciais durante décadas. Eu, e todos os americanos que acreditam no Estado de direito, apoiamos o Presidente Trump contra esta grave injustiça. Os republicanos da Câmara responsabilizarão esta descarada arma de arremesso do poder.”

Muito mais contido, Mike Pence, ex-vice de Trump e seu atual contendor, na luta pela nomeação republicana, disse apenas que espera que, se avançar para a acusação do ex-Presidente, o Departamento de Justiça tenha “provas fortes”.

Ron DeSantis, também aliado de Trump no passado e agora um dos homens que se perfilam para tentar ganhar as primárias do partido, recorreu ao Twitter para criticar a “aplicação desigual da lei consoante a filiação política” e prometer que a sua administração irá não apenas “eliminar o preconceito político”, mas também “responsabilizar” o Departamento de Justiça.

Elon Musk, o homem que voltou a flanquear as portas do Twitter para Donald Trump (que, ainda assim, preferiu manter-se na Truth), também já reagiu: “Parece haver um interesse muito maior em perseguir Trump em comparação com outras pessoas na política. É muito importante que o sistema judicial refute o que parece ser uma aplicação diferenciada ou perderá a confiança do público”.