O resultado e a incapacidade de reação sobretudo depois do segundo golo da Albânia já tinham deixado um ambiente mais pesado na seleção polaca, a conferência após o terceiro desaire em cinco jogos de qualificação para o Campeonato da Europa adensou ainda mais esse cenário. No entanto, e apesar da “pressão” que foi sofrendo nas perguntas dos jornalistas, Fernando Santos manteve sempre a mesma resposta: “Não, não me demito. Não, não vou colocar o lugar à disposição”. O técnico que foi campeão europeu e vencedor da Liga das Nações por Portugal manteve qualquer decisão do lado da Federação mas a corda partiu mesmo.

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“Não vou demitir-me, nem hoje nem amanhã. Se acho que vou continuar como selecionador? Isso tem de perguntar ao presidente. Se ele entender que não me quer como treinador, fala comigo e havemos de encontrar uma solução. Eu serei sempre uma solução. Percebo muito bem a insatisfação dos adeptos. Eu também estou assim, os jogadores estão muito tristes nos balneário porque queriam dar uma alegria. Mas isto não funciona assim. Temos muito respeito e queríamos ter vencido. Além disso, há a possibilidade de a Polónia chegar pelo playoff. Como é que se apurou para o Mundial? A Itália não esteve no Campeonato do Mundo e é o terceiro classificado do ranking. Com esta conversa não vamos a lado nenhum”, atirou o treinador da Polónia, numa conferência após a derrota na Albânia ainda mais tensa do que as últimas.

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“Estamos a desenvolver-nos. Eu tenho dez treinos, dez! Estamos a fazer uma transição. Havia uma equipa na seleção e agora vai ter de haver outra. O futuro passa por outra equipa. Estamos a tentar fazer essa transição que tem de ser feita. Gostávamos de o fazer a ganhar mas temos de deixar de ser uma equipa com determinada ideia de jogo para aproveitar as características destes jogadores. Será com estes que a Polónia terá de crescer. É isso que estamos a tentar fazer nos poucos treinos que temos. Se olharmos só para o resultado, não vamos ver nada”, acrescentou, antes de voltar a recusar a ideia de demissão perante mais uma questão que apontava para os adversários no grupo e a atual classificação. “Mas o que é que você quer? Quer que eu peça a demissão? Não peço, já disse”, voltou a adiantar na parte final do rescaldo desse desaire.

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Ainda assim, parecia haver sinais mais do que evidentes de que as coisas poderiam não ser assim tão fáceis de digerir, sendo que as próprias declarações do capitão de equipa, Robert Lewandowski, adensaram esse cenário de rutura. “Sinto-me impotente, não consigo explicar os motivos para a derrota e para a exibição que fizemos em Tirana. Tivemos problemas desde o início da fase de qualificação, não sei o que se passa. Sei que temos potencial para jogar muito melhor e para ganhar”, destacou à televisão estatal polaca.

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Esta segunda-feira, a imprensa polaca avançava com a alegada decisão já tomada de que a Federação decidiu dispensar o treinador português menos de nove meses depois de ter sido apresentado, tendo feito apenas seis encontros pela seleção: duas vitórias (Albânia e Ilhas Faroé) e três derrotas (Rep. Checa, Moldávia e Albânia) na fase de apuramento para o Europeu de 2024 e mais um triunfo num particular com a Alemanha. “Vamos reunir amanhã [segunda-feira]. Aguardo uma análise exaustiva por parte do treinador, depois falaremos sobre o que aconteceu em Tirana e quais os próximos passos”, tinha referido ainda este domingo o presidente da Federação Polaca de Futebol, Cezary Kulesza, em declarações ao jornal Przeglad Sportowy. Agora, os meios locais avançaram com mais pormenores, nomeadamente que os advogados do treinador já teriam chegado a acordo com a Federação para a revogação do contrato assinado no início do ano.

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“Apesar de estarmos a terminar a nossa cooperação, estou grato por ter liderado a seleção polaca e desejo tudo de melhor à Polónia e ao seu povo, que tão bem me acolheram quando aqui vivi”, comentou Fernando Santos após a confirmação da saída, na tarde desta quarta-feira. “A escolha de um novo treinador é agora uma prioridade da direção da Federação, pelo que anunciaremos em breve quando terá lugar a apresentação do novo selecionador”, acrescentou ainda o líder da Federação polaca, Cezary Kulesz.

Notícia atualizada às 16h30 com a confirmação oficial da saída de Fernando Santos