A entrada de um investidor novo no capital social da Sporting SAD é há muito uma questão falada e badalada nos bastidores do universo verde e branco. Aliás, a partir daí nasceram teorias de todos os tipos, desde a vontade de começar numa venda minoritária que pudesse depois levar a uma alienação da maioria até a uma ainda mais remota possibilidade de ceder uma maioria através de movimentos que conseguissem “disfarçar” a verdadeira essência do negócio. A recompra dos VMOC ao Millennium BCP em vésperas de eleições no ano passado (a situação com o Novo Banco ainda não teve avanços públicos) veio diluir todas essas conjeturas – a partir daí, deixava de haver o risco de o clube não depender de si para ficar com a maioria quando os VMOC fossem convertidos em ações, em 2026. No entanto, houve algo que se manteve no mesmo plano.
Após a entrada da Holdimo na estrutura societária da SAD leonina, no final de 2014 (hoje a participação está reduzida a menos de 15%, fruto do aumento de capital após a conversão dos VMOC em ações ordinárias), foram surgindo algumas abordagens de investidores estrangeiros no sentido de perceber a possibilidade de comprar parte das ações verde e brancas. Não passaram disso, de abordagens, mas deixaram uma ideia para o médio prazo: quando a opção passasse por ceder parte do capital social, haveria interessados nessa opção. E é neste ponto que se encontra nesta altura essa hipótese (que poderá ou não ser uma hipótese), com essa nuance de nesta fase o Sporting Clube de Portugal deter mais de 83% da SAD – ou seja, caso assim pretenda, tem margem para alienar uma parte do capital social sem colocar em risco a detenção da maioria.
Esta sexta-feira, o The Telegraph fala dessa vontade dos dois principais rostos do consórcio que comprou o Chelsea a Roman Abramovich, Behdad Eghbali e Todd Boehly, estarem interessados em garantir uma posição na Sporting SAD. “O consórcio pode ainda comprar uma fatia do Sporting, um dos três grandes clubes de Portugal. Além disso, têm uma grande decisão para tomar em relação a Stamford Bridge e uma possível alternativa ao estádio. Tudo isto chega depois de já terem começado a executar uma estratégia na janela de transferências nos dois últimos mercados diferente do que era feito anteriormente”, refere o jornal inglês no arranque de um extenso trabalho sobre o projeto que os empresários têm para o futuro dos blues.
“Existe a perceção de que o consórcio de Eghbali e Boehly se mexe tão depressa que outras grandes decisões podem estar ao virar da equina. Eles têm sérios planos para comprarem uma parte minoritária do Sporting depois de terem adquirido uma maioria do Estrasburgo por 65 milhões de libras (cerca de 75,7 milhões de euros) para ser o destino de jogadores jovens em desenvolvimento. O modelo de deter vários clubes é hoje uma base das maiores potências do futebol europeu mas para o Sporting ser um parceiro júnior é um grande salto. Já foram 19 vezes campeões nacionais e têm na história uma vitória na Taça dos Vencedores das Taças. Existe uma aceitação interna que, para o acordo com o Sporting poder ser uma realidade, terá de ser tratado com uma sensibilidade muito maior do que a aquisição habitual de um clube mais pequeno e que esteja desesperado por investimento”, acrescenta ainda o The Telegraph a esse propósito.
A ideia, assim, passava por replicar um sistema idêntico ao que o grupo que detém o Manchester City, campeão inglês e europeu, conseguiu construir, não só com os citizens na Premier mas com outras equipas como o New York City (EUA), Bahia (Brasil) ou Melbourne City (Austrália), além de uma parte do Girona.
Contactada pelo Observador, fonte do Sporting colocou uma outra (ou única) prioridade nesta fase. “O foco do Sporting é fechar a reestruturação financeira. Não é o momento para se pensar em vendas de capital”, garantiu fonte dos verde e brancos, apontando para o trabalho que tem vindo a ser feito nos últimos anos em fases e objetivos distintos e que continua em desenvolvimento desde 2018. “É óbvio que apresentámos resultados históricos. Desde 2010 que pairava uma nuvem cinzenta de uma possível perda [da maioria] da SAD, em que o clube teria de entregá-la aos bancos em 2026. Propusemos evitar isso desde 2018 e fizemo-lo antes do tempo. É uma grande vitória e a principal razão para este resultado”, disse Frederico Varandas na Assembleia Geral do clube para aprovação do Relatório e Contas de 2021/22, em outubro.
Antes, e como contexto para esta possibilidade, existiam três pontos a ter em conta: 1) alguns emissários em representação do Chelsea estiveram em Portugal a estudar a hipótese de comprar um clube que fosse de uma menor dimensão estando na Primeira Liga, sinal de que o mercado nacional é um dos alvos dos londrinos; 2) os ingleses ficaram este verão com o direito de preferência numa futura venda do lateral Iván Fresneda; 3) Frederico Varandas esteve em Stamford Bridge no final de abril para assistir ao vivo à segunda mão da Liga dos Campeões entre os blues e o Real Madrid, sendo que nessa altura algumas publicações falaram num convite para conversar sobre possíveis aspetos de mercado (a situação de Ugarte, que chegou a ter mais do que um pé no Chelsea no verão, ainda não estava resolvida) e outras já tinham deixado no ar a possibilidade de explorar uma possível compra de uma participação minoritária da sociedade leonina. O Observador sabe que o único assunto em cima da mesa nesse encontro foi mesmo a venda do médio uruguaio.
Se esse rumor já circula há muito nos bastidores de Alvalade sem qualquer confirmação ou sequer palavra sobre o tema, existe um outro cenário também comentado mas que nunca teve qualquer base pública que tem a ver com a possibilidade de Cristiano Ronaldo, jogador formado no clube que dá nome à Academia em Alcochete e é agora “protagonista” da camisola alternativa do Sporting para 2023/24 que todos os dias vai continuando a bater recordes de vendas, entrar na estrutura acionista dos leões. Alguns antigos dirigentes já demonstraram até essa “vontade” há alguns meses, quando o avançado do Al Nassr disse na apresentação de um dos recentes investimentos (uma marca de água) que “gostaria de ser dono de um clube”, mas a ideia só se tornou tema depois das palavras do capitão da Seleção à margem dessa cerimónia em Madrid. Ou seja, e apesar de toda essa especulação, não existe nem nunca houve nada em concreto sobre esse tema.