Depois de dois dias seguidos com chegadas ao sprint e numa fase precoce da Vuelta, a classificação podia ainda estar um pouco embrulhada, com falsos candidatos à camisola vermelha a ocuparem os lugares cimeiros da geral. Acontece que não era isso que se verificava. Os favoritos à vitória final reuniam-se todos no topo da classificação com variações ligeiras nos postos devido a imprevistos de alguns corredores. No fim de tudo, João Almeida (UAE Team Emirates), ágil na fuga aos problemas, encontrava-se no décimo lugar a 48 segundos do camisola vermelha Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step).

A sexta etapa terminava no Pico del Buitre, onde, no topo, o Observatório de Astrofísico de Javalambre esperava os ciclistas. Num dia em que a Terra vai poder assistir ao fenómeno da Super Lua Azul, o cimo de uma montanha não deve ser um sítio mau para se estar. Como preço a pagar pela vista privilegiada, o pelotão ia sentir nas pernas o peso de uma subida até ao espaço sideral. Afinal, a contagem de primeira categoria que antecedia a meta tinha uma média de 8% de inclinação, sendo que, em alguns pontos, podia chegar aos 16%. Seriam 11 quilómetros para os ciclistas marcarem diferenças.

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Restava também saber se o vencedor da etapa sairia do grupo dos candidatos ou de uma fuga. Romain Bardet (Team DSM) transformou o azar em sorte, uma vez que, na etapa desta quarta-feira, foi afetado por um furo a cerca de cinco quilómetros do fim, quando os tempos ainda não estavam neutralizados. Os 5.29 minutos que o francês perdeu levaram-no a poder candidatar-se a vencer corridas, sendo certamente a chegada a Javalambre uma possibilidade para atacar o triunfo.

Não se vá dar o caso da Vuelta de decidir por detalhes como aconteceu com o Tour, cada segundo é importante. Remco Evenepoel colocou-se na luta pelo sprint intermédio e ganhou 6 segundos de bonificação. Mais tarde, o segundo classificado da geral, Enric Mas (Movistar), disse que também queria ter entrado nessa luta mas falhou o timing. “Queria entrar no sprint intermédio como o Remco fez, mas fiquei sem tempo. Vi a placa de dois quilómetros e a próxima que vi pensei que fosse a placa de um quilómetro, mas já era a meta do sprint”, comentou o espanhol, colega de equipa de Rúben Guerreiro, português que abandonou a Vuelta.

A ação na etapa seis começou por ter outro português em evidência. Rui Costa (Intermarché-Wanty) tentou integrar um grupo formado por Thomas De Gendt (Lotto) e Diego Andrés Camargo (EF Education), mas as intenções do trio acabaram por não valer de nada. O início da corrida foi um autêntico caos, com grupos demasiado numerosos a tentaram a fuga. Rui Costa estava determinado e voltou a tentar adiantar-se. Assim foi, embora tenha levado consigo muita gente de relevo.

A presença de Marc Soler (UAE Team Emirates) na frente não deixou de causar surpresa uma vez que os líderes da equipa, João Almeida e Juan Ayuso, ficavam desprotegidos no pelotão. A postura ofensiva do espanhol causou ainda mais espanto quando foi anunciado que Jay Vine abandonou a Vuelta, deixando a UAE Team Emirates desfalcada. A Jumbo-Visma não estava muito melhor ao ver Sepp Kuss e mais três elementos a integrar o conjunto de 42 fugitivos com Primoz Roglic e Jonas Vingegaard no grupo principal.

Estavam superadas duas contagens de montanha de terceira categoria e a situação não acalmava na frente, onde alguns ciclistas procuravam reduzir o grupo. Quem comandava a corrida tinha cerca de 7 minutos de vantagem para o pelotão. Lenny Martinez (Groupama-FDJ) integrava os perseguidores e era líder virtual da Volta a Espanha. O francês estava em terceiro na geral, a 17 segundos de Evenepoel, e ameaçava chegar à camisola vermelha.

Além de Soler, Kuss e Rui Costa, Kämna (Bora-Hansgrohe), Landa (Bahrain Victorious), Bardet (Team dsm-firmenich) ou (Bahrain Victorious) eram alguns dos nomes de maior relevo na dianteira. O grupo diminuiu muito ligeiramente, mantendo-se 39 corredores em fuga. O tempo de vantagem para o pelotão diminuiu (cerca de 3.10 minutos a 20 quilómetros do fim) ainda que não o suficiente para que o vencedor da etapa não fosse um dos homens mais adiantados.

Marc Soler conseguiu 6 segundos de bonificação no sprint intermédio. Com o início da subida chegaram os primeiros cortes. Rui Costa foi um dos primeiros a ficar para trás. Quando a inclinação se começou a fazer sentir, as equipas com mais do que um elemento na frente organizaram-se.

Einer Rubio (Movistar) atacou para a vitória. A perseguição ficou a cargo de Romain Bardet, Lenny Martinez e Sepp Kuss na perseguição. Kuss não só alcançou a concorrência, como conseguiu ser o primeiro a cortar a meta. Restava saber se ia vestir a camisola vermelha. Lenny Martínez foi o segundo a chegar e garantiu a liderança da classificação geral. O norte-americano ficou a oito segundos de poder vestir a liderança.

O grupo do camisola vermelha era também ele já muito reduzido. A Soudal Quick-Step tomou a dianteira. João Almeida mantinha por ali com os colegas de equipa Juan Ayuso e Finn Fisher-Black. Com o ataque de Primoz Roglic, Remco Evenepoel ficou para trás. João Almeida integrou um grupo intermédio com Vingegaard, Ayuso e Enric Mas. No final, Vingegaard e Roglic destacaram-se e terminaram lado a lado, naquele que foi um dia em grande para a Jumbo-Visma, apesar dos riscos de lutar pela geral e pela etapa em simultâneo.

João Almeida quebrou face aos rivais, estando agora em 16.º, a 30 segundos de Remco Evenepoel (nono lugar na geral). Apesar de tudo, o belga conseguiu manter-se à frente da concorrência direta. A perda de tempo, levou a maioria dos favoritos a caírem do top 10, ainda que os ciclistas que ocupam os melhores lugares da Vuelta tenham um prazo de validade na estadia no topo. Enric Mas é décimo, Vingegaard 11.º, Roglic 12.º e Ayuso 14.º.