Leia aqui tudo sobre o Campeonato do Mundo feminino de 2023
Se é verdade que existem grupos mais abertos onde existem três ou mesmo quatro candidatos (tendo depois percentagens diferentes de probabilidade de sucesso), o grupo H surgia como aquele mais linear em termos teóricos: a grande favorita ao primeiro lugar, a Alemanha, a pequena favorita à segunda posição, a Coreia do Sul, e dois outsiders apostados em provar o desenvolvimento do futebol feminino no país, Marrocos e Colômbia. No entanto, e olhando para o caso das magrebinas, havia algo mais em causa que nem mesmo o facto de fazerem a estreia contra uma toda poderosa do futebol mundial poderia beliscar. Aliás, a festa que os adeptos africanos iam fazendo nas bancadas em desvantagem era exemplo paradigmático disso mesmo.
Já com uma liga feminina profissional, Marrocos beneficiou da organização da Taça das Nações Africanas de 2022 (onde alcançou a final com mais de 50.000 espectadores, depois dos mais de 45.000 nas meias com a Nigéria) para ter um boost em termos de crescimento que desaguou na primeira fase final de sempre de um Mundial, naquela que era também a primeira equipa árabe a chegar a este patamar. Ghizlane Chebbak, filha do antigo internacional Larbi Chebbak, surgia como principal referência aos 32 anos de uma formação ainda jovem – reflexo da aposta da Federação nas equipas de base –, mas havia também a história da defesa Nouhaila Benzina, suplente no encontro inaugural que se poderia tornar também a primeira atleta de sempre a jogar em Mundiais de hijab, tema atual e polémico após uma decisão de um tribunal francês ratificada pelo Conselho de Estado que deu razão à Liga gaulesa e proibiu o uso do véu islâmico em jogo.
Morocco has made history in the world of football once again – though this time, it’s the Atlas Lionesses.
Nouhaila Benzina has become the first football player to wear a hijab to during a FIFA Women’s World Cup.
Watch our report for more on why this is a groundbreaking moment. pic.twitter.com/J7Rtx2yZi5
— Doha News (@dohanews) July 24, 2023
Histórias não faltavam na equipa de Marrocos, história não faltava na equipa da Alemanha. As germânicas, campeãs olímpicas em 2016 (tendo antes três medalhas de bronze), mundiais em 2003 e 2007 (o pior que fez em todas as edições foi ficar pelos quartos) e europeias em 1989, 1991, 1995, 1997, 2001, 2005, 2009 e 2013, tiveram um alerta no último particular frente à Zâmbia, com uma surpreendente derrota nos minutos finais, e chegavam a este arranque em Melbourne com algumas peças importantes ainda a debelar lesões como Lena Oberdorf, mas sabiam a “obrigação” que tinham em somar três vitórias na fase de grupos. Mais: apesar desses obstáculos, havia o sentimento de “vingança” depois da final perdida com a Inglaterra no último Europeu, marcada pela lesão no aquecimento de Alexandra Popp. Tudo podia ter sido diferente.
11 – Alexandra Popp has scored in each of the last three editions of the FIFA Women's World Cup for Germany (5 goals), netting her 10th and 11th major tournament goals overall (5 World Cup, 6 Euros). Eight of those 11 finishes have been headers (73%). Soaring. #FIFAWWC pic.twitter.com/qdMDSQpHuM
— OptaJoe (@OptaJoe) July 24, 2023
Se dúvidas ainda existissem, a jogadora de 32 anos do Wolfsburgo necessitou apenas de uma parte para mostrar (mais uma vez) que é uma das principais referências da modalidade. E esses dois golos tiveram o condão de catapultar a Alemanha para uma vantagem que praticamente decidiu logo a partida.
Only two teams have scored multiple own goals in a single game at the Women's World Cup:
◎ Ecuador vs. Switzerland (2015)
◉ Morocco vs. Germany (2023)Alexandra Popp was desperate to get the last touch on the second one. ????#FIFAWWC pic.twitter.com/li4uIz6dSr
— Play Squawka Selector for Free (@Squawka_Live) July 24, 2023
O primeiro tempo começou com a Alemanha ao ataque e, depois de um lance em que uma defesa marroquina cortou a bola perto da linha de golo, Alexandra Popp inaugurou o marcador de cabeça na sequência de um cruzamento de Kathrin Hendrich com uma saída mal calculada de Khadija Er-Rmichi (11′). Além do 1-0, esse lance mostrou bem o problema do conjunto africano em recuar muito as linhas, possibilitando que a central pudesse avançar como uma lateral para criar superioridade numérica. Reynald Pedros, antigo internacional francês que lidera a formação de Marrocos, ia pedindo às jogadoras para subirem e Ghizlane Chebbak teve um bom remate de meia distância a tentar responder ao domínio alemão. Contudo, o 2-0 chegaria ainda antes do intervalo, de novo com Popp a desviar de cabeça/ombro após um canto na esquerda (39′).
