O Museu de Arte Contemporânea – Centro Cultural de Belém, antigo Museu Coleção Berardo, em Lisboa, abre portas oficialmente a 28 de outubro, revelou esta segunda-feira o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.

O anúncio aconteceu à margem da apresentação à imprensa da exposição “Um foco em Paula Rego”, mostra concebida em torno da obra O Impostor (1964), recentemente adquirida pela Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE). A pintura que retrata Salazar de forma satírica foi a primeira obra adquirida pelo Estado para integrar o novo museu. A exposição, que inaugura esta terça-feira, 20, inclui um conjunto de peças da artista produzidas no mesmo período.

O ministro da Cultura adiantou ainda que a Fundação Centro Cultural de Belém (CCB) se mantém fiel depositária da Coleção Berardo por decisão judicial. “Em abril os tribunais notificaram o CCB que se mantinham os termos do arresto e, portanto, os termos do arresto que vigoravam quando existia comodato mantêm-se”, disse. Assim sendo, “o Estado tem a responsabilidade de continuar a mostrar a coleção Berardo garantindo a sua segurança e preservação”, concluiu.

A coleção do empresário José Berardo continuará então a fazer parte do novo “discurso expositivo” do MAC/CCB que se mostra a partir de outubro e que incluirá também obras da Coleção Teixeira de Freitas e da Coleção Ellipse, adquirida pelo Estado em 2022. A estas juntar-se-á ainda uma nova peça do artista Julião Sarmento, cedida por Helena Vasconcelos, “amiga e colaboradora [do CCB] na área da literatura e pensamento há já longos anos”, descreveu Delfim Sardo, administrador do CCB responsável pela programação. Trata-se de Estratégias de Sobrevivência, datada de 1984.

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Por revelar ficou a constituição da direção do MAC/CCB. Questionado pelos jornalistas, Pedro Adão e Silva, que sempre defendeu que as direções dos museus seriam objeto de concurso, escusou-se a adiantar em que termos será encontrada. Rita Lougares, diretora artística do Museu Berardo, esteve presente na conferência de imprensa, mas declinou comentar a sua continuidade na instituição.

No final de abril, o presidente do CCB, Elísio Summavielle, afirmou, em entrevista ao jornal ECO, que haverá um “chief curator, como agora se usa, para o museu”, que ficará responsável pela gestão do MAC/CCB e da Garagem Sul. “Vamos fazer um open call, abrir candidaturas e escolher”, disse então, adiantando que “podem concorrer portugueses e estrangeiros”.

O museu, que ganhou um novo nome em janeiro — depois de o Governo ter formalizado o fim da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea — Coleção Berardo, permitindo ao CCB recuperar a posse e gestão do centro de exposições —, tem mantido a atividade com a mesma disposição e com a coleção Berardo em exposição. A única mudança até então era o nome na fachada do edifício, o apagamento de todas as referências ao antigo museu e a entrada, que é temporariamente feita através do piso 0, enquanto decorrem obras na entrada habitual. Em outubro a entrada e a bilheteira retomarão ao piso 1.

Assistentes de sala a recibos verdes serão contratados até outubro

Em conferência de imprensa, Adão e Silva garantiu que “todos os trabalhadores [afetos ao ex-Museu Berardo] transitarão para o CCB”, referindo-se aos cerca de 28 “que têm contrato de trabalho”.

Já sobre os trabalhadores a recibos verdes, como é o caso dos assistentes de sala, Delfim Sardo adiantou ao Observador que se trata de um universo total de “cerca de 50 pessoas” e que a expectativa é que quando o MAC/CCB abrir já todos tenham contrato de trabalho. “Estão a ser celebrados contratos de trabalho com os assistentes de exposição. Eles são trabalhadores da Fundação CCB e estamos a fazer contratos de trabalho com eles neste momento”, revelou, esclarecendo que “essa decisão de terem contratos é uma decisão que não é unilateral do CCB, é uma negociação com os trabalhadores para saber em que regime é que querem ter os contratos de trabalho”. O administrador do CCB indica que “há 17 que já assinaram contratos”. “Estamos muito contentes com a situação que foi encontrada para lidar com essa realidade”, que descreve como “complexa”.

Em fevereiro, assistentes de sala do MAAT — Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia protestaram exigindo contratos de trabalho efetivo, expondo uma situação de alegados falsos recibos verdes naquele equipamento cultural da Fundação EDP. Em março, uma reportagem do jornal Público dava conta de testemunhos que denunciavam que esse quadro de relações laborais precárias se estendia a outras instituições culturais do país, algumas delas públicas.