As restrições à circulação de motas nas principais vias de Luanda vão reduzir os rendimentos dos mototaxistas, que recorrem a esta atividade para sobreviver, mas também reduzir a sinistralidade rodoviária, admitem os utilizadores de triciclos e motociclos.
O popular serviço de mototáxi está presente nos nove municípios da capital angolana, onde milhares de mototaxistas transportam, desde as primeiras horas de cada dia, outros tantos passageiros, dentro ou fora das localidades, e não passam despercebidos nas vias principais ou secundárias.
Ouvidos pela Lusa, os mototaxistas, vulgarmente conhecidos como “kupapatas”, reconheceram os transtornos que causam na mobilidade rodoviária e o envolvimento nos acidentes, muitas vezes mortais, que daí resultam, e consideraram que a medida do Governo Provincial de Luanda (GPL) anunciada na terça-feira abarca vantagens e desvantagens.
A redução da sinistralidade rodoviária é apontada como a principais vantagens, mas para quem tem no serviço de mototáxi o seu “ganha-pão”, receia também ver reduzidos os seus rendimentos já que muitos circulam também nas principais vias da buliçosa capital angolana.
“Uma parte tem vantagem e outra tem desvantagem porque a maioria dos motoqueiros também fazem longo curso, outros saem do Benfica para Cacuaco e vice-versa”, disse à Lusa o mototaxista Rufino Sapalo José, 38 anos, sugerindo que a proibição do GPL é “boa” porque tem havido muitos acidentes.
O conhecido coordenador da paragem dos motoqueiros da conhecida zona dos “Três Prédios”, bairro Capalanga, município de Viana realça, no entanto, o “lado mau” desta medida das autoridades de Luanda.
“Porque esses (mototaxistas) que andam na estrada (principal) é onde tiram o seu pão do dia para levar para os filhos, o que pode dificultar bastante para nós”, lamentou o mototaxista, com 14 anos de estrada, queixando-se também da falta de uma paragem única e da pressão diária dos agentes da polícia.
Na paragem “Três Prédios”, bastante visível para quem circula na Via Expressa, sentido Cacuaco-Viana, encontra-se também o mototaxista Almeida Paiva, 23 anos, que reconheceu o envolvimento de motoqueiros em muitos acidentes nas estradas de Luanda. “Talvez seja por isso que nos vêm proibir”, referiu o mototaxista, em atividade há oito anos, observando, que, por vezes, têm necessidade de usar a estrada principal para se deslocar entre municípios. “E sempre precisamos de circular nas vias principais com as nossas motorizadas”, notou o mototaxista.
O Governo Provincial de Luanda proibiu a circulação de motociclos em algumas das principais vias da capital com o objetivo de melhorar a circulação e diminuir os acidentes, que totalizaram 768 no primeiro semestre do ano.
Os acidentes provocados por ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos resultaram em 134 mortes e 725 feridos, dos quais 368 graves, segundo dados apresentados na terça-feira pelo chefe do Departamento de Trânsito e Segurança Rodoviária da Província de Luanda, superintendente Simão Saulo.
Com um trajeto diário marcado por dificuldades, que vão desde o estado das vias à pressão da fiscalização policial, Celestino António, mototaxista há cinco anos, apontou também vantagens e desvantagens da medida das autoridades de Luanda.
“Sim, na verdade têm sido constantes os acidentes com os motoqueiros, muitos de nós temos sido abalroados pelos camiões e, então, é mesmo difícil e complicado”, disse, argumentando, contudo, que “têm de circular nas vias principais para poder angariar alguns valores”.
A conhecida rua “brasileira”, zona da Caop, também em Viana, um dos mais populosos municípios de Luanda, é tomada diariamente por dezenas de motorizadas, umas de duas rodas e outras de três, que fazem serviço táxi, comandado sobretudo por jovens.
Vendedoras, passageiros, mototaxistas e os respetivos “lotadores” (angariadores de passageiros) ali se cruzam em enchente considerável e num constante vaivém de motociclos.
Gelson Jerónimo Cristóvão, 21 anos, há oito anos na via, aponta a falta de emprego como principal razão para as centenas de jovens que se vão juntando ao serviço de mototáxi, como fonte de sobrevivência, referindo que o dia tem sido de “longa correria e constante batalha”.
“Aqui a polícia nos incomoda mesmo muito, toda a hora só querem dinheiro”, queixou-se o jovem mototaxista, que em declarações à Lusa, a bordo do seu triciclo, reprovou a nova medida das autoridades. “É muito negativa (a medida), porque estamos mal, não temos emprego, estamos mal”, atirou.
A trocar o pneu do seu triciclo, também na rua “brasileira”, encontramos ainda o mototaxista Alexandre João Manuel, 31 anos, que se queixou de trabalharem no local sob “pressão da polícia”, numa paragem que diz ser de “muita confusão”.
Em relação à proibição da circulação nas principais vias da capital angolana, Alexandre, com dez anos de ofício, declarou à Lusa que “a medida até é bem válida, porque há muitos colegas quando estão em andamento não respeitam a sinalização”. “Achamos que é uma boa medida, mas pedimos também ao Governo emprego para a juventude”, rematou.