E eis que, este domingo, terminava o Campeonato da Europa mais importante da história do futebol feminino. Em Wembley, Londres, Inglaterra e Alemanha reeditavam a final do Euro 2009 e disputavam um dos jogos mais acompanhados, discutidos e mediatizados de sempre. E, ainda antes de soar o apito inicial, história estava feita: não havia lugares livres entre as 87 mil cadeiras do estádio, ou seja, estava garantido o recorde de assistência em finais do Europeu.

Mas este foi apenas o último recorde alcançado pelo Europeu 2022. Ainda sem os números oficiais da final, 487 mil pessoas passaram pelas bancadas dos jogos da competição, uma marca que é mais do dobro dos 240 mil espectadores que assistiram às partidas do último Europeu, nos Países Baixos, em 2017. Valores que se explicam pela excelente campanha da seleção inglesa, que conquistou os adeptos e levou milhares de pessoas aos estádios no torneio organizado em casa, mas também pelo óbvio crescimento do futebol feminino em praticamente todo o mundo. Incluindo em Portugal, onde nem a curta prestação da Seleção, que não passou além da fase de grupos mas realizou exibições impressionantes contra a Suíça e os Países Baixos, amenizou o entusiasmo.

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Este domingo, Inglaterra e Alemanha decidiam quem sucedia aos Países Baixos enquanto campeãs europeias. A jogar em casa, as inglesas acumularam goleadas logo a partir da fase de grupos, tendo na avançada Beth Mead o grande destaque de um conjunto que ganhou uma nova vida com a contratação da selecionadora Sarina Weigman, que em 2017 levou precisamente as neerlandesas à conquista do Europeu. Do outro lado, estava uma Alemanha que pretendia voltar à glória dos oito títulos alcançados entre 1989 e 2013, incluindo seis consecutivos, e recuperar uma hegemonia continental que nos últimos anos tem ficado mais distribuída entre várias seleções.

Em Londres, depois de eliminar a Suécia com estrondo na meia-final e sofrendo apenas um golo contra 20 (!) marcados, Inglaterra apresentava-se com o onze natural, com Mead, Kirby e Hemp no apoio a Ellen White. Do lado alemão, após afastar França com dois golos de Alexandra Popp e tendo sofrido também um único golo, a equipa orientada pela antiga jogadora Martina Voss-Tecklenburg tinha precisamente na avançada do Wolfsburgo a grande baixa para a final: Popp, inicialmente dada como titular, lesionou-se no aquecimento e começava no banco, sendo substituída por Schüller no trio ofensivo composto por Brand e Huth.

Numa primeira parte que terminou sem golos, Inglaterra foi quase sempre a equipa mais pressionante, demonstrando uma reação à perda da bola e uma intensidade que não permitia às alemãs ter grande liberdade no meio-campo adversário. Ellen White protagonizou o primeiro lance mais perigoso, com um cabeceamento na grande área que Frohms encaixou (4′), e Bronze ameaçou o primeiro golo numa jogada semelhante após um canto em que também atirou de cabeça para a guarda-redes alemã defender (19′).

Ainda assim, e mesmo com uma notória e clara superioridade inglesa, a melhor oportunidade da primeira parte pertenceu à Alemanha. Na sequência de um canto cobrado na esquerda e depois de uma grande confusão, Leah Williamson evitou o golo em cima da linha e Mary Earps acabou por conseguir segurar e anular um desvio de Hegering que poderia ter sido crucial (25′). Até ao intervalo, White ainda atirou por cima depois de um desequilíbrio de Mead na direita (38′) mas a final do Euro 2022 terminou mesmo empatada e ainda sem golos no fim do primeiro tempo.

Depois de uns 45 minutos iniciais algo amarrados, sem muito espaço para a criatividade das duas equipas e com mais preocupações defensivas do que ofensivas, a selecionadora alemã foi a primeira a mexer e decidiu trocar Jule Brand por Tabea Wassmuth logo ao intervalo. Acabada de entrar, Wassmuth teve desde logo a primeira oportunidade da segunda parte com um remate cruzado que Earps encaixou (48′), confirmando uma entrada forte da Alemanha que empurrou Inglaterra para o último terço e que levou Magull a ficar também muito perto do golo com um pontapé ao lado (50′).

Ciente de que era preciso agitar as águas, Sarina Wiegman mexeu ainda antes da hora de jogo e trocou Kirby e White por Ella Toone e Alessia Russo. E nem foram precisos 10 minutos para assistir às consequências: Keira Walsh desmontou a defensiva alemã com um passe vertical perfeito e teleguiado de 30 metros e isolou a recém-entrada Toone, que à saída de Frohms picou a bola e abriu o marcador com um extraordinário chapéu à guarda-redes (62′). Wiegman reagiu ao tirar Mead para lançar Chloe Kelly, Voss-Tecklenburg trocou Schüller por Anyomi e a Alemanha ficou muito perto de empatar quase de imediato com um pontapé de Magull que esbarrou no poste (66′).

Já dentro do último quarto de hora, Magull confirmou o estatuto enquanto melhor jogadora da Alemanha na final do Europeu e empatou através de um brilhante lance rendilhado em que Lohmann e Wassmuth combinaram antes de a última assistir a média do Bayern Munique ao primeiro poste (79′). Com o resultado empatado ao fim de 90 minutos, a final seguiu para prolongamento já com Alex Greenwood e Jill Scott em campo do lado de Inglaterra, as duas substituições que Sarina Wiegman fez já nos derradeiros minutos antes da meia-hora extra, e Linda Dallmann a substituir a fatigada Magull na Alemanha.

Num prolongamento já com muitas limitações físicas de parte a parte e com poucos ou nenhuns lances de perigo, o momento decisivo apareceu a 10 minutos das grandes penalidades. Canto batido na direita, Bronze ganhou um duelo na área e a bola sobrou para Chloe Kelly, que rodou e atirou já em esforço para colocar Inglaterra novamente na frente do marcador (110′). Até ao fim, mesmo com os esforços das alemãs, já nada mudou: a seleção inglesa venceu a Alemanha em Wembley e no prolongamento e sagrou-se campeã europeia de futebol feminino pela primeira vez, aplicando a primeira derrota das alemãs em finais e garantindo à selecionadora Sarina Wiegman o segundo título consecutivo. Desta vez, e ao contrário do que a seleção masculina desperdiçou no mesmo sítio no verão passado contra Itália, o troféu foi mesmo para casa.