Foi a primeira vez desde 2017, ano do polémico referendo da Catalunha, que o líder do partido Junts per Catalunya, Carles Puigdemont, se encontrou com um membro do governo espanhol. Esta segunda-feira, a fundadora do Sumar e ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, deslocou-se ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, e teve um “encontro frutífero” com o político que está no exílio na Bélgica.

Em comunicado conjunto citado pelo El País, os dois partidos indicaram que o encontro serviu para abrir caminho a uma “relação normalizada e estável entre as duas formações políticas”, manifestando a “profunda convicção de que a política se deve fazer com base no diálogo e nos princípios democráticos”. “A democracia consiste no diálogo entre posições diferentes”, sublinham, para logo concordarem que é necessário “explorar as soluções democráticas do conflito político” que atualmente vigora na Catalunha.

O futuro da Catalunha foi discutido pelos dois líderes partidários — mas também tiveram uma troca de opiniões “sobre o momento político” que Espanha atualmente atravessa, isto é, um cenário de impasse. A formação de um futuro governo de esquerda está dependente do apoio dos sete deputados do Junts per Catalunya.

Para aceitar a formação de um governo liderado por Pedro Sánchez, o Junts per Catalunya exige uma lei de amnistia para todos os responsáveis políticos alvo de processos judiciais abertos na sequência da convocação do referendo ilegal sobre a independência da Catalunha de 2017. Ainda que haja dúvidas sobre a constitucionalidade da medida, o chefe de governo já admite que pode ceder — e quer “virar a página” do que aconteceu há cinco anos.

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Garantindo que a decisão será constitucional, Pedro Sánchez disse, esta segunda-feira, em Madrid, que a próxima legislatura tentará deixar para trás o que aconteceu com o referendo: “Não podemos repetir os erros do passado. É o momento de virar a página, de aprender com os erros e olhar para um futuro de convivência”. “Queremos deixar para trás um passado de trincheiras. Apostamos no diálogo — é a melhor solução para esta crise”, assinalou, assegurando sempre que o seu projeto “defende a Constituição” e baseia-se no “respeito, afetos e na união dos espanhóis”.

O Sumar concorda com a visão do chefe do governo espanhol. O porta-voz da plataforma política salientou, segundo o El Mundo, que é tempo de “abrir uma nova etapa de diálogo”, fazendo-o com “transparência e respeito pela cidadania”.

Ainda assim, apesar da concordância de opiniões, os dois partidos garantem que esta reunião em Bruxelas não foi programada pelos dois — e que Yolanda Díaz não foi desempenhar o papel de correia de transmissão dos socialistas junto a Carles Puigdemont. Fontes do PSOE referiram ao El País que foram “informados à última hora da noite” do encontro. “Não há nenhum acordo. Nós seguimos com a nossa via, isto não tem nada a ver connosco“, enfatizou o partido de Pedro Sánchez, explicando que o seu partido mantém canais de comunicação próprios com o Junts per Catalunya.

Da direita, as reações também não tardaram: o PP considera um “escândalo” este encontro entre Yolanda Díaz e Carles Puigdemont. Na sua conta pessoal do X (antigo Twitter), o líder popular, Alberto Núñez Feijóo, escreveu que o governo se “reuniu com um fugitivo da justiça em Bruxelas”. “Foram negociar uma amnistia contrária à Constituição e referendo de autodeterminação. Os interesses de Pedro Sánchez não podem condicionar mais a política do país”, criticou.

Esta terça-feira, Carles Puigdemont deverá revelar quais são as suas exigências para formar governo — e que linhas vermelhas vai impor para apoiar uma coligação de esquerda.