Não é propriamente a expressão mais bonita, será certamente a expressão mais adequada: Miguel Oliveira precisa mesmo de ir à bruxa. Se é verdade que o Grande Prémio da Grã-Bretanha dava a sensação de que o azar que marcou o início do Mundial de 2023 tinha ficado em definitivo para trás, com um décimo lugar na corrida sprint e uma fantástica recuperação da 16.ª para a quarta posição na corrida principal tendo ainda rodado em terceiro. No entanto, Silverstone foi mais uma exceção do que uma regra como se voltou a ver na corrida sprint do Grande Prémio da Áustria no Red Bull Ring, um circuito que ficará para sempre na história do piloto português pela primeira vitória alcançada na categoria rainha do motociclismo em 2020.

Após conseguir a entrada direta na Q2 com o décimo melhor tempo, Miguel Oliveira alcançou a oitava marca mais rápida e tinha uma das melhores posições na grelha de partida este ano só superada pelo quarto posto logo a abrir em Portimão. No entanto, o facto de entrar na terceira linha da grelha ao meio acabou por ser mais problema do que solução: após um arranque falhado, o piloto da RNF Aprilia tentou ao máximo fugir de qualquer confusão na curva inicial mesmo caindo alguns lugares mas não evitou mais um abalroamento em série que começou com um toque de Jorge Martín em Fabio Quartararo e envolveu depois outros corredores como Marco Bezzecchi, Enea Bastianini ou Johann Zarco. Até Maverick Viñales, um dos mais rápidos ao longo de sexta-feira e da manhã de sábado, perdeu várias posições e “abdicou” da vitória.

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“A minha perspetiva é a mais confusa, fui atingido uma série de vezes. Pensei que podia evitar a queda, mas depois fui ensanduichado pelo [Enea] Bastianini e outro piloto. Foi confuso e depois ficou claro ao ver a repetição, o [Jorge] Martín foi otimista. Conseguiu fazer a curva, o que foi fantástico, mas causou um enorme caos. É o que é…”, lamentou o número 88 após o final da corrida sprint. “Hoje [Sábado] seria difícil devido às altas temperaturas. Seria preciso controlar as pressões da roda dianteira para conseguir parar a moto. Gostaria de ter podido ficar com uma noção do que vamos enfrentar amanhã [domingo], mas não foi possível. Estou bem fisicamente, não há lesões e estou pronto para voltar a tentar”, acrescentou.

Mais um abalroamento e fuga a deixar o Falcão no chão: Miguel Oliveira desiste da corrida sprint do GP da Áustria na primeira volta

O que se passou na véspera acabou por ter influência na saída de Miguel Oliveira este domingo, com o piloto português a não arriscar nada e a cair quatro posições no arranque que voltou a colocar as duas KTM de Brad Binder e Jack Miller atrás do líder Pecco Bagnaia. As Aprilia acabavam por ser as principais derrotadas no arranque, com Maverick Viñales a perder também cinco lugares enquanto Jorge Martín voltava a subir mais seis posições. Assim, e no final da segunda volta, Viñales seguia em oitavo, Aleix Espargaró continuava em nono e Oliveira estava em 13.º, com Fabio Quartararo à sua frente e Franco Morbidelli logo atrás, sendo que Martín acabaria por sair atrás do português quando foi cumprir a long lap pela penalização da véspera.

As coisas não estava a correr bem para o número 88 da RNF Aprilia mas ficariam ainda piores naquele que foi um fim de semana para esquecer: quando seguia em 12.º e se pensava que seria possível estabilizar para ir em busca de outro top 10, Miguel Oliveira parou nas boxes dando sinais à equipa que a moto estava com um problema que não permitia continuar. A lei de Murphy conhecia um derradeiro capítulo na Áustria. Havia algo no pneu da frente que ficou em sobreaquecimento e foi isso que levou a mais um abandono num fim de semana para esquecer onde não conseguiu pontuar sem ter propriamente uma “culpa” direta.

No final, Pecco Bagnaia conseguiu pela terceira vez na presente temporada somar o triunfo na corrida longa à vitória na corrida sprint, tendo mais uma vez Brad Binder como segundo e agora Marco Bezzecchi no terceiro lugar (Martín fechara o pódio na véspera). Naquela que foi a principal luta sobretudo a partir de meio da corrida, Luca Marini terminou em quarto à frente de Álex Márquez, seguindo-se Maverick Viñales, Jorge Martín e Aleix Espargaró. Quartararo e Enea Bastianini fecharam o top 10 no Red Bull Ring.

“Fui rápido no fim de semana mas tivemos um pequeno problema durante a corrida, um problema estranho, para ser sincero. Foi um detalhe muito simples mas que me forçou a abandonar: os pesos de calibração da roda frontal caíram e, com efeito, não conseguia fazer pressão suficiente nos travões por causa da vibração. E tive de me retirar por causa disso”, explicou no final da corrida Miguel Oliveira. “Vínhamos com muito entusiasmo e confiança depois do que fizemos em Silverstone mas não aconteceu como queríamos. Ficámos desapontados pelo acidente do Miguel na sprint e sabíamos que podíamos fazer melhor na corrida principal. Mas, outra vez, devido a um problema técnico na roda frontal o Miguel teve de retirar-se”, comentou Razlan Razali, diretor da RNF Aprilia, em declarações prestadas à assessoria da equipa.