É um caso que promete abalar a presidência norte-americana. Tudo começou na segunda-feira quando com os meios de comunicação sociais dos Estados Unidos anunciaram que tinham sido encontrados documentos considerados confidenciais num gabinete de um think-tank que já tinha sido um escritório de Joe Biden. Foi o primeiro capítulo. Dois dias depois, os advogados do Presidente dos EUA descobriram outro pacote de documentos confidenciais, desta feita na garagem de uma das suas residências em Delaware.

Joe Biden mostrou-se primeiramente “surpreendido” ao saber que havia “registos” da altura em que era vice-Presidente (2009-2017), ao lado de Barack Obama. Esta quinta-feira, o chefe de Estado norte-americano revelou e acabou por reconhecer que também tinham sido encontrados documentos na sua garagem, tendo deixado a promessa de que está a colaborar com as autoridades, uma vez que “dá grande importância aos documentos classificados”.

Até ao momento, não há grande detalhes sobre o teor dos documentos. Sobre o seu número, as duas notas da Casa Branca asseguram que são “poucos”. Relativamente aos encontrados no seu antigo escritório — que serão à volta de dez —, Joe Biden alegou que não sabia qual era o seu conteúdo. A CNN internancional apurou, junto a uma fonte oficial, que estarão relacionados com a Ucrânia, o Irão e o Reino Unido. No que toca aos que estavam na sua garagem, o Presidente dos Estados Unidos não teceu qualquer comentário. “Ao menos não estavam no meio da rua”, chegou a responder após uma pergunta de um jornalista.

Ainda existem várias dúvidas sobre estes documentos. Primeiro, não se sabe como é que foram parar ao seu antigo gabinete, integrado no think-tank Penn Biden Center for Diplomacy and Global Engagement, uma instituto de investigação da Universidade da Pensilvânia. Depois, também ainda não foi explicado o motivo pelo qual documentos confidenciais estavam numa das suas casas, no estado de Delaware.

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As comparações com Trump

Os dois casos são relativamente recentes e talvez seja por isso que surjam várias comparações com o caso do ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No verão, agentes do FBI realizaram buscas à sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida com base num mandado de “retenção de documentos confidenciais” e “obstrução a uma investigação federal”, tendo sido apreendidas cerca de trinta caixas, que continham documentos marcados como “ultrassecreto”, “secreto” ou “confidencial”.

Na altura, o número de documentos confidenciais apreendidos na casa de Donald Trump chegou aos 300, enquanto os de Biden se ficam, por agora, por um “pequeno número”. Contudo, as investigações ainda estão em curso, podendo, entretanto, ser descobertos outros. 

O teor dos documentos que Donald Trump mantinha na sua mansão em Mar-a-Lago também não é conhecido, falando-se na possibilidade de incidir sob as capacidades militares de outros países, incluindo no âmbito nuclear. Mas esta informação nunca foi confirmada por uma fonte oficial.

O que, de momento parece diferenciar os dois casos é o modo como os documentos chegaram às autoridades e a atitude que os dois governantes tomaram. Quando os documentos foram encontrados pelo FBI, Donald Trump, que na altura já era ex-Presidente, hostilizou a Justiça norte-americana. Na sua ótica, as buscas não foram “necessárias, nem apropriadas”. “Um assalto destes pode apenas ter lugar em países de Terceiro Mundo. Infelizmente, a América tornou-se um desses países, corrupto a um nível nunca antes visto.”

Em contrapartida, foram os advogados de Joe Biden que encontraram os documentos confidenciais e decidiram, de livre vontade, divulgar o sucedido e entregá-los ao Departamento de Justiça. E o atual Presidente dos EUA promete “seguir as ordens da Justiça” e ajudar a aclarar o que realmente se terá passado. Mas fica uma questão, levantada pelo Telegraph: o que aconteceu com os documentos confidenciais desde o fim do mandato do ex-vice-presidente (que acabou em 2017) até esta semana? O jornal britânico nota que isso pode mesmo levar a que o caso seja pior que o de Trump.