O futebol feminino europeu viveu o seu primeiro boom na Escandinávia, onde Suécia, Noruega e Dinamarca apostaram na vertente da modalidade com o objetivo de alcançar o sucesso desportivo que a equipa masculina não conseguia ter. O projeto foi bem sucedido, entre equipas que conquistaram a Liga dos Campeões, seleções que foram a finais de Europeus e Mundiais e até uma vencedora da Bola de Ouro.

A profissionalização generalizada nos restantes países europeus, porém, retirou a hegemonia aos países do norte do continente. A Alemanha consolidou-se, Inglaterra apareceu, França foi crescendo e Espanha investiu ao ponto de conquistar a Liga dos Campeões — e Suécia, Noruega e Dinamarca foram caindo na lista de equipas candidatas ou favoritas para alcançar títulos.

Ainda assim, e se olharmos para uma Suécia que continua no terceiro lugar do ranking e que esteve nas meias-finais do Mundial em 2011 e 2019, não havia dúvidas sobre o favoritismo do jogo deste domingo contra a África do Sul. De um lado, estava uma finalista vencida, em 2003; do outro, estava uma seleção que só tinha estado num Mundial, o último, e que somou três derrotas em três partidas da fase de grupos.

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Debaixo de chuva intensa em Wellington, na Nova Zelândia, a África do Sul mostrou que nada no futebol é assim tão líquido. As sul-africanas abriram o marcador no início da segunda parte, por intermédio de Magaia (48′), e obrigaram as suecas a um jogo surpreendentemente esforçado: Rolfö empatou (65′) e Ilestedt, já à beira dos descontos (90′), fez o golo que valeu a reviravolta.

A pérola

Um golo aos 90′ traz sempre uma sensação indescritível. Amanda Ilestedt, central de 30 anos que atua no Arsenal, foi a heroína de uma Suécia que esteve muito perto de escorregar logo na primeira jornada de um Grupo G que também integra Itália e Argentina, duas seleções em rota ascendente em termos de qualidade e intensidade.

O joker

Faz diferença até quando não é brilhante. Mesmo não tendo realizado a melhor das exibições, estando até na calha para ser substituída no momento em que empatou a partida, Fridolina Rolfö voltou a demonstrar que é a figura maior da Suécia. A jogadora do Barcelona, com presença em três finais da Liga dos Campeões, traz essa experiência e clarividência — condições essenciais para ultrapassar uma África do Sul organizada e pronta para surpreender.

A sentença

Ao contrário do que poderia ser mais expectável, a Suécia não terá vida fácil neste Grupo G. Se já era previsível que surgissem mais dificuldades contra Itália e Argentina, a vitória arrancada a ferros perante a África do Sul demonstrou que tudo pode acontecer nas duas jornadas restantes e que a qualificação não está completamente garantida.

A mentira

Não, a África do Sul não foi ao Campeonato do Mundo apenas pela experiência. Apesar de ter agora quatro derrotas em quatro jogos em Mundiais, a seleção sul-africana apresentou-se bem organizada defensivamente, com capacidade para causar estragos nas transições ofensivas e esclarecida o suficiente para ainda discutir pontos contra argentinas e italianas.