Há quem compare a história do Union Berlim à que acabou com o Leicester campeão inglês. Desde a subida à Bundesliga, em 2019, que o clube do lado oriental da capital alemã não tem parado de crescer. A próxima estação da viagem até ao topo era num santuário do futebol europeu que foi recentemente reinaugurado com uma cara que o torna único na Europa. O Santiago Bernabéu recebia a estreia do Union Berlin na Liga dos Campeões contra o Real, a equipa que mais vezes venceu a competição (14, o dobro do AC Milan).

A ascensão não se deu sem algumas dores. O Estádio An der Alten Försterei, remodelado em 2009 por mais de 2.300 adeptos do clube, tem a capacidade limitada a 22.000 espetadores, o que levou a direção do clube a tomar a decisão de disputar os jogos em casa no Estádio Olímpico de Berlim, casa do rival Hertha.

A assistir ao primeiro jogo de sempre do Union Berlim na Liga dos Campeões, 3.840 adeptos de origens trabalhadoras, maioritariamente ligadas à indústria metalúrgica, deslocaram-se a Espanha para assistirem ao encontro frente ao Real Madrid referente à primeira jornada do grupo C, o mesmo do Sp. Braga. Os alemães, treinados pelo suíço Urs Fischer pela sexta temporada consecutiva, reforçaram-se com nomes de peso. Além de Diogo Leite ter assinado em definitivo com o Union Berlim, clube onde tinha estado ao longo da temporada passada por empréstimo do FC Porto, os quartos classificados  do campeonato alemão em 2022/23 juntaram ao plantel os defesas Leonardo Bonucci e Robin Gosens, o médio Alex Král, o criativo Brenden Aaronson, o vertiginoso Datro Fofana e o goleador Kevin Volland.

Do lado do Real Madrid, o maior do início de época destaque está a ser o jogador do ano da Bundesliga na temporada passada. Jude Bellingham chegou aos merengues proveniente do B. Dortmund e marcou cinco golos nos cinco primeiros jogos com a camisola dos blancos, que lideram a La Liga ainda sem ainda terem perdido qualquer ponto.

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Apesar dos 14 troféus, Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid, não considera que a sua equipa seja favorita a vencer de novo. “O Manchester City é favorito, porque tem um plantel que permitiu vencer no ano passado e não mudou muito. Na Liga dos Campeões, como sempre, na fase final há surpresas. Vejo o Real Madrid como uma equipa que vai competir até o fim”.

Estava a ser difícil para um Real Madrid sem Vinícius (lesionado) meter o Union a bailar. A equipa de Berlim mostrou-se confortável no 5x4x1 que usou para defender. Leonardo Bonucci, que está em guerra aberta com o clube de onde saiu, a Juventus, fez parte das escolhas inicias de Urs Fischer e fez a estreia com a camisola dos alemães, comandando o setor defensivo. O 4x4x2 losango dos madrilenos colocava muita gente no corredor central, não existindo desenvoltura para procurar os flanqueadores. Sempre que o fizeram, os blancos conseguiram causar perigo através de situações de cruzamento. Joselu foi o jogador de referência no coração da área para tentar finalizar no jogo aéreo e não ficou longe de o conseguir dentro dos dez minutos iniciais, cabeceando nas costas do central Danilho Doekhi.

O Union procurava desmembrar-se em 3x4x3 quando tinha a posse de bola, através dos movimentos centro/esquerda de Laïdouni. No entanto, faltou discernimento para os homens mais adiantados segurarem a bola de costas para a baliza. Ainda assim, nas poucas chegadas à área dos espanhóis que serviram para mostrar que Kepa não é um guarda-redes em que se confie para segurar um telemóvel, Kevin Behrens conseguiu espaço para arriscar a concretização sem grande perigo e sem beliscar o domínio merengue que, ainda assim, estava carente se acutilância.

Além de Vinícius, Carlo Ancelotti estava também privado de Militão, Carvajal e Courtois. De qualquer forma, existia a possibilidade do treinador italiano lançar Toni Kroos a partir banco, mas optou por não fazer qualquer mexida ao intervalo. Lucas Vázquez, que teve dificuldades em se impor no primeiro tempo, desbloqueou um lance pela direita que proporcionou uma dupla oportunidade a Rodrygo. Numa circunstância inicial, o guarda-redes Frederik Ronnow defendeu e, depois, o poste impediu que o marcador funcionasse.

Um Real Madrid com mais velocidade na circulação fez com que, em dez minutos, a baliza do Union Berlim se sentisse mais ameaçada do que em toda a primeira parte. Apesar dos adeptos do conjunto da Bundesliga terem a fama de serem os homens de ferro, os jogadores merengues é que começaram a criar uma relação muito íntima com os postes já que Joselu cabeceou para Frederik Ronnow defender para o limite da baliza. Entretanto, Ancelotti lançou Toni Kroos e Fede Valverde, bem como lateral Fran García. O Union respondeu fazendo entrar Aaronson e Volland.

O aperto dos blancos começava-se a sentir, mas, à vez, os centrais iam resolvendo as questões de maior aperto. Quando não eram os defesas, era o guarda-redes que impedia o golo. Frederik Ronnow voltou a estar a bom nível perante o remate de fora de área de Modric. O muro de Berlim estava inquebrável e o Real Madrid precisou de um lance, literalmente às três pancadas, para marcar. O que sobrou do remate de Fede Valverde acabou nos pés de Jude Bellingham (90+4′) que deu a vitória o Real Madrid no último minuto.

Acabou de maneira inglória a estreia do Union Berlim na Liga dos Campeões. Na próxima jornada, na receção ao Sp. Braga, a equipa alemã tem nova oportunidade para conquistar os primeiros pontos na mais importante competição. Para já, ficam com a certeza que têm condições de serem competitivos.