O Benfica, ao perder a vantagem, sentiu o mesmo que alguém que descobre uma peça de roupa que gosta, mas, quando a vai comprar, não há tamanho que lhe assente bem. Quando Di María saiu, após a expulsão de Musa, os encarnados perderam o glamour e ficaram uma equipa de camisa de praia e havaianas. Dentro do estilo mais rudimentar, Neres tentou que o remate bruto que desferiu à barra valesse os três pontos — mal sabia que seria o Boavista a sair por cima no Bessa e as águias com as calças na mão.

Uma maneira de entreter as crianças na praia é dar-lhes brinquedos para fazerem castelos. Aquelas muralhas feitas de areia desabam com a chegada de uma onda. A melhor maneira de construir uma habitação junto ao mar é recorrer a um bom cimento que, com a saída de Gonçalo Ramos, o Benfica pode ter deixado de ter. Ainda assim, Roger Schmidt possui outros materiais. O Benfica recebeu-os às paletes, mas ainda não abriu as embalagens. Chamam-se Arthur Cabral e Anatoliy Trubin e ficaram de fora dos convocados na ronda inaugural do campeonato.

Mesmo assim, o alemão usou o que tinha à disposição. Em relação ao jogo com o FC Porto para a Supertaça, o Benfica trocou dois jogadores. Saíram João Mário e Mihailo Ristic, entraram Petar Musa e David Jurásek. Estava desfeito o dilema. Os encarnados voltavam ao 4x2x3x1 com uma referência ofensiva. 

O Boavista não se podia dar a estes luxos uma vez que a equipa de Petit está impedida de inscrever reforços. Nesta lógica de “todos são poucos”, os axadrezados não devem ter ficado nada satisfeitos ao verem todo o  meio-campo, composto por Seba Pérez, Miguel Reisinho e Makouta, amarelado antes dos 20 minutos. 

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Até não se podia dizer que fosse um jogo para se comer a relva, porque essa escasseava. A cada duelo mais intenso entre os jogadores, saltava um tufo que dificultava as ações a todos os que não estivessem habituados a jogar futebol de praia. Estas circunstâncias não eram uma surpresa uma vez que só muito perto do dia do jogo a Liga levantou a interdição imposta ao terreno de jogo do Bessa, questão que levou a que se pensasse que o jogo pudesse não ser realizado na casa das panteras.

O Benfica chegou cedo ao golo, antes das condições piorarem. Rafa foi dos zeros aos 100km/h em poucos metros e fez o passe para que Di María (22′) encostasse. Otamendi e António Silva a cada ataque do Boavista que cortavam – Tiago Morais foi o principal alvo do carteirismo destes ladrões profissionais – era sinónimo de bola para a bancada, de preferência para o segundo anel.

Os encarnados perdiam algumas bola que permitiam contra-ataques. Valia que a equipa de Petit colocava pouca gente na frente e, mesmo quando isso acontecia, João Neves garantia a transição defensiva, colando os setores. Um baixinho que não perde a classe a fazer o trabalho sujo. Ao lado do jovem médio, Orkun Kökçü fazia provavelmente a melhor exibição desde que chegou aos encarnados, complementando bem Neves e demonstrando estar cada vez mais em piloto automático, pois quando recebe a bola perde menos tempo a decidir o passo seguinte.

O início de época é sempre propício a lapsos. O Benfica preparou um campeonato de futebol e, de repente, viu-se a jogar xadrez. Petar Musa acabou expulsou após uma entrada dura sobre Abascal. Roger Schmidt sacrificou Di María – que saiu desiludido – e, no momento seguinte, o Boavista empatou. Róbert Bozeník (55′) aproveitou o livre para concretizar um alívio incompleto da defesa encarnada.

A partir daqui, o caos instalou-se. O Benfica conseguiu voltar à liderança no marcador. Rafa (75′) aproveitou a bola que ressaltou do cabeceamento de João Neves à barra para fazer o 2-1. No entanto, aquele ferro ainda ia ter muito para contar. 

Em cima do minuto 90, ainda longe do cair do pano, António Silva varreu De Santis dentro da área. Bruno Lourenço (90′) marcou a grande penalidade voltou a empatar. Dentro dos 10 minutos de compensação, o Boavista estava satisfeito e até engonhava para que o ponto não fugisse. Entretanto, Bruno Lourenço foi também ele expulso. De novo em igualdade numérica, o Benfica acreditou na vitória. David Neres acertou na barra, a mesma que João Neves e Rafa também tinham atingido. Com os encarnados perdidos em desgosto, Róbert Bozeník (90+13′) usou uma escapatória no muro da lamentações para aparecer sozinho na cara de Odysseas e fazer o 3-2.

Tal como aconteceu com o Sporting e com o FC Porto, o Benfica também se assustou na primeira jornada do campeonato. Ao contrário dos rivais, o clube da Luz caiu.