O que há poucos dias parecia impossível tornou-se uma realidade confirmada: Montse Tomé, a nova selecionadora da equipa feminina de Espanha, convocou 15 campeãs mundiais e outras duas jogadoras que tinham renunciado para os próximos dois jogos. “Tenho plena confiança de que vou contar com estas jogadoras. O contador está a zero a partir de hoje, não há nada para trás”, atirou a treinadora durante a conferência de imprensa.
Para além das 15 jogadoras que conquistaram o Mundial — onde só uma não tinha renunciado, Athenea del Castillo –, Montse Tomé também chamou Mapi León e Patricia Guijarro, dupla do Barcelona que já tinha recusado disputar o Campeonato do Mundo na sequência do desentendimento com o selecionador Jorge Vilda há um ano. Mas Jenni Hermoso, avançada que esteve no centro da polémica devido ao beijo de Luis Rubiales, não foi chamada.
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“Estamos com a Jenni em tudo e com todas as jogadoras. A melhor forma de as ajudar é estar com elas e escutá-las. A melhor maneira de a proteger é assim. Já trabalho com ela há muito tempo”, justificou a treinadora. “Estamos a passar por mudanças na estrutura da Federação e tenho a máxima confiança para fazer bem as coisas, tenho a máxima confiança nas minhas jogadoras e no clima de segurança e confiança que temos. Trabalho com elas há cinco anos, ainda que noutro papel, e sempre senti que tinham confiança em mim”, atirou Tomé, que até aqui era adjunta de Jorge Vilda.
A nova convocatória da seleção feminina de Espanha estava marcada para a passada sexta-feira, dia 15 de setembro. Montse Tomé, a substituta de Jorge Vilda, iria alegadamente anunciar uma lista que não poderia contar com as 39 jogadoras que renunciaram: 21 das 23 campeãs mundiais, as 12 que se afastaram há um ano e seis que estavam na pré-lista para o Mundial. E as mesmas 39 jogadoras conseguiram congelar, adiar e hipotecar a nova convocatória com um único comunicado.
Também na sexta-feira, com a assinatura de todas aquelas que não pretendiam ser convocadas até que as suas exigências sejam atendidas, foi divulgada uma nota de pouco mais de uma página onde as jogadoras deixam bem claro o que pretendem: a reestruturação do organograma do futebol feminino dentro da RFEF, a reestruturação do gabinete da presidência e da secretaria-geral da RFEF, a demissão do presidente da RFEF, a reestruturação da área de comunicação e marketing e a reestruturação da direção de integridade. O comunicado caiu, a conferência de imprensa de Montse Tomé foi adiada e acabou por ser cancelada, com o anúncio da convocatória a ser agendado para esta segunda-feira.
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“Ao dia de hoje e tal como temos transmitido à RFEF, as mudanças que têm acontecido não são suficientes para que as jogadoras se sintam num lugar seguro, onde se respeitem as mulheres, se aposte no futebol feminino e onde possamos dar o nosso rendimento máximo”, podia ler-se no penúltimo parágrafo da nota que, das 23 campeãs mundiais, só não conta com a assinatura de Athenea del Castillo e Claudia Zornoza, sendo que esta última tem 32 anos e acabou por clarificar que a decisão é definitiva e não voltará à seleção independentemente do futuro da RFEF.
De acordo com o El País e depois da divulgação do comunicado, a RFEF fez um ultimato às jogadoras e pediu que dessem uma resposta final até ao final do fim semana — através da intervenção de Loli Martínez Madrona, árbitra e delegada de Proteção contra a Violência Sexual dentro do organismo que é agora a nova interlocutora entre a Federação e as atletas. À meia-noite de domingo, porém, o silêncio mantinha-se. As conversações continuaram durante a manhã desta segunda-feira, já com a RFEF a avançar as decisões tomadas sobre todos os departamentos envolvidos na gestão do caso Rubiales/Hermoso, e as jogadoras aceitaram. Só fizeram um pedido adicional: tudo teria de estar por escrito.
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O pedido foi satisfeito esta segunda-feira e cerca de hora e meia antes da conferência de imprensa onde Montse Tomé acabou por anunciar a convocatória que vai disputar os próximos dois jogos, a contar para a Liga das Nações, contra a Suécia e a Suíça. Num curto comunicado, a RFEF compromete-se com a “necessidade de realizar mudanças estruturais” e o esclarecimento de “cada um dos comportamentos e condutas que poderão ter acontecido” para apurar as “responsabilidades pertinentes”.
“A RFEF quer transmitir às internacionais da seleção o compromisso público adquirido pela nova direção da instituição que dirige o futebol em Espanha. O objetivo é expressar com clareza, e sem interpretações internas ou externas, os eixos estratégicos nesta nova etapa da Federação que tanto o futebol como a sociedade exigem […] É evidente que a Federação, a sociedade e as próprias jogadoras estão alinhadas num mesmo objetivo: a renovação e o início de uma nova etapa onde o futebol seja o grande beneficiado por todo este processo. Por isso, pedimos às jogadoras que se juntem a esta mudança liderada pela Federação, entendendo que as transformações devem continuar a ser sólidas e justas”, pode ler-se.
Foi neste contexto que, a meio da tarde desta segunda-feira e na primeira declaração pública enquanto selecionadora de Espanha, Montse Tomé anunciou o que todos os espanhóis queriam ouvir: uma convocatória que inclui 15 campeãs do mundo e outras duas jogadoras que também tinham renunciado.