Há muito tempo que Álvaro Beleza tem uma certeza: “Portugal tem líderes muito grisalhos”. Desta vez, veio dizê-lo a quase 100 jovens num sítio onde “sempre” quis vir — a Universidade do Verão do PSD — e trouxe uma proposta concreta a apresentar: tal como existem quotas por género, “é altura de criar quotas para jovens” nos cargos políticos — e limites de idade para as candidaturas aos mesmos.
“Com estas regras podemos rejuvenescer o país. Precisamos de gente que pense o futuro”, atirou o “socialista liberal” — e segurista convicto — Álvaro Beleza, provocando uma onda de aplausos dos alunos de Castelo de Vide. Não seria o último, nem perto disso: a plateia gostou de ouvir as mensagens muito adaptadas à faixa etária a que se dirigia — “foram jovens que fizeram a Microsoft, a Apple e o Facebook” — e riu-se com as tiradas de Beleza: “A minha geração, do 25 de Abril, não desampara a loja se vocês não se impuserem”.
Médico de profissão, Beleza foi questionado por várias vezes sobre o estado da Saúde em Portugal, acabando por defender a atual reforma das Unidades Locais de Saúde mas negar que se possa resolver os problemas do setor “atirando” dinheiro para cima deles, em resposta a uma questão sobre a estratégia deste Governo. A verdadeira reforma que não seria de esquerda nem de direita, mas apenas “razoável”, trataria de aproximar hospitais e centros de saúde dos centros de decisão. Mas onde iria parar? Aos jovens novamente: “Andamos a exportar gerações”, lamentou, referindo-se à falta de “investimento” nesses jovens profissionais.
Beleza também se referiria aos seus próprios tempos de juventude — incluindo quando ajudou a fundar a JSD, ou quando esteve com “autocolantes” da organização na célebre manifestação da Fonte Luminosa, em 1975 — para concluir que hoje em dia, sendo um convicto “liberal de esquerda” num partido com muitos “românticos de ficção” (os da ala mais à esquerda), se sente bem no PS.
Já os jovens presentes na sala fizeram sobretudo perguntas sobre os problemas do país e da governação socialista, e Beleza, sempre frisando as vantagens de se ser “livre” e não depender de “máquinas” partidárias, lá os foi apontando: criticou a “estratégia do pedinte” de Portugal em relação à UE, que deve ser substituída pelo “espírito do Ronaldo”; as novas medidas da Habitação de que tem “receio”, sugerindo que um congelamento de rendas pode funcionar mas apenas se tiver um prazo fixado à partida; a falta de reformas entre PS e PSD na Justiça e no sistema eleitoral para que a política seja mais participada; e a fiscalidade pesada, que não atrai mais gente para Portugal.
Conclusão? Portugal tem — quando se resolver a questão dos impostos, pouco competitivos a nível internacional — tudo para ser um porto “seguro” (um trocadilho com o nome do antigo líder do PS António José Sguro, como gracejou) para atrair jovens. “Aí, vamos ser melhores do que a Califórnia”, garantiu, recuperando uma previsão que tinha feito nos anos 90, num artigo de opinião, com base no mar português (e californiano) e no espírito “jovem” dos dois lugares.