Os bancos centrais estão a reduzir os balanços, depois de anos de compra massiva de dívida, e apesar do tamanho ideal ser difícil de medir há espaço para cair substancialmente abaixo dos atuais níveis, segundo economistas consultados pela Lusa.

Nos últimos anos, bancos centrais como o Banco Central Europeu (BCE) e a Reserva Federal norte-americana (Fed) injetaram liquidez no mercado, através da compra em larga escala de títulos — o chamado Quantitative Easing (QE), uma ferramenta não-convencional da política monetária.

Agora procuram secar esta liquidez, como forma de tentar controlar e inflação e levá-la de volta para a meta de 2%, através quer da subida das taxas de juro, quer de um aperto do balanço.

Este aperto reflete-se, por exemplo, numa diminuição da carteira de títulos de dívida ou numa redução de volume de empréstimos de longo prazo às instituições de crédito.

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Vitória para os “falcões” do BCE. Banco central vai começar a diminuir a carteira de dívida pública

Os decisores de política monetária lidam assim com o desafio de qual o nível conveniente de títulos de dívida que um banco central deve deter e qual é o tamanho ideal do seu balanço.

Segundo um paper apresentado esta semana no Fórum anual do BCE, em Sintra, pela economista Annette Vissing-Jorgensen, o BCE poderia reduzir o excesso de liquidez para 1,4 biliões de euros e a Fed para 3,02 biliões de euros, se aceitassem outros ativos que não apenas títulos do Tesouro alemão e americano, respetivamente.

Em declarações à Lusa, o diretor-global de macro do Banco ING, Carsten Brzeski, considera que não existe “um tamanho ótimo do balanço”, tal “como não há um nível ótimo para a taxa de juros”: “Tudo depende”.

Ainda assim, acredita que “eventualmente o BCE deve regressar aos níveis do balanço registados antes da crise do euro e do início do QE”, ainda que “não na totalidade”.

Recordando que naquela altura, se estava “com cerca de quatro biliões de euros” e dado que “o BCE somou compras de ativos ao seu kit de ferramentas monetárias, isso defende um tamanho ligeiramente maior do balanço”.

“Atualmente, espero que cinco biliões de euros seja um nível mais normal”, refere.

Por seu lado, Stefan Hofrichter, economista-chefe da Allianz Global Investors (AllianzGI), em declarações à Lusa, sublinha que “não é fácil medir” o que é uma ampla quantidade de liquidez, mas sustenta que “deve ser estimado”.

“Atualmente, a Fed prevê que o balanço irá encolher via QT para 5,9 biliões de dólares [cerca de 5,39 biliões de euros] — após um pico de quase nove biliões de dólares [cerca de 8,23 biliões de euros] — até 2025, antes de aumentar gradualmente novamente à medida que a economia continua a crescer e o provisionamento de liquidez precisa de o acomodar”, justifica, salientando a expectativa de que o balanço do BCE caia para menos de três biliões de dólares, cerca de 2,74 biliões de euros, até 2028.

Contudo, realça que tal são estimativas e o tamanho mínimo do balanço pode acabar por ser diferente.

A razão pela qual os bancos centrais pretendem evitar um balanço “muito grande” é pelo menos dupla: primeiro, “se o banco central detém muitos títulos, a liquidez no mercado de títulos seca — veja-se o Japão, por exemplo — e, portanto, os rendimentos dos títulos ficam distorcidos e voláteis”, em segundo lugar, “o banco central corre o risco de gerar perdas quando as taxas estão a subir — o que está a acontecer atualmente —, pois o rendimento dos títulos que detêm pode ser menor do que o rendimento que paga nas reservas”.

O “número mágico” que comanda os bancos centrais (e a vida de quem tem crédito). A meta da inflação em 2% ainda faz sentido?

Se para Brezeski a composição do balanço não é o essencial — “não é tanto uma questão de quais ativos, mas de quantos”—, para Hofrichter “depende da quantidade de papel soberano que é comprado pelos bancos centrais”.

Ainda assim, em resposta sobre qual o nível de dinheiro que os bancos centrais devem manter no sistema para responder à procura de reservas quando já não é preciso nem estimular, nem refreá-la, Annette Vissing-Jorgensen e os economistas avisam que irá variar sempre do contexto a cada momento e das outras decisões implementadas.