A indústria portuguesa de componentes para calçado, que de esta terça-feira até quinta-feira está representada com 37 empresas na feira Lineapelle, em Milão, foi um dos grandes motores das exportações da fileira do calçado até junho, ao vender mais 18,8%.
Segundo dados avançados pela Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), globalmente, a fileira do calçado registou no primeiro semestre deste ano um crescimento homólogo das exportações de 3,5%, para 1.153 milhões de euros.
Esta evolução foi sobretudo impulsionada pelo bom desempenho do setor de componentes para calçado, que cresceu 18,8%, para 39 milhões de euros, e do setor de artigos de pele, que continuou a registar máximos, progredindo 18,2% até junho, para 150 milhões de euros.
Em declarações aos jornalistas durante uma visita às empresas portuguesas presentes na Lineapelle, em Itália, o diretor de comunicação da APICCAPS considerou que o comportamento positivo dos componentes, que estão na base da fileira, é “um bom presságio” para o desempenho do setor do calçado no resto do ano, ainda que as expectativas sejam que 2023 continue a ser “particularmente difícil“.
O bom desempenho do setor de componentes é um bom presságio. Estamos a falar de um setor que cresceu, grosso modo, 20% no primeiro semestre, que tem vindo a conquistar e a descobrir novos mercados e que vai ao encontro da estratégia do setor: Se queremos produtos cada vez mais inovadores e cada vez mais soluções que vão ao encontro dos desejos dos consumidores, o setor dos componentes está nessa linha da frente”, sustentou Paulo Gonçalves.
Salientando que a fileira do calçado em Portugal “quer ser líder no desenvolvimento de soluções sustentáveis”, estando para isso a fazer, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), um investimento na ordem dos 140 milhões de euros, o responsável apontou as empresas de componentes como “absolutamente decisivas para esse esforço“.
A inovação do setor do calçado começa precisamente no setor de componentes, num conjunto de novas soluções técnicas, algumas também tecnológicas, que permitam que o consumidor se sinta atraído pela excelência do calçado português”, afirmou.
Nesse sentido, enfatizou Paulo Gonçalves, o setor tem vindo a manter “uma atividade promocional muito extensa”, apresentando nesta edição da Lineapelle toda uma “nova geração de produtos, desde solas mais leves a uma nova geração de peles e, fundamentalmente, muitos biomateriais, como casca de maça e casca de laranja”.
Por natureza com uma componente exportadora inferior à do calçado, já que abastecem grande parte da indústria portuguesa do setor, os componentes têm, contudo, vindo a crescer sustentadamente nos mercados internacionais ao longo dos últimos anos.
“É um bom sinal“, considera o diretor de comunicação da APICCAPS, segundo o qual “uma das particularidades da indústria portuguesa de calçado é a que assenta na disponibilidade e inexistência de um cluster muito estruturado” no país.
Num raio de 50 quilómetros da cidade do Porto temos empresas de calçado, de artigos de pele e de componentes que nos permitem oferecer uma solução integrada ao mercado e o setor de componentes tem sido absolutamente decisivo nesta estratégia, porque está na linha da frente da inovação”, afirmou.
“Seguramente algumas das empresas mais modernas do mundo do ponto de vista tecnológico e do desenvolvimento de novos produtos estão sediadas em Portugal e o setor dos componentes é absolutamente decisivo para a nossa estratégia de afirmação do calçado português nos mercados externos”, acrescentou.
Embora reconhecendo que “2023, até ao fim, vai ser um ano particularmente difícil”, Paulo Gonçalves assume a expectativa que 2024 “seja, de novo, um ano de afirmação do calçado português nos mercados internacionais“.
Em 2022 o setor registou um crescimento das exportações superior a 20%, para um novo máximo histórico de 2.009 milhões de euros.