???? It's half-time
Germany are ahead with two goals from their Captain.
HT : ???????? Germany 2⃣ – 0⃣ ????????Morroco
11* Popp ⚽????
39* Popp ⚽????#FIFAWWC ⚽ ????#mokonesports ???????? pic.twitter.com/IzFpKXvyw0— Mokone Sports ???????? (@jacits76) July 24, 2023
O reinício do encontro seria determinante para o que se seguiria até ao final mas foi aí que Marrocos acabou por falhar, permitindo à Alemanha aumentar a vantagem logo no minuto inicial: Klara Bühl recuperou a bola na esquerda, foi até à linha de fundo cruzar, Jule Brand ainda acertou no poste mas a mesma Bühl fez a recarga para o 3-0. Lahmari, após mais uma assistência de Chebbak, viu um golo anulado pouco depois (53′) e tudo continuaria a correr mal às marroquinas, que viram Hanane Aït El Haj desviar para a própria baliza uma insistência após canto (54′). Chegava a altura das substituições, das poupanças mas nem por isso veio a hora de desacelerar o ritmo, com a Alemanha a chegar ao 6-0 com mais um autogolo de Yasmin Mrabet na sequência de outro canto agora na direita do ataque (79′) e um golo de Schüller em cima do minuto 90.
⚽⚽⚽⚽⚽⚽
A statement from Germany. ????????
They start their #FIFAWWC campaign in style.
— FIFA Women's World Cup (@FIFAWWC) July 24, 2023
A pérola
- Era um dos nomes mais destacados antes do Mundial, começou o Mundial como um dos nomes mais destacados com um bis que a colocou como terceira melhor marcadora de sempre da Alemanha (64 golos) e como uma das líderes da lista de melhores marcadores da prova a par de Hinata Miyazawa (Japão) e Sophia Smith (EUA). Além dos dois golos noutras tantas oportunidades, Alexandra Popp mostrou também a sua versatilidades nas ações ofensivas, em apoios frontais ou descaindo nas alas, sendo uma das grandes candidatas não só a melhor marcadora como a melhor jogadora do torneio.
Two goals in 38 minutes.
Alexandra Popp has arrived at the 2023 World Cup ???????? pic.twitter.com/324oBb1f6c
— B/R Football (@brfootball) July 24, 2023
O joker
- Parece quase paradoxal destacar alguém de uma equipa que acaba goleada mas Ghizlane Chebbak fez por merecer essa distinção. Foi a jogadora mais rematadora de Marrocos, fez a assistência para Lahmari marcar num lance que seria anulado por fora de jogo e mostrou sempre ter aquele toque de bola de artista que fez por mais (e que pode ainda ser a chave nas duas próximas partidas da fase de grupos). Entre as alemãs, Svenja Huth foi um motor a dar profundidade pela direita como lateral e Klara Bühl abriu o livro na segunda parte com uma série de investidas pela esquerda que criaram perigo.
⚽???????? Morocco’s women are all set to kick-off their first ever World Cup campaign.
Team captain and star player Ghizlane Chebbak is an inspiration to women and young girls.
But Chebbak's inspiration is closer to home; her father Larbi Chebbak, who also played for Morocco. pic.twitter.com/AXJPv7SgrT
— BBC News Africa (@BBCAfrica) July 24, 2023
A sentença
- A derrota de Marrocos já era esperada mas os sinais que ficaram permitem pelo menos sonhar com uma vitória neste Campeonato do Mundo, sendo certo que o Coreia do Sul-Colômbia desta terça-feira terá um papel preponderante nas contas da qualificação para os oitavos. No lado da Alemanha, um triunfo na próxima ronda contra as sul-americanas deve confirmar o previsível: liderança do grupo H.
A mentira
- A Alemanha foi superior a todos os níveis apesar de alguns bons pormenores de Marrocos quando ia tentando sair em transições e variações rápidas mas a maior diferença entre os dois conjuntos esteve num outro ponto muito específico: as bolas paradas. É aí que as germânicas têm um dos seus pontos fortes, é aí que as marroquinas têm um dos seus calcanhares de Aquiles e foi assim que a formação europeia construiu três golos e ainda teve mais uma bola no poste durante a segunda parte.
Results from African Teams At FIFA Women World Cup????
Germany ???????? 6-0 Morroco ????????
Japan ???????? 5-0 Zambia ????????
Sweden ???????? 2-1 South Africa ????????
Canada ???????? 0-0 Nigeria ???????? pic.twitter.com/xWTDqtRhXm— ???????????????????? ???????????????????????????? ???????? (@FootyNamibia) July 24, 2023